Valor econômico, v. 17, n. 4016, 01/06/2016. Brasil, p. A4

Número de desempregados sobe 42% em um ano e vai a 11 milhões

Por: Arícia Martins/ Robson Sales

Por Arícia Martins e Robson Sales | De São Paulo e do Rio

 

Sob os efeitos da forte retração da atividade econômica, o contingente de desempregados no país aumentou 42,1% de fevereiro a abril em relação a igual período do ano passado, para 11,4 milhões de pessoas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), variação recorde. Como percentual da força de trabalho, a taxa de desemprego ficou em 11,2% no período, também pior resultado da série da pesquisa, iniciada em 2012, e 3,2 pontos acima da registrada no mesmo trimestre de 2015.

As demissões continuam liderando o desaquecimento do mercado de trabalho - a população ocupada diminuiu 1,7% no trimestre encerrado em abril, frente ao mesmo intervalo do ano passado, queda que chegou a 11,8%na indústria. Já a força de trabalho (empregados e pessoas à procura de uma vaga) avançou 1,8% na mesma comparação, desempenho que, para alguns analistas, traz sinais de desalento, dado que a forte contração da renda poderia ter levado a uma alta mais significativa da procura por uma vaga. No dado de abril, o rendimento médio real dos trabalhadores encolheu 3,3% sobre igual período de 2015.

Bruno Campos, da LCA Consultores, destaca que a contribuição da força de trabalho para o avanço do desemprego está relativamente estável, em 1,6 ponto, o que representa risco adicional de aumento maior da desocupação à frente. "Em função dos menores ganhos reais no domicílio, pessoas fora da força de trabalho teriam maiores incentivos para entrar no mercado de trabalho. Contudo, a força de trabalho tem avançado de maneira irregular, e aquém do que se espera num quadro recessivo tão severo como o que vivemos", disse.

Nos cálculos da LCA com ajuste sazonal, a taxa de participação - parcela da população em idade ativa que está no mercado - está no mesmo nível desde meados de 2015, pouco abaixo de 61,5%. "Isso nos leva a supor que o desalento tem predominado nas decisões de oferta de mão de obra", afirma Campos, para quem, mesmo com menor pressão da força de trabalho, a taxa de desemprego na média de 2016 deve subir 2,8 pontos ante 2015, para 11,3%, puxada mais pela contração da ocupação.

Já Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, avalia que a expansão da taxa de participação também terá influência relevante no aumento do percentual de desempregados, que, em suas estimativas, chegará a 12% na média anual. A maior procura por trabalho, diz Thais, deriva não só da redução da renda familiar, mas também do acesso mais restrito a programas de financiamento ao ensino superior, como Fies e ProUni.

Na taxa de desocupação de 10,9% registrada de janeiro a março (último dado da Pnad com aberturas por idade disponíveis), observa a economista, 1,1 ponto percentual são explicados pela faixa etária de 14 a 17 anos, enquanto o estrato de 18 a 24 anos contribuiu com 3,6 pontos. "Neste ano, devemos ter entre 2 e 2,5 milhões de pessoas ingressando no mercado de trabalho. Dificilmente todo esse contingente será absorvido."

"Tudo que acontece no mercado de trabalho é reflexo do cenário econômico", afirmou o coordenador de trabalho e emprego do IBGE, Cimar Azeredo. A desocupação, destacou, cresce há 17 trimestres móveis seguidos. O nível da ocupação, que mede o percentual de empregados em relação a pessoas em idade de trabalhar, caiu para 54,6%, o menor patamar da série para o trimestre encerrado em abril.

Para Luiz Fernando Castelli, da GO Associados, não há indícios de desalento na Pnad, mas, por outro lado, o processo de precarização no mercado de trabalho continua. Enquanto, na média, a ocupação recuou 1,7% entre fevereiro e abril de 2015 e o mesmo período deste ano, o total de trabalhadores por conta própria avançou 4,9% em igual análise, e o contingente de trabalhadores domésticos subiu 4%. Já o número deempregados com carteira assinada no setor privado ficou 4,3% menor, o equivalente a uma perda de 1,5 milhão de postos na comparação anual.

"As pessoas estão perdendo seus empregos com carteira e migrando para outras atividades", comentou o economista da GO, troca de postos que tem impacto negativo na renda, uma vez que ocupações fora do mercado formal pagam menores salários. De fevereiro a abril, o rendimento real dos ocupados por conta própria diminuiu 5,1% sobre igual período do ano anterior, retração mais forte que a observada no segmento de trabalhadores com carteira, que foi de 0,8%.

A massa real de rendimentos, por sua vez, caiu 4,3% em relação ao mesmo trimestre móvel do ano passado, para R$ 173,3 bilhões, menor nível desde o trimestre encerrado em junho de 2013. "Ou seja, há menos dinheirocirculando no mercado, e com isso você vai ter problemas no consumo", apontou Azeredo.