O presidente interino, Michel Temer, recebeu domingo à noite, no Palácio do Jaburu, o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ). Os dois conversaram sobre o “quadro político”, segundo interlocutores de Temer. Cunha teve pedido de cassação do mandato aprovado pelo Conselho de Ética da Câmara e aguarda a votação do processo no plenário da Casa.

Um auxiliar do presidente interino disse que a ideia era manter o caráter reservado do encontro. Quando soube que a notícia da reunião se tornara pública, no entanto, Temer minimizou a realização do encontro.

— Converso com todo mundo. Embora afastado, ele é um deputado no exercício do seu mandato — disse Temer, segundo esse auxiliar.

CUNHA NEGA ENCONTRO

Embora a Presidência da República tenha confirmado o encontro, Cunha negou que ele tenha ocorrido: “Não estive ontem com ele (Temer). Se enganaram. Ontem não estive, já estive em outra oportunidade. Devem ter se enganado de data”, disse por mensagem ao GLOBO.

Na última sexta-feira, em entrevista, Temer disse que continua conversando com Cunha e que não vê problema algum em manter encontros com o colega de partido

— Ele (Cunha) esteve comigo, acho que há umas três semanas. Fizemos uma análise desse quadro dramático que ele vive, mas ele não me atrapalha em nada. Absolutamente em nada. É natural (que falem que eu trabalhe por ele), não tenho que dar atenção a essas coisas — disse o presidente interino.

Na ocasião, Temer afirmou que está sendo tratada com preconceito a manutenção de conversas com pessoas investigadas ou de outro grupo político.

— Aqui no Brasil temos esse preconceito, se acha que não pode falar com ninguém. No governo (Dilma), quando eu falava com a oposição, o governo ficava irritado, dizendo que eu estava traindo o governo, o que é uma ignorância em matéria política. Eu falo com todo mundo. Tenho 33 anos de vida pública, falo com todo mundo — reforçou o presidente interino.

ALIADO DE CUNHA RELATARÁ RECURSO

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Osmar Serraglio (PMDB-PR), escolheu ontem o deputado Ronaldo Fonseca (DF), do PROS, para relatar o recurso apresentado pela defesa de Cunha.

Em dezembro do ano passado, Fonseca chegou a conversar com integrantes do Conselho de Ética para convencê-los a votar contra o relatório elaborado por Fausto Pinato — relator destituído depois por Cunha — que pedia a admissibilidade do processo de quebra de decoro contra o presidente afastado. Apesar de ter atuado junto a membros do Conselho, Fonseca não era sequer membro do órgão.

Em nota, Serraglio elogiou Fonseca, a quem chamou de “prestigiado parlamentar”, e exaltou sua “competência e experiência como advogado”. No documento, entregue semana passada, Cunha questionou vários pontos do relatório elaborado pelo Conselho de Ética e que pode levar à cassação de seu mandato. Um dos questionamentos foi o de que o relator do processo, deputado Marcos Rogério, que era do PDT quando foi escolhido, mudou para o DEM, partido do mesmo bloco do PMDB, o que não é permitido. Rogério alega que, quando seu nome foi escolhido, ele era do PDT, e que, por isso, o questionamento de Cunha não tem razão de ser.

O globo, n. 30272016. País,6, 28/06/2016 p. 5.