País tem 1º protesto nacional anti-Temer

 
11/06/2016

Valmar Hupsel Filho

André Ítalo Rocha

 

 

A primeira manifestação de caráter nacional contra o governo do presidente em exercício Michel Temer foi realizada ontem em pelo menos 24 Estados e no Distrito Federal pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo - que congregam entidades ligadas aos movimentos sociais e ligadas à defesa dos direitos dos trabalhadores– coma participação de representantes dos estudantes e da classe artística.

Em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do protesto na Avenida Paulista, onde quatro quarteirões foram fechados nos dois sentidos para dar lugar aos manifestantes. Os organizadores estimaram um público de 100 mil pessoas. A Polícia Militar não havia informado o número aproximado de manifestantes até a conclusão desta edição.

Em um discurso de 35 minutos, com voz muito rouca, Lula defendeu o legado das administrações petistas, afirmando terem sido responsáveis pela “maior revolução social do País”, e criticou a extinção de ministérios do governo Temer.

“Era melhor ter tirado o Ministério da Fazenda ou do Planejamento do que os ministérios que cuidam dos pobres”.

Lula disse que não “fica bem” para ele gritar “Fora Temer”, lema da manifestação, mas afirmou que o peemedebista “não agiu corretamente” ao assumir a Presidência. “Temer, você é um constitucionalista, sabe que não agiu correto assumindo a Presidência interinamente.

Permita que o povo retome o poder, participe das eleições em 2018”, disse.

Segundo o ex-presidente, somente o povo que elegeu a presidente Dilma Rousseff pode tirá-la da Presidência. Foi quando mirou nos deputados, responsáveis pela abertura do processo de impeachment. “É só olhar para a cara deles que a gente vai perceber que os 300 picaretas que eu falei em 1994 aumentaram um pouco neste Congresso de hoje”, disse.

 

Choro. Por duas vezes o ex-presidente chegou a chorar, quando falou da mãe e quando lembrou das acusações das quais é alvo no âmbito da Operação Lava Jato. Lula disse que não perdoa quando alguém tenta incriminá-lo e que as denúncias são uma tentativa de manchar a sua imagem. “Quanto mais me provocam, mas corro o risco o de ser candidato a presidente em 2018”, declarou.

Além de Lula, estiveram presentes no ato em São Paulo o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e as principais lideranças da Central Única dos Trabalhadores ( CUT),Central de Movimentos Populares ( CMP),Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem- Teto (MTST) e União Nacional dos Estudantes (UNE). “Se passar a pauta conservadora e a reforma da Previdência e trabalhista, vamos organizar a maior greve geral que esse País já viu”, ressaltou o presidente da CUT, Vagner Freitas.

Ao contestar críticos que classificam o PT como uma“ organização criminosa”, Lula fez ironia com o PSDB. “Estou de saco cheio. Só faltam dizer que o dinheiro do PSDB vem da sacristia da Igreja da Sé”, disse.

No Rio de Janeiro, os manifestantes se reuniram ao redor da Igreja da Candelária, no centro. Além de Temer, foram alvo do protesto Cunha e o deputado Pedro Paulo Carvalho Teixeira ( PMDB-RJ),pré-candidato a prefeito do Rio e que, no ano passado, admitiu ter agredido a ex-mulher. A instituição não estimou o número de participantes. Organizadores calcularam em 800 o número de pessoas presentes.

No Sul, o frio de 8ºC não impediu que cerca de mil manifestantes, segundo a Brigada Militar, protestassem contra o governo interino no centro de Porto Alegre.

No Nordeste, o ex-ministro de Dilma Jaques Wagner (Casa Civil) e o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli participaram do ato que terminou na praça Castro Alves. Em Teresina, os manifestantes se misturaram às pessoas que acompanhavam a tocha olímpica, tentando apagá-la, sob o grito de “Fora Temer” e “Por novas eleições”.

 

Intimidação. Em Palmas e em Fortaleza, houve protestos contra a TV Globo. Na capital de Tocantins, foram arremessados ovos e tintas na fachada da afiliada. No Ceará, a recepção da TV Verdes Mares chegou a ser ocupada por manifestantes. / COLABORARAM FÁBIO GRELLET, LUCAS AZEVEDO, HELIANA FRAZÃO, LUCIANO COELHO, CARMEN POMPEU e MONICA BERNARDES

 

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Planalto, TSE e PMDB reagem à ideia de novas eleições

 

11/06/2016

Tania Monteiro

Gustavo Aguiar

Julia Lindner

 

 

A declaração da presidente afastada Dilma Rousseff de que apoia uma consulta popular para a realização de novas eleições como saída para a crise política causou reação no Congresso, no Palácio do Planalto e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável por um eventual novo pleito.

No TSE, a proposta é vista com ceticismo. A corte avalia que seria difícil viabilizar o plebiscito, considerando que a tramitação no Legislativo seria demorada e os custos somados às eleições seriam muito altos. A visão do tribunal é de que o debate poderia acabar concluído só no ano que vem, o que abriria a possibilidade para que as eleições fossem indiretas.

Lideranças petistas no Senado, contudo, utilizam a proposta para negociar o apoio ao impeachment com parlamentares insatisfeitos com a gestão Temer.

Só o Congresso pode convocar um plebiscito.

A proposta precisaria ser apresentada por no mínimo um terço dos senadores ou deputados e aprovada nas duas Casas por maioria simples.

Há um grupo de 30 senadores que diz simpatizar com a proposta, porém, muitos parlamentares da base aliada e da oposição avaliam que a sinalização de Dilma “chegou tarde”. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), disse que se a proposta tivesse sido feita antes do impeachment, até poderia ser considerada, mas agora só ia gerar mais instabilidade no País.

O líder da minoria na Câmara, deputado José Guimarães (CE), disse que a realização de uma consulta popular sobre novas eleições poderia ser a saída da crise. “Agora é a hora, o assunto está maduro. Esse movimento tende a ganhar corpo dentro e fora do PT, os democratas do País não podem se recusar a discutir uma saída”, criticou.

O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi(SP), classificou a proposta de “factoide” criado pelo PT para prejudicar o governo Temer. / TANIA MONTEIRO, GUSTAVO AGUIAR e JULIA LINDNER

 

O Estado de São Paulo, n. 44797, 11/06/2016. Política, p. A7