Valor econômico, v. 17, n. 4016, 01/06/2016. Política, p. A9

TEMER TENTA AGENDA POSITIVA CONTRA EFEITOS DA LAVA-JATO

Por: Andrea Jubé / Bruno Peres

Por Andrea Jubé e Bruno Peres | De Brasília

 

Preocupado com os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que abateu em tempo recorde dois ministros de seu governo, o presidente interino Michel Temer foi aconselhado a reagir e produzir fatos positivos para tirar o governo da defensiva.

Hoje, na posse dos novos presidentes dos bancos públicos e da Petrobras, Temer reafirmará seu compromisso com o combate à corrupção e a retomada do crescimento econômico. O novo ministro da Transparência, Fiscalização e Controle também deve ser anunciado até o final do dia.

Temer aproveitará a posse coletiva no Palácio do Planalto para fazer um discurso enfático em defesa da Lava-Jato e reforçar o apelo ao Congresso Nacional pela aprovação das medidas de ajuste fiscal. Serão empossadoscomo presidentes Pedro Parente (Petrobras), Maria Silvia Bastos (BNDES), Paulo Caffarelli (Banco do Brasil), Gilberto Occhi (Caixas Econômica Federal), além de Ernesto Lozardo, no Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada, substituindo Manoel Pires. Lozardo, uma mudança de última hora, foi secretário de Planejamento de São Paulo. Pires havia sido nomeado há apenas quinze dias.

Ainda hoje, Temer pretende anunciar o sucessor de Fabiano Martins Silveira no Ministério. O mais cotado é o advogado e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Torquato Jardim, com quem o presidente interino sereuniu ontem. Outra sondada para assumir a função foi a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon.

Temer está determinado a desvincular a imagem de seu governo de fatos negativos. Ontem ele apressou a escolha do novo líder do governo no Senado, escolhendo o ex-líder da bancada tucana Aloysio Nunes Ferreira (SP). A indefinição arrastava-se há duas semanas.

Ele também se reuniu com as lideranças da base na Câmara dos Deputados em um almoço na casa do líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), para demonstrar a solidez de sua base de apoio.

Temer e seu entorno foram informados de que existem 60 horas de gravação de conversas efetuadas pelo delator Sérgio Machado com caciques do PMDB. Temer receia também os efeitos das delações premiadas do presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e do presidente da OAS, José Aldemário, conhecido como Léo Pinheiro, com impacto previsto em todo o meio político, do PT, ao PMDB, passando pelo PSDB.

No sábado à noite, Temer recebeu no Palácio do Jaburu o ministro do STF e presidente do TSE, Gilmar Mendes, de quem é amigo próximo, para discutir informalmente o tema.

Ontem, embora não constasse da pauta oficial, o assunto foi ventilado na audiência concedida ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que é citado nas conversas gravadas por Sérgio Machado.

Ontem o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, afirmou que "todas as delações serão respondidas", em alusão aos acordos fechados com o Ministério Público por Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro.

"Na democracia não se pode temer troca de ministros", disse Geddel.

Em outro esforço de agenda positiva, Temer abriu ontem a reunião dos secretários de segurança pública para anunciar medidas de combate à violência, na esteira da comoção popular em torno do crime de estupro coletivo no Rio de Janeiro.

Temer anunciou a criação de um órgão de combate à violência contra a mulher, e defendeu maior cooperação entre os entes federados para combater a onda crescente de violência. Ainda hoje, Temer receberá um grupo de sindicalistas para discutir a reforma da previdência social, e tem no horizonte viagens para visitar grandes obras, como a Ferrovia Norte Sul.

A suspeita de que atuariam para barrar ou conturbar o avanço da Lava-Jato abateu dois ministros de Temer nas duas primeiras semanas do novo governo. Na semana passada, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), do núcleo mais próximo a Temer, foi exonerado do Ministério do Planejamento após a revelação de diálogos em que criticou a investigação e atuação do Ministério Público Federal.

Jucá é investigado em inquérito relativo à corrupção na Petrobras em andamento no Supremo Tribunal Federal.

Na segunda-feira, o então ministro da Transparência, Fabiano Martins Silveira, também flagrado em diálogos criticando a Lava-Jato e os procuradores que atuam na investigação, pediu demissão, embora convidado por Temer a permanecer no cargo. Em ambos os casos, as conversas foram gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em acordo de delação premiada.