Pedido de recuperação judicial da Oi vai prejudicar resultados de bancos

Aline Bronzatti, Cynthia Decloedt, Mônica Scaramuzzo, Mariana Sallowicz e Altamiro Júnior

22/06/2016

 

 

Impacto no balanço. Do débito total de R$ 65,4 bilhões, R$ 50 bilhões referem-se a dívidas financeiras, o que atinge gestores, bancos e detentores de títulos; segundo analistas, instituições devem elevar ainda mais as despesas com provisões para devedores duvidosos

A crise na operadora Oi, que entrou com pedido de recuperação judicial na segunda-feira no Brasil e ontem nos Estados Unidos, afetará as grandes instituições financeiras, que incluem bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa e BNDES) e privados, além de gestores, apontados como os maiores credores em lista fornecida pela tele à Justiça. O pedido de proteção terá impacto praticamente imediato no balanço dos grandes bancos brasileiros, que deverão elevar as despesas com provisões para devedores duvidosos.

No pedido de recuperação feito, a Oi indicou débitos totais de R$ 65,4 bilhões. Desse total, R$ 50 bilhões referem-se a dividas financeiras, o que atinge os bancos, gestores e debenturistas (detentores de títulos). O restante trata-se de contingenciamentos - somente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Oi deve R$ 10,07 bilhões e, débito aos fornecedores, mais R$ 1,5 bilhão.

Ontem, após forte oscilação na Bolsa, as ações ordinárias da tele recuaram 8,73% e, as preferenciais, 18,18%. Os papéis dos bancos também foram afetados. O Banco do Brasil é a instituição pública mais exposta e deverá ser a mais afetada, uma vez que possui débitos de R$ 4,4 bilhões. O BNDES, único com garantia real, tem exposição de R$ 3,3 bilhões. Já a Caixa tem R$ 1,96 bilhão pendurado (o banco teria retificado o valor para R$ 1,8 bilhão). Os papéis do BB fecharam com a maior queda do IBovespa, de 4,46%.

Entre os bancos privados estão o Itaú, com R$ 1,5 bilhão, e o BNP Paribas, com R$ 1,1 bilhão. Os papéis preferenciais do Itaú Unibanco e Itaúsa tiveram baixa de 0,03% e 0,96%, respectivamente. Já as ações do Bradesco fecharam em alta de 1,18% (PN) e 1,12% (ON). Santander Unit avançou 0,34%, após forte oscilação. Fontes ligadas ao Itaú e Bradesco afirmaram ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que já teriam provisionado esses valores.

 

Contaminação. Em relatório, analistas do Credit Suisse disseram que a crise da Oi trará implicações “muito negativas” para os bancos e também abrirá “precedente perigoso” para o setor corporativo. “Aumenta a probabilidade de que outras grandes empresas brasileiras altamente endividadas possam seguir o mesmo exemplo”, avaliaram Marcelo Telles, Lucas Lopes, Alonso Garcia e Victor Schabbel, que assim relatório.

Eles citam o caso da Sete Brasil, empresa criada para fornecer sondas para a Petrobrás, quando os bancos foram modestos em termos de provisões. Por isso, segundo eles, há “fortes razões” para acreditar que o colchão feito para possíveis perdas com a operadora de telefonia Oi também seja pequeno, de 10% no máximo.

Geralmente, os bancos provisionam 30% dos créditos de empresas que entram com pedido de recuperação judicial, segundo analistas do mercado. Cada instituição tem sua política de provisionamento específica.

A Oi está aguardando a aprovação do pedido de recuperação judicial, que terá de ser aprovado pelo juiz do Tribunal do Rio de Janeiro, para dar prosseguimento às reestruturações financeiras. “A companhia entrou com pedido de proteção antes de declarar default (calote), o que é positivo”, disse uma fonte próxima à companhia. A Oi não comenta o assunto.

Segundo uma fonte do governo, o pedido de recuperação judicial poderá dar fôlego ao caixa da operadora, que estava queimando cerca de R$ 7 bilhões em caixa somente para pagar os juros das dívidas.

Procurados, o BB e Itaú não comentaram. Bradesco, BNP Paribas, Santander e Caixa não retornaram os pedidos de entrevista. Em nota, o BNDES afirmou que “o provisionamento segue as normas internas, observando as normas determinadas pelo Banco Central”.

