Título: Tucanos criticam o PT, os juros altos...
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 08/11/2011, Política, p. 2

Reunidos no Rio de Janeiro, caciques do PSDB discutem estratégias para enfrentar os petistas e a presidente Dilma Rousseff nas eleições do ano que vem e em 2014. FHC defende que a legenda deve mostrar como cuida da população

Rio de Janeiro — Numa reunião marcada por críticas a quase todos os projetos do governo Dilma Rousseff, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aos juros subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o PSDB lançou as bases do que pretende apresentar como ações de governo, não só em 2012 como também em 2014. No seminário A Nova Agenda — Desafios e Oportunidades para o Brasil, os tucanos reencontraram os pais do Plano Real e conheceram de perto novos intelectuais que ajudam na formulação de ideias dentro do partido. Mas ali quem ainda dá o tom é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, levado ao palco pelo senador Aécio Neves, que, aos poucos, vai se consolidando no papel de primeiro da fila de pré-candidatos tucanos a presidente da República. E o grão-mestre tucano tratou de reaproveitar o slogan do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama: "Yes, we can".

"Nos Estados Unidos, tem o Yes, we can (sim, nós podemos). Por aqui, vamos lançar o yes, we care (sim, nós cuidamos). O que falta é carinho, dizer que estaremos com as pessoas. O PSDB tem que se mostrar como o partido que cuida das pessoas. Vamos baixar os juros, mas primeiro para remunerar melhor a poupança do trabalhador, não para os amigos do rei", disse Fernando Henrique, citando uma expressão usada no seminário pelo ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida, referindo-se à necessidade de diminuir as taxas para todos e não apenas para os "amigos do rei" via BNDES.

"Para que trem-bala, meu Deus? E olha que sou paulista e carioca, não tanto quanto Aécio", brincou o ex-presidente. "No governo é PAC, PAC, PAC, propaganda! Um amontoado de iniciativas desconectadas. Não concordo que o governo Lula tenha seguido o que foi feito. Ele deformou o que tinha sido feito antes. Como não sabem executar, executam mal", disse Fernando Henrique. "O PT é muito de coletivo (para o partido) e não tem o sentimento do outro, do ser solidário. O PSDB é um sentimento, de estar junto com as pessoas. Temos que discutir as coisas, mesmo que sozinhos, pôr para fora, falar. A voz é dos que querem vencer. O Brasil precisa da nossa vitória. Somos o partido do desenvolvimento e da modernização", comentou ele, muito aplaudido pela plateia.

Aparelhamento Aécio e o ex-governador de São Paulo José Serra mantêm uma disputa velada pela candidatura a presidente da República em 2012. Mas, dentro do PSDB, o presidente do Instituto Teotônio Vilela, Tasso Jereissati, organizador do encontro, preferiu chamar "o senador carioca" Aécio Neves para levar Fernando Henrique ao palco. O senador por Minas Gerais falou como pré-candidato: "Vamos chamar outros partidos. Não faltarão pessoas interessadas em se contrapor a esse modelo que privilegia o aparelhamento da máquina. Quarenta ministérios para quê? Para que o Esporte tenha 75% dos cargos ocupados por indicação partidária?", afirmou Aécio.

O senador mineiro aproveitou para deflagrar o trabalho de aproximação ao ex-governador de São Paulo José Serra, que apareceu de surpresa no seminário. "Eu me lembro que Serra, nosso candidato, propôs a desoneração das empresas de saneamento. Depois, a presidente encampou essa ideia", afirmou Aécio, para alegria de Serra.

O ex-governador paulista chegou ao seminário quando os economistas encerravam a primeira parte. Tão logo Aécio terminou de falar, pediu que Serra desse seu recado à plateia antes que Fernando Henrique fizesse o encerramento dos debates. O ex-governador de São Paulo levou um texto pronto, que havia preparado. "O atual governo transmite uma sensação de impotência, de envelhecimento precoce", disse Serra, num discurso mirando a educação, área sob o comando do ministro Fernando Haddad, o nome mais forte hoje dentro do PT para concorrer à Prefeitura de São Paulo. "A educação tem que parar de ser o teatro onde se vê a simples disputa pelo poder", disse numa crítica velada ao ministro.

Na saída, Serra comentou que os petistas "não optaram pelo candidato mais forte", numa referência a Marta Suplicy, que, sem apoio, desistiu de concorrer nas eleições municipais do ano que vem. Ele evitou comentar a disputa dentro do PSDB. Geraldo Alckmin, atual governador de São Paulo, disse ao chegar que ficaria muito feliz se Serra fosse o candidato. "Serra é um dos nossos melhores quadros. É uma liderança nacional. Se for candidato, terá o nosso apoio", disse Alckmin.