Valor econômico, v. 17, n. 4021, 08/06/2016. Brasil, p. C3

Em discurso austero, Ilan evita dar pistas sobre quando Selic cai

Por: Alex Ribeiro, Eduardo Campos e Edna Simão

 

Num discurso na defesa da austeridade monetária, o futuro presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, pregou o resgate dos princípios básicos do sistema de metas de inflação, durante sabatina ontem no Senado. Ele comprometeu-se a calibrar os juros para cumprir o centro da meta de inflação e também atuar no gerenciamento das expectativas do mercado financeiro.

Em sabatina no Senado, Ilan defende centro da meta e gerenciamento de expectativas do mercado

O economista fez uma leitura bem conservadora do papel do Banco Central, destacando que a sua ajuda para o crescimento econômico restringe-se em garantir a inflação sob controle e a estabilidade financeira.

Ele evitou sinalizações de como pretende conduzir a política monetária no curto prazo e de quando pretende cumprir a meta, em meio a especulações no mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá começar a cortar os juros básicos já a partir do segundo semestre.

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou, por 19 a 8, a indicação de Ilan para presidir o BC. No início da noite, seu nome foi ratificado pelo plenário da Casa.

"Nosso objetivo será cumprir plenamente a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, mirando o seu ponto central", disse Ilan, no discurso de abertura de sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. "Os limites de tolerância estabelecidos servem para acomodar choques inesperados na inflação, que não permitam a volta ao centro da meta em tempo hábil."

Com o discurso, Ilan marcou uma clara distinção em relação ao seu antecessor, Alexandre Tombini, que manteve nos últimos cinco anos e meio a inflação sempre acima do centro da meta e que na maior parte desse período usou o intervalo de tolerância como o objetivo de fato. Apenas a partir do começo do ano passado que o BC chefiado por Tombini passou a se comprometer com o cumprimento do centro da meta em 2016, que acabou sendo adiado para 2017.

No regime de meta de inflação, o Copom manipula os juros para cumprir uma meta de inflação de 4,5% estabelecida para 2016 e 2017. Para 2016, a meta prevê um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para baixo e para cima, de 2,5% a 6,5%. Para 2017, o intervalo é de 1,5 ponto, de 3% a 6%.

Com o índice de preços ao consumidor rodando acima de 9% devido sobretudo aos choques causados pela alta de tarifas e do câmbio em 2015, o futuro presidente do BC reconheceu que levará algum tempo para trazer a inflação ao centro da meta.

"Enquanto a inflação retorna ao centro da meta após eventuais choques, é fundamental o gerenciamento das expectativas no sistema de metas", disse Ilan, resgatando outro princípio do regime de metas - a coordenação das expectativas do mercado - que ficou em segundo plano durante a administração de Tombini. Apenas a partir do ano passado que o BC voltou a manejar a comunicação e a política monetária com o objetivo de ancorar as expectativas de mercado.

"É importante que as expectativas indiquem no presente uma trajetória que preveja a convergência para a meta em futuro não muito distante", disse Ilan.

Comparando com o BC atual, Ilan deu poucas pistas sobre como pretende conduzir a política monetária quando assumir o cargo. O Copom tem indicado que vai manter o juro básico da economia no patamar atual, de 14,25% ao ano, até que a inflação acumulada em 12 meses recue, que esteja assegurado que a inflação ficará abaixo de 6,5% neste ano e que a meta de 4,5% seja cumprida em 2017. Além disso, o Copom colocou o ancoramento das expectativas como pré-requisito para cortar o juro.

Questionado por senadores quando a Selic poderá cair, Ilan disse que isso ocorrerá "quando tivermos as condições para isso". Ele, no entanto, não apontou quais seriam essas condições, e lembrou que o Copom se reúne a cada 45 dias para avaliar o cenário e tomar as suas decisões sobre a taxa de juros.

O futuro comandante do BC não entrou em detalhes sobre quando pretende cumprir o centro da meta de inflação. Também não explicitou para qual "futuro não muito distante" espera que as expectativas presentes de inflação do mercado estejam ancoradas. Ou seja, se quer fazer o mercado apostar, desde já, no cumprimento da meta de inflação de 2016, 2017, 2018 ou um horizonte diferente de tempo.

No seu discurso e na sessão de perguntas e respostas, Ilan falou muito pouco sobre a conjuntura econômica, inflação e atividade econômica. Um raro juízo de valor ocorreu quando ele disse que o cumprimento da meta de inflação de 4,5% já está encaminhado.

Muitos analistas do mercado vêm apostando que, como a economia já está pagando um preço muito alto em termos de recessão, Ilan poderá anunciar uma convergência da inflação ao centro da meta num prazo mais longo que 2017, abrindo espaço para baixar a taxa básica de juros.

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