Ação da Gol cai 7,3% após anúncio de veto a capital estrangeiro

Danielle Nogueira e Renna Setti

30/06/2016

 

 

Para analistas, companhia, que renegocia dívidas, é a mais prejudicada

Com a pior situação financeira entre as quatro maiores companhias aéreas do país, a Gol é apontada como a principal prejudicada pelo veto à liberação de 100% ao capital estrangeiro nas empresas do setor. O efeito da notícia sobre as ações da Gol foi imediato: logo após as declarações do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, de que o presidente interino, Michel Temer, vetaria o artigo da medida que trata de capital estrangeiro, as ações preferenciais (sem voto) da companhia aprofundaram a queda na Bolsa de Valores de São Paulo. Na mínima do pregão, chegaram a recuar 15,49%. Mas fecharam em baixa de 7,33%, a R$ 3,41.

— O mercado tomou um verdadeiro susto com essa notícia, já que a companhia subiu demais nas últimas semanas com os investidores esperando que ela recebesse aporte estrangeiro — observa Raphel Figueredo, da Clear Corretora.

 

NEGOCIAÇÃO COM BANCOS

Na avaliação do mercado e de especialistas, a injeção de capital internacional na empresa daria credibilidade e fôlego financeiro necessários para ela continuar a negociação sobre reestruturação de sua dívida, de R$ 16 bilhões.

— As empresas que perdem (com o veto) são as que estão no sufoco, como a Gol. A americana Delta Airlines (que tem 9,48% do capital social da companhia) poderia se interessar em ampliar sua fatia. A empresa vai ter que arrumar fôlego com pernas próprias — diz o especialista em aviação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) Alessandro Oliveira, que defende a liberação total do capital internacional. — Com a entrada de sócios capitalistas estrangeiros, haverá um choque de governança. Imagina se acontecer o que aconteceu com a Varig de novo? Temos o recurso da ajuda estrangeira, qual é o problema de abrir o capital?

Após tombo de 83% em 2015, as ações da Gol acumulavam 41% de alta este ano, justamente devido à possibilidade de injeção de capital internacional na empresa. A Gol teve 16 trimestres consecutivos de prejuízo entre 2012 e 2015. De janeiro a março deste ano, teve um respiro, com lucro de R$ 757 milhões. O que podia ser uma boa notícia veio acompanhada do anúncio da contratação de assessores financeiros para reestruturar a dívida.

A reestruturação inclui a troca de US$ 780 milhões que estão no mercado por papéis com vencimento maior. Com procura de apenas 17% dos investidores, a Gol já prorrogou quatro vezes o prazo de adesão e oferece peças de reposição como garantia. O novo prazo se encerra amanhã. Além da troca de títulos, a Gol negocia com Bradesco e Banco do Brasil a extensão do prazo de amortização de R$ 1 bilhão em debêntures (títulos da dívida) nas mãos dos bancos. A empresa tenta obter R$ 300 milhões em crédito junto a essas instituições.

EFEITO SOBRE OUTRAS EMPRESAS

Empresas como Azul e TAM seriam beneficiadas pela liberação de 100% do capital internacional. A Azul, controlada pelo empresário David Neeleman, tem sócios chineses que poderiam elevar a fatia na empresa. Neleman é investidor na portuguesa TAP. A Latam Brasil tem 20% do capital votante nas mãos de investidores capitaneados pela família Cueto, da chilena Lan. Os chilenos poderiam avançar mais. A Avianca, de Gérman Efromovich, poderia estreitar sua relação com a Avianca colombiana.

— Voltar a 20% de participação é um retrocesso. É preciso capitalizar as empresas. Mas de nada adianta só liberar o capital a estrangeiros se não mexer no custo Brasil — diz Percy Rodrigues, ex-presidente da Rio Sul Linhas Aéreas, que defende 49% de estrangeiros.

 

 

O globo, n. 30278, 30/06/2016. Economia, p. 22.