Valor econômico, v. 17, n. 4021, 08/06/2016. Política, p. A5

Planalto teme que crise leve a paralisação do Congresso

Por: Andrea Jubé / Bruno Peres

 

O Palácio do Planalto recebeu com preocupação a informação de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão da cúpula do PMDB, inclusive do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) por tentativa de interferir na Operação Lava-Jato. O maior receio é de que a crise paralise o Congresso Nacional e inviabilize a votação dos projetos de interesse do governo, sobretudo relativos ao pacote fiscal.

Na próxima semana, Temer pretende enviar ao Legislativo a proposta de emenda constitucional, em finalização no Ministério da Fazenda, que fixa um teto para os gastos públicos. Além disso, tem na agenda compromissos que prestigiam Renan como um de seus principais aliados. Na terça-feira, Temer aterrisa em Arapiraca, um dos principais municípios de Alagoas, onde sanciona a medida provisória que promove um pacote de bondades para pequenos agricultores familiares, conforme havia antecipado o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.

O evento será ao lado do governador de Alagoas, Renan Calheiros Filho (PMDB), e do aliado de Renan, deputado Marx Beltrão (PMDB-AL), que relatou a medida provisória. Temer também vai a Pernambuco, onde visita a obra de transposição do Rio São Francisco.

Um auxiliar de Temer no Planalto afirma que a avaliação da cúpula palaciana é de que a "crise atravessou a rua". Observou que finalmente, após algumas semanas, não se perguntou ontem no Planalto se algum ministro seria demitido. Mas reconheceu que a iniciativa de Janot é preocupante, em primeiro lugar, porque mira o presidente de um poder, um ex-presidente da República e o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá, todos lideranças do PMDB, partido de Temer. "Isso pode desencadear uma crise institucional, se o STF autorizar a prisão do presidente do Senado", avaliou esta fonte palaciana.

Além disso, Temer receia que recaia sobre o Senado a mesma paralisia que afetou a Câmara, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu afastar Eduardo Cunha da presidência da Casa e as votações ficaram suspensas durante semanas. Temer tem pouco tempo para aprovar matérias importantes: nos próximos dias, os parlamentares eleitos pelo Nordeste viajam para participar das Festas de São João. Na sequência, vem o recesso, na segunda quinzena de julho, começam os Jogos Olímpicos em agosto, edepois as eleições municipais.

Assessores de Temer afirmam que o presidente interino desconhecia as prisões e foi surpreendido, embora na semana passada houvesse rumores em Brasília da existência desses pedidos. Desde que assumiu o governo provisório, Temer não escondeu a preocupação com os desdobramentos da Lava-Jato, que obrigou a demissão de dois ministros nos primeiros 15 dias de sua gestão: Jucá do Planejamento e Fabiano Silveira, do Ministério da Transparência.

Nesse período, Temer encontrou-se com lideranças do Judiciário. Recebeu o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes no Palácio do Jaburu, e concedeu audiência a Rodrigo Janot.

Ontem Temer deu continuidade à pauta positiva que tenta implantar para retirar o governo do centro da crise. Sem estar previsto na agenda, ele compareceu à reunião do grupo de trabalho de organização dos Jogos Olímpicos na Casa Civil. Na reunião, anunciou que visitará o Centro Olímpico no Rio de Janeiro no dia 15.

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