Mudanças no IBGE e Ipea causam mal-estar

 

02/06/2016

Denise Neumann

Alessandra Saraiva

Robson Sales

Lucas Marchesini

 

 

Duas semanas depois de o então ministro do Planejamento Romero Jucá, afirmar que manteria Wasmália Bivar à frente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e anunciar o ex-secretário de Política Econômica Manoel Pires para presidir o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o governo surpreendeu ao anunciar que o economista Paulo Rabello de Castro será o presidente do IBGE e Ernesto Lozardo, do Ipea. As nomeações causaram espanto no corpo de funcionários das instituições, que criticaram a forma como o processo foi conduzido.

Ontem, a Associação dos Funcionários do Ipea (Afipea) divulgou nota de repúdio à nomeação de Lozardo, que substituiu o economista Manoel Pires, funcionário de carreira do instituto desde 2004. Pires havia sido nomeado para o instituto no dia 16 de maio. "Consideramos inaceitável que uma instituição de pesquisa e avaliação de políticas públicas, conhecida por sua excelência e comprometimento com o desenvolvimento do país, seja tratada com tamanho descaso", afirma o texto. De acordo com a Afipea, os servidores foram surpreendidos no fim da tarde de terça-feira com a troca.

A saída de Wasmália Bivar também deixou sobressaltado o corpo técnico do IBGE. Funcionários de carreira ouvidos pelo Valorficaram surpresos não somente com a saída abrupta da economista do cargo, que ocupava há quase cinco anos, como também com a escolha de seu substituto. O corpo técnico da instituição vê um conflito de interesses no fato de um economista do setor privado, que é dono de uma empresa que vende projeções econômicas e faz análise de rating, assumir a instituição. O sindicato dos servidores, Assibge, criticou em nota a escolha do novo presidente, citando a proximidade de Castro com o mercado.

"Trabalhamos com dados confidenciais e o presidente do IBGE tem acesso antecipado aos dados. Há um claro conflito de interesse nessa situação", diz um técnico de carreira do IBGE. Ele lembra que a instituição já foi várias vezes questionada sobre possível vazamento de dados. Não há resistência específica à figura de Rabello de Castro, diz ele, acrescentando que ele é "desconhecido da instituição". "A questão é garantir a credibilidade do IBGE", diz o técnico. "Será o primeiro presidente do instituto que não é funcionário de carreira desde o Sergio Besserman", lembrou outro interlocutor.

A presidente do IBGE comunicou ontem sua saída e classificou a transição de "conturbada". Ela disse ter tomado conhecimento pela imprensa de sua substituição pelo economista Paulo Rabello de Castro. "Infelizmente este processo de transição ocorreu de forma não muito protocolar", disse. Segundo ela, Paulo Rabello lhe telefonou para falar sobre sua substituição antes do Ministério do Planejamento, pasta à qual é subordinada. "Eu não estava esperando ", disse Wasmália.

 

Valor econômico, v. 17, n. 4017, 02/06/2016. Brasil, p. A6