Cristiane Jungblut e Eduardo Bresciani
Segundo relato obtido pelo GLOBO, Gleisi ligou para os colegas e disse que pensou em licenciar-se da comissão do impeachment, mas não houve apoio à ideia. No fim do dia, ela divulgou nota com ataques ao governo Michel Temer e vinculando a ação da Polícia Federal à votação do impeachment.
A reunião pela manhã contou com a presença do líder do PT, Paulo Rocha; Lindbergh, José Pimentel (PT-PE), Jorge Viana (PT-AC), Fátima Bezerra (PT-RN) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Gleisi, segundo os relatos feitos nessa reunião, contou que estava em casa e disse que não queria prejudicar ou enfraquecer a ação do PT na comissão.
— A Gleisi pediu para ficar fora hoje (ontem). Ela disse que queria conversar com outros para ver se realmente era o caso de licença — disse um senador.
Durante o encontro, Lindbergh contou que havia conversado com Lula duas vezes. O expresidente queria informações do caso. O senador do Rio mora no mesmo prédio e foi um dos primeiros a falar com Gleisi. Paulo Rocha também falou com a colega. Mais tarde, disse ao GLOBO que ela não vai se afastar:
— Ela está abatida, mas deve continuar firme. É preciso que haja um rito, não dá para sair prendendo todo mundo por causa de uma denúncia.
Em nota, Gleisi afirmou que a operação de ontem teve como objetivo desviar o foco do governo interino de Michel Temer. Disse ainda que a ação teria relação com o processo de impeachment. “Não me cabe outra explicação que não o desvio de foco da opinião pública deste governo claramente envolvido em desvios, em ataques aos direitos conquistados pela população. Garantir o impeachment é tudo o que mais lhes interessa neste momento”, diz a senadora.
Os mais indignados na reunião eram Jorge Viana, Fátima Bezerra e Vanessa Grazziotin. Viana foi quem puxou a tese de que a ação na casa da senadora era indevida. Os senadores ressaltaram que era preciso reagir.
— Não é para a gente baixar a cabeça — disse Fátima Bezerra.
Outros previam um dia difícil e preferiam esperar o desenrolar dos acontecimentos para se manifestar.
— Hoje (ontem) é dia de apanhar (e não de responder) — afirmou Pimentel.
Depois da reunião, Lindbergh disse que pode haver “motivação política” na prisão de Paulo Bernardo:
— Esse inquérito existe há um ano, já teve depoimento e tudo. Qual o sentido disso tudo, além do espetáculo e do constrangimento? Desconfiamos que tem motivação política.
Ele defende que Gleisi continue na comissão, onde tem sido uma das mais combativas na defesa da presidente Dilma.
— É difícil pensar em uma pessoa mais honesta e íntegra que a Gleisi. É uma grande mulher, batalhadora, e venho lhe trazer um apoio forte e vigoroso: não esmoreça! — afirmou Lindbergh.
No plenário do Senado, houve desagravo a Gleisi. Além de petistas, falaram Elmano Ferrer (PTB-PI), Valdir Raupp (PMDB-RO) — também investigado na Lava-Jato —, Lasier Martins (PDT-RS) e Ana Amélia (PP-RS), que é integrante da comissão do impeachment.
— Não celebro a prisão, mesmo de um adversário político. Acho que isso não é motivo para alegria e regozijo de quem quer que seja e que tenha responsabilidade. Mas esse é um sinal muito claro de que essas instituições estão tratando todos de maneira igual perante a lei. A lei é igual para todos, então não importa que seja o presidente da República, o vice-presidente do Senado ou da Câmara — disse Ana Amélia.