Disputa na ONU provoca saia justa para Itamaraty com candidaturas

 

15/06/2016

Daniel Rittner

 

A entrada da argentina Susana Malcorra na corrida pela secretaria-geral das Nações Unidas provoca uma saia justa para a diplomacia brasileira. O Ministério das Relações Exteriores não declarou apoio a nenhum candidato até agora, mas tinha o ex-primeiro-ministro português António Guterres como nome preferido para o cargo. O mandato do sul-coreano Ban Ki-Moon termina no fim do ano.

Guterres, que comandou o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) durante dez anos, é um nome bem avaliado pelo Itamaraty - principalmente depois da crise humanitária na Síria. Além disso, havia um sentido de retribuição no provável apoio brasileira à sua candidatura. Portugal foi uma espécie de "fiel da balança" para a eleição do brasileiro José Graziano, em 2012, para diretor-geral da FAO - agência da ONU para agricultura e alimentação.

Graziano venceu uma disputa apertadíssima e os portugueses foram peça-chave para convencer os demais membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a votar de forma conjunta. Ele superou o espanhol Miguel Ángel Moratinos por apenas cinco votos e, depois, foi reconduzido em 2015. Lisboa também deu um apoio crucial ao brasileiro Roberto Azevêdo na disputa pelo comando da Organização Mundial do Comércio (OMC). Teve participação importante, por exemplo, em atrair mais europeus à sua candidatura. E pressionou Bruxelas, mais recentemente, para colocar à mesa uma oferta de liberalização comercial para um acordo entre Mercosul e União Europeia.

O lançamento da candidatura de Malcorra, chanceler do presidente Mauricio Macri, deixa o Brasil em situação delicada para escolher. As avaliações preliminares são de que ficaria difícil ir para uma eleição como essa sem um voto unido no Mercosul. Um eventual racha no bloco, porém, não seria inédito. Em 2005, a Argentina preteriu o embaixador aposentado Luiz Felipe Seixas Corrêa como postulante à OMC.

Outro fato lembrado por diplomatas é que Brasil e Argentina têm divergências históricas quanto à reforma da ONU. Ambos querem mudanças no conselho de segurança, mas o governo brasileiro tem reivindicado assento permanente no grupo e os argentinos preferem um sistema com rodízio para evitar a predominância do vizinho gigante.

É certo que, eleita secretária-geral, Malcorra deixará de lado qualquer atuação como representante de um país para agir pura e simplesmente como árbitra ou facilitadora de entendimentos. Ainda assim, há quem julgue que pode ficar estranho.

O Itamaraty tem ótimo julgamento do trabalho de Malcorra à frente do Palácio San Martín, onde ajudou a Argentina a reinserir-se no mundo, e elogia o desempenho dela como auxiliar de Ban Ki-Moon - foi seu chefe de gabinete.

O governo interino de Michel Temer também carrega uma espécie de "dívida" com a gestão de Macri. Malcorra foi a primeira chanceler estrangeira a receber o ministro José Serra e o país vizinho se colocou como um "escudo", de forma bastante sutil, às tentativas dos bolivarianos de acionar a cláusula democrática da Unasul contra o Brasil pelo afastamento de Dilma Rousseff.

A eleição na ONU ainda está indefinida e os candidatos têm sido entrevistados em Nova York pelos países-membros. Havia uma propensão, na comunidade diplomática, a dar preferência para uma mulher do Leste Europeu. Isso não constitui, porém, pré-requisito. A búlgara Irina Bokova,

diretora-geral da Unesco, se enquadrava no perfil desejado e despontava como favorita. Ela também é tida como palatável à Rússia, que poderia vetar o escolhido.

Irina, porém, não agradou em sua entrevista - teve uma postura considerada burocrática. Isso fez alimentar as chances de Helen Clark, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, e de Miroslav Lajcák, ex-chanceler da Eslováquia.

 

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Temer visita arenas e nega ser contra ida de Dilma à abertura da Olimpíada

 

15/06/2016

Cristian Klein

André Ramalho

 

 

Em sua primeira viagem oficial, o presidente interino Michel Temer visitou ontem o Rio, onde vistoriou arenas da Olimpíada, na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, e conheceu o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, com quem havia conversado apenas uma vez por telefone, desde que assumiu a Presidência.

