'Hoje é dia de apanhar'

Cristiane Jungblut e Eduardo Bresciani

 
24/06/2016
 
 
Reunião de emergência após prisão de Paulo Bernardo e, a pedido de Lula, decidem não ‘abaixar a cabeça’; Gleisi, em nota, diz que operação foi para garantir impeachment de Dilma
Mesmo reconhecendo que ontem era “dia de apanhar”, a ordem no comando do PT após a prisão de Paulo Bernardo foi a de “não abaixar a cabeça”. A pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, senadores do PT e outros integrantes da tropa de choque de Dilma Rousseff fizeram na manhã de ontem uma reunião de emergência para traçar uma estratégia de defesa da presidente afastada, Dilma Rousseff, do partido e da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ex-ministro Paulo Bernardo. Lula conversou com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) para obter informações do caso e exigiu uma reação.

Segundo relato obtido pelo GLOBO, Gleisi ligou para os colegas e disse que pensou em licenciar-se da comissão do impeachment, mas não houve apoio à ideia. No fim do dia, ela divulgou nota com ataques ao governo Michel Temer e vinculando a ação da Polícia Federal à votação do impeachment.

A reunião pela manhã contou com a presença do líder do PT, Paulo Rocha; Lindbergh, José Pimentel (PT-PE), Jorge Viana (PT-AC), Fátima Bezerra (PT-RN) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Gleisi, segundo os relatos feitos nessa reunião, contou que estava em casa e disse que não queria prejudicar ou enfraquecer a ação do PT na comissão.

— A Gleisi pediu para ficar fora hoje (ontem). Ela disse que queria conversar com outros para ver se realmente era o caso de licença — disse um senador.

Durante o encontro, Lindbergh contou que havia conversado com Lula duas vezes. O expresidente queria informações do caso. O senador do Rio mora no mesmo prédio e foi um dos primeiros a falar com Gleisi. Paulo Rocha também falou com a colega. Mais tarde, disse ao GLOBO que ela não vai se afastar:

— Ela está abatida, mas deve continuar firme. É preciso que haja um rito, não dá para sair prendendo todo mundo por causa de uma denúncia.

Em nota, Gleisi afirmou que a operação de ontem teve como objetivo desviar o foco do governo interino de Michel Temer. Disse ainda que a ação teria relação com o processo de impeachment. “Não me cabe outra explicação que não o desvio de foco da opinião pública deste governo claramente envolvido em desvios, em ataques aos direitos conquistados pela população. Garantir o impeachment é tudo o que mais lhes interessa neste momento”, diz a senadora.

Os mais indignados na reunião eram Jorge Viana, Fátima Bezerra e Vanessa Grazziotin. Viana foi quem puxou a tese de que a ação na casa da senadora era indevida. Os senadores ressaltaram que era preciso reagir.

— Não é para a gente baixar a cabeça — disse Fátima Bezerra.

Outros previam um dia difícil e preferiam esperar o desenrolar dos acontecimentos para se manifestar.

— Hoje (ontem) é dia de apanhar (e não de responder) — afirmou Pimentel.

Depois da reunião, Lindbergh disse que pode haver “motivação política” na prisão de Paulo Bernardo:

— Esse inquérito existe há um ano, já teve depoimento e tudo. Qual o sentido disso tudo, além do espetáculo e do constrangimento? Desconfiamos que tem motivação política.

Ele defende que Gleisi continue na comissão, onde tem sido uma das mais combativas na defesa da presidente Dilma.

— É difícil pensar em uma pessoa mais honesta e íntegra que a Gleisi. É uma grande mulher, batalhadora, e venho lhe trazer um apoio forte e vigoroso: não esmoreça! — afirmou Lindbergh.

No plenário do Senado, houve desagravo a Gleisi. Além de petistas, falaram Elmano Ferrer (PTB-PI), Valdir Raupp (PMDB-RO) — também investigado na Lava-Jato —, Lasier Martins (PDT-RS) e Ana Amélia (PP-RS), que é integrante da comissão do impeachment.

— Não celebro a prisão, mesmo de um adversário político. Acho que isso não é motivo para alegria e regozijo de quem quer que seja e que tenha responsabilidade. Mas esse é um sinal muito claro de que essas instituições estão tratando todos de maneira igual perante a lei. A lei é igual para todos, então não importa que seja o presidente da República, o vice-presidente do Senado ou da Câmara — disse Ana Amélia.