Temer diz a aliados que governo não pode ficar preso à Lava-Jato

Simone Iglesias e Leticia Fernandes

01/06/2016

 

 

Presidente interino afirma que Planalto deve impor sua maioria

No almoço com líderes dos partidos aliados na Câmara, ontem, o presidente interino, Michel Temer, disse que o governo não pode ficar preso à pauta da Operação Lava-Jato, “que tem uma dinâmica própria” e precisa focar em ações concretas para a retomada do crescimento. Neste contexto, segundo relato de participantes do encontro, Temer pediu que os parlamentares reajam no Congresso se impondo como maioria.

— Parece que a oposição tem maioria. O governo tem que demonstrar essa força mas, na gritaria, quem tem ganho é a oposição — cobrou Temer dos líderes, segundo um interlocutor presidencial.

Líderes que estiveram com o presidente interino relataram que o governo quer urgência na votação da PEC da Desvinculação das Receitas da União (DRU), mecanismo que permite ao governo gastar livremente parte do Orçamento Federal. A proposta do deputado Laudívio Carvalho (SD-MG), analisada em comissão da Câmara, pretende desvincular 30% do Orçamento.

A ideia, segundo o líder do governo na Casa, André Moura (PSC-SE), é que hoje, após reunião da comissão, o mérito do projeto seja votado em plenário.

— A aprovação da DRU é importante nesse momento para dar mais flexibilidade ao governo nas ações que o governo vai deflagrar de agora em diante. Ela é importante, e logicamente se não fosse aprovada, o governo trabalharia com mais dificuldade — disse Moura.

A avaliação é que, diante de mais um desgaste do governo interino, com a saída do segundo ministro em uma semana, a votação da proposta poderá fortalecer a agenda positiva propagada por Temer. Ontem, coube ao ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) afirmar aos aliados na reunião com líderes que “outras coisas vão aparecer” relacionadas ao esquema de corrupção desvendando pela Lava-Jato. Citou ele próprio:

— Vão aparecer outras coisas, mas o governo tem que seguir. Se for comigo, com outra pessoa, temos é que responder e o cargo estar à disposição do presidente — comentou o ministro, segundo relatos.

A demissão de Fabiano Silveira, mesmo que tenha sido a pedido do advogado o desligamento do Ministério da Transparência e não uma ação de Temer, foi elogiada pelos líderes.

 

 

O globo, n. 30249, 01/06/2016. País, p. 7.