Título: São Paulo, a largada
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 08/11/2011, Política, p. 4

Se Serra não for candidato a prefeito na capital paulista, é bom Aécio se preparar, porque a disputa entre os dois vai ferver de 2012 em diante

No PSDB, há quem tenha a sensação de que José Serra vá aproveitar a prefeitura de São Paulo para voltar à ribalta. Mas ele jura que não quer. Enquanto o partido não fizer a tal prévia anunciando seu candidato e colocando ele para reunir os tucanos nos bairros da periferia paulistana, ninguém vai acreditar que Serra desistiu. E, agora, com o candidato do PT praticamente definido, todos vão voltar os olhos para saber o que vem do lado de lá da velha polarização PSDB-PT.

Ocorre que, por enquanto, ali ninguém se mexe. No seminário de ontem, entretanto, ficou claro que o tema desta eleição em São Paulo será fortemente centrado na educação. Afinal, Fernando Haddad é ministro da Educação. Gabriel Chalita foi secretário dessa área.

Ontem, por exemplo, o seminário tucano no Rio teve um painel sobre o tema. Foi dito ali que a qualidade do ensino brasileiro é péssima. "Não há uma ideia clara do que aprender em cada nível escolar", lembrou o sociólogo e educador Simon Schwartzman.

Ele trouxe dados do Pisa (programa internacional de avaliação de estudantes), onde é possível observar que, aos 15 anos, só 43% dos estudantes brasileiros estão no 9O ano ou no ensino médio. E pior, disse Simon, dos que estão na série correspondente, 70% não sabem o mínimo esperado para aquele nível. "Não podemos nos iludir dizendo que mais dinheiro dará resultado", disse ele, mais uma vez tocando num ponto caro para os petistas da era Dilma: a gestão.

Ok, muitos vão dizer que o ensino fundamental é papel dos estados e municípios e que isso vai mal em função dos gestores estaduais. Muito bem. Ocorre que, diante de um mundo em que o PT de Lula toma conta de tudo — há uma grande concentração de serviços no colo da União — não vai ser difícil os tucanos e quem mais chegar colocar a culpa do problema no ex-presidente Lula e em seus ministros, leia-se Haddad.

É por aí que a banda vai tocar na eleição municipal paulistana, citada por muitos com uma prévia da sucessão presidencial, guardadas as devidas proporções. Afinal, como já disse aqui outro dia, ali caminha para ser tudo novidade, segundo a visão de Lula.

A não ser, é claro, que José Serra resolva ser candidato. E por falar em Serra, ontem jurou que ele e Pérsio Arida são aliados e amigos. "Sempre querem fazer intriga comigo", reclamou.

E verdade seja dita: Serra está com todo o jeito de que não quer ser mesmo candidato a prefeito de São Paulo. Ele está focado em planos nacionais e ideias nacionais. Está estampado no seu rosto que deseja a chance de concorrer mais uma vez à Presidência da República. Ocorre que, embora o PSDB lhe renda homenagens, a sensação que se tem é a de que o partido já está em outro ritmo e outra caminhada que, no momento, atende pelo nome de Aécio Neves.

Sendo assim, não restará a Serra outra saída dentro do PSDB a não ser concorrer a prefeito de São Paulo. Ou aceitar o convite de Roberto Freire para ingressar no PPS. Afinal, a linha de Serra é mesmo oposição ao PT. Não por acaso chegou ontem defendendo que chefes de gabinetes e detentores de cargos em comissão sejam obrigados a demonstrar conhecimento de administração. "Fiz isso na Funasa, mas Lula acabou com isso", afirmou.

De qualquer forma, diante da posição do PSDB em defesa da candidatura presidencial de Aécio, e do desejo de Serra, São Paulo é mesmo a largada. Se Serra não for candidato a prefeito, é bom Aécio se preparar, porque a disputa entre os dois virá.