Interesse. Em entrevista à Bloomberg, o bilionário egípcio Naguib Sawiris, acionista da Orascom Telecom, reiterou interesse na Oi. A informação já tinha sido antecipada na coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy.

Para ele, a “Oi precisa de um acionista com sólida experiência em telecomunicações para resolver os seus problemas operacionais e suas dívidas financeiras”. O egípcio considerou se unir ao bilionário russo, Mikhai lFridman, que negociava entrar na Oi, mas desistiu em fevereiro.

Reação na bolsa

18,18% foi quanto caíram as ações preferenciais da Oi na bolsa ontem.

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Lista de credores alcança 400 páginas e inclui pessoas físicas

 

Donos de títulos detêm R$ 34 bi de um passivo de R$ 61 bi; clientes que processaram a Oi são listados como credores

Os credores sem garantia real (quirografários) são os que têm a maior quantia a receber da Oi, um total de R$ 61,2 bilhões. Há nessa relação, por exemplo, bancos e detentores de títulos. A dívida total que consta no plano é de R$ 65,4 bilhões. O Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, obteve a lista de credores da operadora apresentada na Justiça.

A relação, com quase 400 páginas, traz ainda o detalhamento de quanto dessa parcela está em moeda estrangeira. Dentro dos R$ 61,2 bilhões, são US$ 5 bilhões e ¤ 4,56 bilhões.

Somente os detentores de títulos somam quase R$ 34 bilhões. Desse total, são representados pelo Citicorp Trustee Company, que são credores com valores que somam R$ 15,7 bilhões, e pelo The Bank of New York Mellon, outros R$ 18,16 bilhões. Fontes afirmam que eles detêm debêntures.

Os demais credores são microempresas e empresas de pequeno porte (R$ 158,2 milhões), trabalhadores (R$ 668 milhões) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), único da lista que possui garantia real. O banco de fomento possui crédito de R$ 3,34 bilhões.

Há um grande número de pessoas físicas listadas no documento dentro da parte de credores sem garantia real, sendo que parte delas são pessoas que entraram com ações na Justiça contra a operadora, apurou o Broadcast.

Na lista, aparecem ainda grandes empresas e fornecedores, como a Alcatel Lucent Brasil (R$ 30,9 milhões), Nokia Siemens (R$ 26,8 milhões), a Nokia Solutions (R$ 102,2 milhões) e IBM Brasil (R$ 31,2 milhões). Há ainda comércios, como as Lojas Americanas (R$ 181,4 mil).

Com o poder público, a Oi deve, por exemplo, para o governo do Rio de Janeiro R$ 5.772. A KPMG Auditores Independentes tem crédito de R$ 145.257.

Os valores a receber também variam significativamente. Há quem tenha crédito de centavos, enquanto outros de bilhões. Caso o plano de recuperação judicial seja aceito pela Justiça, os credores poderão questionar os valores fornecidos pela Oi. A companhia é assessora pelos escritórios BMA - Barbosa, Müssnich, Aragão, Penalva Santos e Basilio Advogados.

Portugal. O órgão regulador do mercado de capitais de Portugal decidiu suspender ontem a negociação de ações da maior acionista da Oi, a Pharol, e da subsidiária da companhia, a Portugal Telecom Internacional Finance. A ação ocorre após pedido de recuperação judicial da tele anteontem.

O Conselho de Administração da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) informou que a suspensão ocorrerá até a divulgação de informação relevante relativa ao pedido de recuperação das empresas Oi. A Pharol (antiga PT SGPS) e reúne os sócios portugueses e são os maiores acionistas em bloco da Oi. 

Garantia real

BNDES é único da lista de credores da Oi que tem garantias reais em seus empréstimos. O banco de tem um crédito de R$ 3,34 bilhões a receber da Oi, de acordo com lista entregue à Justiça.

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Fornecedores da Oi já temem atraso nos pagamentos

Os problemas financeiros da Oi representam uma ameaça para a cadeia do setor, formada por empresas de pequeno, médio e grande portes cujos negócios estão concentrados nas maiores operadoras nacionais. Do total da dívida de R$ 65,4 bilhões, R$ 1,5 bilhão são pagamentos relativos a fornecedores, segundo fontes. A situação da Oi não é de atrasos generalizados nos pagamentos, mas já há casos pontuais que despertam preocupação. Entre os principais fornecedores das grandes operadoras estão as empresas de manutenção de torres, antenas e cabos.