Temer levou em sua companhia oito ministros, além dos presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos, e da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, numa viagem cujo simbolismo foi o de se apropriar da agenda olímpica.

O Rio conquistou o direito de sediar o maior evento esportivo do mundo em outubro de 2009 e quase a totalidade da organização se deu durante o governo da presidente afastada Dilma Rousseff, hoje sua adversária política.

Temer, no entanto, disse que não tem objeção à presença da petista na cerimônia de abertura dos Jogos. "Para mim tanto faz. Evidentemente que não tenho [objeção]. Não é de hoje que falo da pacificação e da unidade do país. O que não podemos ter é brasileiro disputando com brasileiro", afirmou, depois de conhecer as arenas do Parque Olímpico ao lado de integrantes do primeiro escalão e dos prefeito e governador em exercício do Rio, Eduardo Paes e Francisco Dornelles.

Contudo, logo que questionado sobre o que acharia de participar da abertura com Dilma, Temer despistou: "Isso é da organização". Num jogo de empurra, Thomas Bach também esquivara-se, mais cedo, dizendo à imprensa que não cabe ao COI tratar do convite a Dilma Rousseff.

Em entrevista ao Valor, publicada na semana passada, Paes deu crédito à petista na realização dos Jogos. "Não foi o Michel Temer que fez a Olimpíada. O presidente que fez a Olimpíada comigo foi a Dilma", afirmou.

Temer disse que "nem minimamente" se sente constrangido pelo fato de a votação do impeachment no Senado estar prevista para ocorrer durante os Jogos, em agosto, quando 5 bilhões de pessoas estarão com as atenções voltadas para o país. "O Brasil não vive em função daqueles que o dirigem, mas em função do seu povo. Quando assumi, tomei providências como se fora definitivo. O povo do mundo não está preocupado com isso, mas com a pujança do Brasil", afirmou.

Antes de visitar o Parque Olímpico, Temer reuniu-se separadamente com Bach e com o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman. Depois reuniu-se com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Alexandre de Moraes (Justiça), Ricardo Barros (Saúde), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Raul Jungmann (Defesa), Leonardo Picciani (Esporte), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional). Do encontro participaram ainda Paes, Dornelles, os presidentes da Caixa, BNDES, COB, da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, e secretários estaduais.

Temer disse que o governo federal vai "colaborar não apenas com palavras, mas com as necessidades financeiras" da Olimpíada. Sobre o pedido de R$ 1 bilhão para que a inauguração da Linha 4 do metrô ocorra antes dos Jogos, o presidente interino afirmou que estudos financeiros estão sendo finalizados para "equacionar" a liberação de recursos, o que pode ocorrer até o começo da próxima semana.

 

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Para OMS, zika oferece baixo risco nos Jogos

 

15/06/2016

Assis Moreira

 

 

Um comitê de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que há um risco muito baixo de mais propagação internacional do zika vírus como resultado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Brasil.

Em comunicado, a OMS observa que os jogos serão realizados durante o inverno no Brasil, quando será mínima a intensidade de transmissão de vírus que provocam dengue e zika. Além disso, a intensificação de medidas de controle do vetor deverá reduzir o risco de transmissão.

Segundo a OMS, o comitê notou que grandes eventos populares podem trazer juntos substancial número de pessoas suscetíveis, e colocar um risco para eles, resultar em amplificação da transmissão e potencialmente contribuir para a propagação internacional de uma doença. Entretanto, no contexto do zika vírus, os riscos individuais em áreas de transmissão são as mesmas com ou sem grande participação popular, e podem ser minimizados por boas medidas de saúde pública.

O comitê reafirmou seus conselhos anteriores de que não deve haver nenhuma restrição geral para viagem e comércio com países, áreas e territórios com o zika vírus.

Porém, o comitê da OMS aconselha mulheres grávidas a não viajar para áreas com surto de zika. As mulheres cujos parceiros sexuais vivem ou trabalham nas áreas com o vírus devem ter práticas sexuais seguras ou se abster de sexo durante o período da gravidez.

 

Valor econômico, v. 17, n. 4026, 15/06/2016. Brasil, p. A2