PF: esquema criminoso financiou caixa dois de Eduardo Campos

22/06/2016

 

 

Há ligação com Lava-Jato; donos do avião que caiu com o candidato são de fachada

Quatro pessoas foram presas ontem em uma operação da Polícia Federal (PF) — batizada de Turbulência — que investiga a ligação entre o avião que caiu com o ex-governador de Pernambuco e então candidato à Presidência da República pelo PSB, Eduardo Campos, em agosto de 2014, em Santos (SP), e uma organização especializada em lavagem de dinheiro. O esquema teria movimentado mais de R$ 600 milhões. Uma quinta pessoa permanecia foragida até a ontem noite. Há suspeita de que parte dos recursos serviu para pagamento de propina a políticos e formação de caixa dois desde 2010.

A Polícia Federal constatou que empresas envolvidas na compra do avião eram de fachada, constituídas em nome de “laranjas”, e que realizavam diversas transações entre si e com outras empresas fantasmas, inclusive com algumas investigadas na Operação Lava-Jato.

Os empresários João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho e Eduardo Freire Bezerra Leite foram presos quando desembarcavam, pela manhã, em São Paulo e levados para Recife. Mello Filho seria um dos donos do jato que levou Campos, segundo a empresa AF Andrade, que tem o registro da aeronave na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em 2014, o PSB afirmou que o uso do jato na campanha eleitoral havia sido autorizado por Mello Filho e Apolo Santana Vieira.

Vieira, também empresário, foi preso numa academia de Recife. Já Arthur Roberto Lapa Rosal foi preso em casa, em Vitória de Santo Antão (PE). O quinto mandado, em aberto, é para Paulo César de Barros Morato. Os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

Duzentos policiais federais cumpriram 33 mandados de busca e apreensão, 24 de condução coercitiva e cinco de prisão preventiva. A investigação começou a partir da análise de movimentações financeiras suspeitas detectadas nas contas de algumas empresas envolvidas na aquisição da aeronave Cessna Citattion prefixo PR-AFA. A PF identificou que as empresas eram de fachada. Elas foram constituídas, segundo a PF, em nome de “laranjas”. Durante as apurações, os agentes chegaram até nomes conhecidos de grupos citados na Lava-Jato. A PF informou que o grupo atuava em Goiás e Pernambuco.

EMPRESAS NA MIRA DA LAVA-JATO

A Câmara & Vasconcellos, uma das empresas investigadas pela Operação Turbulência, também está no radar da Lava-Jato. Num dos inquéritos abertos pela Procuradoria-Geral da República, a PF investiga uma suposta prática de agiotagem por parte de João Carlos Lyra Pessoa — alvo da operação de ontem e um dos três empresários de Pernambuco que compraram o jato Cessna.

O nome da empresa apareceu na delação do doleiro Alberto Youssef, que identificou um depósito de R$ 100 mil em janeiro de 2011. O doleiro disse que o depósito à Câmara & Vasconcelos referia-se a pagamento de dívida de campanha do senador Benedito de Lira (PP-AL), de 2010.

Ano passado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou abertura de inquérito contra o senador e seu filho, o deputado Arthur de Lira (PP-AL), e o aprofundamento das investigações sobre a Câmara & Vasconcelos. Na época, o senador negou o recebimento de propina e irregularidades na campanha.

Em nota, o PSB afirma ter plena confiança na conduta de Campos. O partido diz que apoia a apuração das investigações e reafirma a certeza de que, ao final, não restarão quaisquer dúvidas de que a campanha de Campos não cometeu nenhum ato ilícito. A defesa de Paulo César de Barros Morato informou que ele “não fugiu, apenas não deve estar sabendo” do ocorrido. (Com G1. Colaborou Renato Onofre)

 

 

O globo, n. 30270, 22/06/2016. País, p. 7.