Sucessão de Cunha já une adversários

Igor Gadelha e Daiene Cardoso

19/06/2016

 

 

Líderes de grupos opostos iniciam discussões para buscar candidatura à presidência da Câmara que se contraponha a indicado do Centrão

Certos da cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líderes partidários iniciaram as discussões sobre o nome que sucederá ao peemedebista na presidência da Câmara. PT e PC do B se aproximaram dos adversários históricos DEM e PSDB para buscar um candidato alternativo para se contrapor ao nome que será apresentado pelo Centrão – grupo de 13 de partidos liderados por PP, PSD, PR e PTB. Os “novos aliados” querem um presidente que não seja ligado a Cunha e, principalmente, passe longe das investigações da Operação Lava Jato.

Com o discurso de que o cargo de presidente da Câmara não pertence a um grupo e que o sucessor de Cunha não deve ser imposto por nenhuma das forças da Casa, a nova oposição ao governo Michel Temer e a antiga oposição ao governo Dilma Rousseff alegam que não se pode voltar a sofrer o desgaste de ter um comandante investigado pelo Ministério Público Federal, na mira do Supremo Tribunal Federal e alvo de representação no Conselho de Ética. “O propósito de todos é não permitir que haja reincidência”, resumiu o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA).

As primeiras conversas entre a antiga e a nova oposição ocorreram com o intuito de discutir a destituição de Waldir Maranhão (PP-MA) da presidência interina. Com a aprovação do pedido de cassação de Cunha pelo Conselho de Ética, o grupo concluiu que o plenário deve julgar o caso em meados de julho e, portanto, é preciso construir um nome forte do bloco que pode ter facilmente o apoio de 200 dos 513 deputados. Os novos aliados dizem contar com boa parte dos 66 deputados do PMDB, que não deve lançar candidato e será o fiel da balança.

Os partidos buscam neste momento definir o perfil do sucessor de Cunha e preferem não fechar nomes. “O novo pre- sidente tem de ter estatura grande, não pode estar contaminado com qualquer tipo de denúncia”, enfatizou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM). Segundo parlamentares envolvidos nas negociações, já teriam se colocado para a disputa José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Júlio Delgado (PSB-MG), adversário de Cunha. Outros nomes citados são Rodrigo Maia (DEMRJ) e Arlindo Chinaglia (PTSP), ex-presidente da Câmara.

Dificuldade. O PT sabe, porém, que o nome de um petista pode reduzir as chances do candidato do grupo,uma vez que dificultaria a obtenção do apoio de Temer. Ciente disso, o deputado José Guimarães (PT-CE), um dos principais petistas envolvidos nas conversas com DEM e PSDB, diz que o partido pode vir a apoiar um nome de outra sigla. Segundo ele, as negociações, que contam ainda com PSB (do lado da antiga oposição) e PDT (junto com a atual minoria), “estão avançando”. Desde a semana retrasada, os novos aliados já se reuniram pelo menos quatro vezes para discutir o assunto.

O grupo torce o nariz às indicações vinculadas ao Centrão, cuja imagem está intimamente ligada a Cunha. No entanto, petistas e tucanos concordam que terão de buscar alguém que transite bem entre todos os partidos, que se disponha a ficar na presidência só por seis meses. A eleição para o mandato de dois anos de presidente da Câmara só acontecerá em fevereiro de 2017. O PSDB e o DEM também defendem um candidato capaz de conduzir as votações da agenda econômica do governo Temer. Já PT e PC do B querem um nome que respeite e esteja disposta a negociar as pautas da minoria.

No Centrão, os nomes cogitados como possíveis candidatos são o do atual segundo-vice presidente Fernando Giacobo (PRPR) e o primeiro-secretário da Mesa Diretora, Beto Mansur (PRB-SP). O ex-relator do processo de impeachment de Dilma e líder do PTB, Jovair Arantes (GO), e o ex-presidente da comissão do impeachment e líder do PSD, Rogério Rosso (DF), também integram a bolsa de apostas. Os três últimos, contudo, dizem não estarem dispostos a disputar um mandato tampão – o candidato eleito não poderá disputar reeleição em 2017 para o mandato de dois anos.

Apesar de ser o grupo de sustentação de Cunha na Câmara, cresceu no Centrão a tese de que o nome escolhido não deve ser identificado com o presidente afastado da Casa. A avaliação é de que a ligação com o peemedebista dificulta a obtenção de apoio. Com isso, ganhou força o nome de Esperidião Amin (PP-SC), que se posiciona contra Cunha.

COTADOS

Nova oposição

PT, PC do B, PDT, Rede e o deputado Silvio Costa (PT do B-PE): O grupo é formado por cerca de 90 parlamentares. O mais cotado para a disputa é o deputado Arlindo Chinaglia (PTSP), que já presidiu a Câmara.

Antiga oposição

PSDB, DEM, PPS e PSB: O grupo é formado por cerca de 120 parlamentares. Os mais cotados para a disputa são os deputados José Carlos Aleluia (DEM-BA), Júlio Delgado (PSB-MG) e Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Centrão

PP, PTB, PSD, PR, PRB, PSC, PROS, Solidariedade, PHS, PTN, PSL, PEN e PT do B: O grupo é formando por cerca de 220 parlamentares. Os mais cotados para a disputa são os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Esperidião Amim (PP-SC), Rogério Rosso (PSD-DF), Jovair Arantes (PTB-GO), Fernando Giacobo (PR-PR) e Beto Mansur (PRB-SP).

PSOL

O partido tem seis parlamentares na Câmara. A mais cotada para a disputa é a deputada Luiza Erundina (SP).

Nanicos

PV, PRTB, PRP e PMB: O grupo é formando por 10 parlamentares e não tem candidato.

PMDB

Com 66 deputados, o partido não deve apresentar candidato.