Título: Discurso novo no Senado
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 18/11/2011, Politica, p. 2

Entendo que o PDT deva se afastar, porque não tem mais a confiança da sociedade brasileira nesse ministério. Nós do PDT devemos nos apear do ministério" Pedro Taques (PDT-MT), senador

Em uma semana, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, mudou o discurso do desafiador "nem à bala" para o argumento de que seu exagero nas palavras "é fruto de quem veio de muito baixo, começou a trabalhar muito jovem e perdeu o pai muito novo". Mas nem mesmo a recente mansidão de espírito do ministro conseguiu convencer os senadores da oposição e seus próprios colegas pedetistas de que ele não mentiu na audiência da Câmara, realizada no dia 10, quando disse que não tinha "nenhuma relação com Adair (Meira)" e que nunca andou "em aeronave pessoal dele nem de ninguém."

Menos de uma semana depois da audiência, fotos e vídeo do ministro saindo do avião foram divulgados. Para se explicar, Lupi colocou a culpa na memória e desqualificou nota oficial divulgada pela sua assessoria negando ter utilizado a aeronave modelo King Air, providenciada por Meira, presidente da ONG Pró-Cerrado, entidade que mantém contratos de R$ 14 milhões com o ministério do Trabalho, em viagens no interior do Maranhão em 2009. "Eu não sou um ser humano que tem uma memória absoluta. Eu tenho uma memória boa, mas ela falha. São muitos compromissos."

Em vez dos prometidos documentos que comprovariam sua "inocência", Lupi levou à Comissão de Assuntos Sociais do Senado apenas uma degravação — que apresentou como notas taquigráficas — de suas falas em audiência na Câmara. O ministro sustentou que as declarações foram tiradas de contexto, pois quando afirmou que "não tinha relações" com Adair Meira, referia-se a proximidade pessoal. "Eu disse que não tenho relações, o que é diferente de conhecer a pessoa."

Durante as três horas de depoimento, o ministro admitiu ter viajado no avião providenciado pelo presidente da ONG, mas transferiu a responsabilidade pelo pagamento do aluguel do jatinho a Ezequiel Nascimento, ex-secretário de Políticas Públicas do Emprego e ex-dirigente regional do PDT do Distrito Federal. Foi Ezequiel quem confirmou à revista Veja que o ministro havia viajado no jatinho. "Quem tem que explicar o pagamento dessa aeronave não sou eu. Eu fui de carona do Ezequiel. Como ele pagou, de que maneira ele pagou compete à companhia aérea falar e compete ao Ezequiel falar. Eu não sei. Eu não tenho obrigação de saber. Eu não pedi aeronave, eu não solicitei aeronave."

Durante a sessão, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) protocolou requerimento pedindo cópia da prestação de contas do convênio da ONG Pró-Cerrado com o Ministério do Trabalho. "Recebi uma denúncia muito consistente de que a nota que pagou a viagem desse avião está na prestação de contas deste convênio."

Na audiência, Lupi não contou com a blindagem da bancada governista para livrá-lo da artilharia dos senadores da oposição. De seu próprio partido, o ministro só encontrou palavras de apoio no discurso o líder da legenda no Senado, Acir Gurgacz (RO). Pedro Taques (PDT-MT), por sua vez, afirmou que o correligionário não tinha condições de permanecer no cargo. "Em instâncias como a Polícia Federal, a presunção de inocência é fundamental, mas quando se fala em política, fala-se em confiança. Entendo que o PDT deva se afastar, porque não tem mais a confiança da sociedade brasileira nesse ministério. Nós do PDT devemos nos apear do ministério."

32 parlamentares O PDT conta com 27 deputados e cinco senadores, bancada parlamentar que é duas vezes maior do a do PCdoB, partido do ex-ministro Orlando Silva, último a ser substituído na Esplanada. O peso do PDT, que além de grande numericamente é a legenda de origem da presidente Dilma Rousseff, é um complicador da crise instalada no Ministério do Trabalho.