O Estado de São Paulo, n. 44806, 20/06/2016. Política, p. A5

Delação cita US$ 16,6 mi para conta de Santana

Borin afirma que marqueteiro de campanhas petistas recebeu recursos de três offshores usadas pelo ‘departamento de propinas’ da Odebrecht

Por: Mateus Coutinho / Julia Affonso

 

O executivo Vinícius Veiga Borin afirmou, em delação, que a offshore Shellbill Finance, do marqueteiro das campanhas presidenciais de Dilma Rousseff (2010 e 2014) e Luiz Inácio Lula da Silva (2006), João Santana, recebeu US$ 16,6 milhões de três offshores usadas pelo “departamento de propinas” da Odebrecht.

O valor é quase o triplo do já rastreado no exterior pela Lava Jato na conta do marqueteiro com apoio de autoridades suíças - US$ 6,4 milhões. Além disso, a operação identificou que Santana e sua mulher e sócia Mônica Moura teriam recebido no Brasil outros R$ 23,5 milhões.

Os repasses já identificados pela operação deram origem a uma denúncia contra os marqueteiros e os executivos da Odebrecht que atuavam no setor de Operações Estruturadas - nome oficial do departamento que cuidava da contabilidade paralela da maior empreiteira do País e que foi descoberto pelos investigadores na 23.ª fase da Lava Jato, batizada de Acarajé.

Em seu depoimento aos procuradores, Borin, que atua no setor financeiro desde 1976, disse que, com o avanço da operação, o executivo Luiz Eduardo Soares, atualmente preso e réu na Lava Jato, “começou a solicitar informações de pagamentos para algumas contas”. Borin trabalhava na filiado do Meinl Bank, em Antígua, e cuidava das contas da empreiteira.

Nesse levantamento sobre as transações “aparentemente suspeitas” aparecem os repasses das contas Klienfeld, Innovation e Magna, todas ligadas à Odebrecht, segundo o delator, para a conta da Shellbill.

Os investigadores suíços já haviam identificado as contas Klienfeld e Innovation como pertencentes, de fato, ao grupo Odebrecht. A Suíça encaminhou as informações sobre elas às autoridades brasileiras.

O próprio João Santana, ao ser preso pela Polícia Federal em fevereiro, admitiu que usava conta da Shellbill, que não foi declarada por ele à Receita Federal. Na ocasião, disse que usou a conta para receber dinheiro de campanhas no exterior.

Agora, os investigadores esperam avançar sobre novas transações com os nomes de outras empresas offshores que teriam sido usadas para transitar os pagamentos ilícitos da empreiteira.

Em seu depoimento, agora sob análise do juiz Sérgio Moro, que vai decidir se homologa a colaboração premiada, Borin associa de forma direta as offshores que mantinham contas no banco em que ele atuava com a Odebrecht.

Desde que a Lava Jato fechou o cerco ao “departamento da propina”, a Odebrecht vem negociando um acordo de delação premiada. A empresa informou que não iria se manifestar sobre o depoimento de Borin. O criminalista Fabio Tofic Simantob, que defende Santana, disse que a defesa só vai se manifestar sobre o caso perante a Justiça.

 

Transações

“Hoje, com a Operação Lava em curso, fazendo uma memória retrospectiva, o depoente percebe que as transações não eram com fornecedores ou em razão de obras da Odebrecht.”

TRECHO DE DEPOIMENTO DE VINÍCIUS VEIGA BORIN À PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO PARANÁ

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Valério promete citar 20 nomes em colaboração

Por: Mateus Coutinho

 

Em mais uma tentativa de fechar acordo de delação premiada, o operador do mensalão Marcos Valério entregou na semana passada ao Ministério Público de Minas Gerais uma proposta de colaboração para revelar novos detalhes sobre escândalos que envolvem PT e PSDB.

O advogado Jean Robert Kobayashi Júnior afirmou que seu cliente deve apresentar informações sobre aproximadamente 20 nomes, entre eles os de parlamentares de diversos partidos e investigados na Operação Lava Jato - a defesa de Valério já encaminhou uma proposta de colaboração no fim do ano passado.

Há três anos preso na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG), Valério recebeu a maior pena entre os condenados no julgamento do Supremo Tribunal Federal, realizado em 2012, e cumpre 37 anos de prisão por corrupção ativa, peculato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A interlocutores, tem dito que “cansou de apanhar” e “agora vai começar a bater”.

 

Semiaberto. A expectativa de Valério era ir para o regime semiaberto em um ano e meio, mas ele ainda está prestes a ser julgado por envolvimento no mensalão mineiro, na Justiça estadual - seu interrogatório será no dia 1.º de julho -, e já foi alvo de uma denúncia na Lava Jato. Em caso de nova condenação, pode ficar impedido de deixar o fechado.

Valério promete contar detalhes sobre o esquema que, segundo a acusação, financiou com recursos não declarados a campanha à reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas, em 1998 - o chamado mensalão mineiro.

Azeredo foi condenado a 20 anos e 10 meses de prisão por peculato e lavagem de dinheiro no escândalo. Sua defesa entrou com um pedido de apelação contra a condenação que ainda vai ser julgada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

A lei que define as organizações criminosas estabelece que a colaboração com a Justiça pode ser feita a qualquer momento e independe de uma condenação anterior.

O advogado Marcelo Leonardo informou que não vai comentar sobre as eventuais tratativas de delação de seu cliente. O MP mineiro confirmou que recebeu proposta de colaboração de Valério e avalia se o operador do mensalão pode trazer fatos novos para as investigações. /M.C.

 

Benefício. Valério teme perder progressão de pena