Título: Dirigente sai e ajuda a Grécia
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Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2011, Economia, p. 11

Primeiro-ministro e líder da oposição chegam a acordo para formar novo governo e garantir liberação de 80 bilhões de euros

Com a credibilidade posta em xeque e já fora do páreo, o primeiro-ministro grego, George Papandreou, usou ontem o que restava de seu capital político para costurar um acordo partidário que permita a formação de um gabinete de coalizão para assumir o comando no país. Mais do que o vácuo de poder que pode ser deixado, o que está em jogo é a interrupção do fluxo de ajuda financeira, provido pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). "Está claro que esse governo vai passar o bastão, mas não vai passar para o vazio e sim para um novo governo. E eu quero dizer hoje, não amanhã. Não estou interessado em ser primeiro-ministro na nova coalizão", destacou o dirigente. O consenso foi alcançado ontem, em reunião com o líder da oposição conservadora, Antonis Samaras. O nome do sucessor do premiê, no entanto, será definido hoje.

A preocupação em arrumar a casa antes de transmitir o comando visa garantir a entrega dos 8 bilhões de euros — sexta parcela do pacote de 110 bilhões de euros, acordada ainda em 2010 entre a Grécia, o FMI e a UE. Além desses recursos, o governo grego pretende negociar hoje, em reunião dos ministros das Finanças europeus, a liberação de mais 80 bilhões de euros até o fim de fevereiro. O montante faz parte do segundo acordo de resgate, de 130 bilhões de euros, desenhado no fim de outubro, em Bruxelas.

O acordo foi fechado ontem entre Papandreou e Samaras na residência do presidente Carolos Papulias, que convocou a reunião para amenizar os ânimos e mediar uma solução. Antes do encontro, Samaras tinha voltado a pressionar pela renúncia do primeiro-ministro, que se negava a deixar o cargo sem uma nova coalizão formada. A expectativa de que uma decisão fosse tomada ainda ontem ganhou força depois de Samaras se comprometer na semana passada a adotar o plano de austeridade proposto por Bruxelas. Nos últimos dois anos, o opositor foi contra o programa de reformas fiscais. Ontem, porém, disse que o país deve "lançar uma mensagem de estabilidade, confiança e normalidade" para países credores e para os cidadãos gregos.

Enquanto a batalha se arrasta nos gabinetes, na tentativa de evitar a bancarrota, o cidadão comum grego se adapta à nova realidade, adotando soluções inusitadas para a escassez de dinheiro. Muitos tiveram a eletricidade cortada por falta de pagamento e recorreram às ligações clandestinas. Com a proximidade do inverno, a preocupação dos assistentes sociais é de que parte das famílias tenha que optar entre fazer todas as refeições do dia ou garantir o aquecimento da casa.