Lava Jato quer delações por concessões de aeroportos

Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo

219/06/2016

 

 

Colaboração premiada. Procuradoria da República cobra de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro informações sobre os negócios assinados durante o governo Dilma Rousseff

A Procuradoria da República cobra de Marcelo Bahia Odebrecht e José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, da OAS, informações sobre contratos de concessões de aeroportos e obras de infraestrutura nos terminais que foram aceleradas para a Copa de 2014 e para a Olimpíada deste ano. A força-tarefa da Lava Jato elegeu estes como temas de interesse para negociação nas delações já iniciadas pelos empreiteiros.

Para vencer os leilões de exploração, as empreiteiras formaram concessionárias e contaram com aportes financeiros dos fundos de pensão e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os investigadores da Lava Jato já encontraram indícios de que houve corrupção no processo de concessão de aeroportos realizadas em 2011, 2012 e 2013, no governo Dilma Rousseff. A força-tarefa acredita que Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro podem fornecer detalhes desses negócios - que somaram, ao todo, R$ 45 bilhões.

As tratativas formais entre defesas dos empreiteiros e a Lava Jato foram assinadas nos últimos meses com a Procuradoria-Geral da República, que busca especialmente provas de corrupção e lavagem de dinheiro de políticos e outras autoridades detentoras de foro privilegiado. Mas o fechamento do acordo, que deve vir em paralelo com a leniência, envolve a equipe de procuradores e delegados da força-tarefa, em Curitiba - origem das investigações do escândalo na Petrobrás. Os procuradores consideram como praticamente encerrada a devassa nos contratos da estatal petrolífera e querem expandir o foco das investigações para outros setores.

Concessionárias. Odebrecht e OAS foram vencedoras de contratos de concessões nos dois principais pacotes de leilões do governo Dilma, em 2012 e 2013, passando a administrar os aeroportos de maior valor. O Grupo OAS passou a integrar a concessionária que administra Cumbica, em Guarulhos (SP) - a GRU Airport, por meio da Invepar, em um negócio de R$ 16 bilhões. A Odebrecht, associada a parceiros internacionais, venceu a concessão do Galeão, no Rio, no valor de R$ 19 bilhões.

Outra empreiteira flagrada pela Lava Jato atuando em cartel nos contratos da Petrobrás integra concessionária de aeroporto. A UTC, do delator Ricardo Pessoa, participa da administração de Viracopos, em Campinas (SP), que rendeu R$ 3,8 bilhões ao governo. A Engevix participava da concessão do aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília - um negócio de R$ 4,5 bilhões -, mas vendeu sua parte.

O setor aeroportuário foi comandado no governo Dilma por Moreira Franco, agora um dos principais auxiliares do presidente em exercício Michel Temer (PMDB). Moreira Franco é secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que pretende tocar as concessões no governo interino. Ele foi nomeado por Dilma ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC) em 2013.

As suspeitas envolvendo corrupção  nesses contratos surgiram já no início das investigações da Lava Jato. “O que acontece na Petrobrás acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas”, afirmou em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro o primeiro delator da operação, o ex-diretor de Abastecimento da estatal petrolífera Paulo Roberto Costa, em outubro de 2014.

Em abril deste ano, a Lava Jato fez buscas na sede da GRU Airport e conduziu executivos coercitivamente para depor.

Eles foram alvo da fase Vitória de Pirro que prendeu o ex-senador Gim Argello.

Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro já foram condenados na primeira instância em processos relativos ao esquema de corrupção na Petrobrás.

O empreiteiro da Odebrecht – que hoje completa exatamente um ano de prisão provisória– foi sentenciado no último mês a 19 anos de reclusão. O sócio da OAS foi condenado a 16 anos de prisão em agosto de 2015, mas o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região vai votar ainda se aumenta a pena em mais 10 anos.

As condenações são por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e participação em organização

criminosa.

‘Saudável’. Procuradas por meio de suas assessorias, as concessionárias dos aeroportos de Cumbica e Galeão não quiseram comentar. A Odebrecht e a OAS também informaram que não iriam se pronunciar sobre o assunto.

O criminalista Theo Dias, que representa Marcelo Odebrecht, informou que não se manifestaria sobre o assunto. José Luís de Oliveira Lima, defensor de Léo Pinheiro, não foi localizado. Moreira Franco afirmou que apenas deu seguimento ao leilão dos aeroportos de Galeão e Confins, num processo que estava em andamento quando assumiu a SAC, e que nada tem a comentar sobre as investigações. “Temos que nos acostumar com uma coisa que é saudável. A polícia investiga, o Ministério Público monta o processo e a Justiça julga.”

O Ministério dos Transportes, que atualmente abrange o setor de aviação civil, não havia se posicionado até a conclusão desta edição.

Contratos

R$ 45,1 bi somam os contratos de concessões de aeroportos realizadas em 2011, 2012 e 2013 (governo Dilma). Investigadores da Lava Jato já encontraram indícios de que houve corrupção nos contratos dessas concessões.

EMPREITEIROS E OBRAS

Marcelo Odebrecht

Condenado a 19 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Negocia delação e está preso há um ano.

Léo Pinheiro, da OAS

Condenado a 16 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Negocia delação e está em prisão domiciliar

Galeão (RJ)

Odebrecht integra a concessionária. Valor: R$ 19 bilhões

JK, Brasília (DF)

Engevix integrou a concessionária. Valor: R$ 4,5 bilhões

Cumbica, Guarulhos (SP)

OAS integra a concessionária GRU Airport. Valor: R$ 16 bilhões

Viracopos, Campinas (SP)

UTC integra a concessionária.

Valor: R$ 3,8 bilhões