Temer desmente cortes em área social

 

02/06/2016

Andrea Jubé

Bruno Peres

 

 

Em um duro pronunciamento, na posse conjunta dos novos presidentes da Petrobras, dos bancos públicos e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o presidente interino Michel Temer afirmou que o país encontra-se mergulhado "em uma das crises mais graves" da história, mas que é possível reverter esse quadro para retomar a confiança e o crescimento. Temer desmentiu que cortará investimentos na saúde e na educação, disse que não vai interferir na Operação Lava-Jato e voltou a pedir união nacional para retirar o país da crise atual.

Na véspera da posse, Temer divulgou os nomes dos novos presidentes do Ipea e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), substituindo os indicados para os cargos pelo ex-ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR). Ontem o economista Ernesto Lozardo tomou posse na presidência do Ipea. E Temer anunciou, durante a solenidade, que o economista Paulo Rabello de Castro, que acabara de retornar de uma viagem, assumirá nos próximos dias a presidência do IBGE no lugar de Wasmália Bivar.

Manoel Pires, que é funcionário de carreira do Ipea e foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda na gestão de Nelson Barbosa, havia sido escolhido por Jucá e foi nomeado no dia 16 de maio. Ficou 15 dias no cargo e soube, na terça-feira, que seria substituído por Lozardo. O Planejamento também havia confirmado que Wasmália, nomeada pela presidente afastada Dilma Rousseff, continuaria no comando do IBGE.

Contudo, sem aceno concreto de retorno de Romero Jucá para o Planejamento, Temer decidiu, em conjunto com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mudar o comando do Ipea e do IBGE. Os nomes de Lozardo e Rabello de Castro foram escolhidos por Temer e Meirelles.

Empenhado em descolar o governo do noticiário negativo, que abateu dois ministros implicados em suspeitas de interferência na Lava-Jato - Romero Jucá, do Planejamento, e Fabiano Silveira, da Transparência, Fiscalização e Controle - Temer reafirmou no discurso de ontem que não vai interferir na investigação. "A toda hora eu leio uma ou outra notícia de que o objetivo é derrubar a Lava-Jato, por isso que eu tomo a liberdade, sem nenhum deboche, de dizer pela enésima vez: não haverá a menor possibilidade de qualquer interferência do executivo nessa matéria", enfatizou.

Em meio ao avanço da investigação do esquema de corrupção que dilapidou a Petrobras, Temer recomendou ao novo presidente da estatal, Pedro Parente, que resgate a confiança e a solidez da empresa. "Uma empresa que encheu de orgulho os brasileiros durante décadas, mas que foi vitimada por práticas que a desmerecem. Empresas dessa importância devem ser cuidadas, valorizadas e recuperadas", ressaltou.

No mesmo pronunciamento, Temer ressaltou que o cenário de crise exigirá "sacrifícios", mas rebateu os ataques da presidente afastada Dilma Rousseff e de seus aliados, de que reduzirá investimentos em saúde e educação. "Quero registrar, para não haver exploração no sentido contrário, e sem embargo da redução, da limitação das despesas, os percentuais referentes a saúde e a educação não serão modificados", advertiu. "Porque muitas e muitas vezes ouço, vejo, ouço, leio afirmações de que esse governo vai destruir tudo que diz respeito àquilo que mais toca aos setores sociais", reforçou.

Temer não quis usar a expressão "herança maldita", mas observou que recebeu o governo numa conjuntura negativa, resultado de erros que se acumularam nos últimos anos. "Até ouço dizer que o governo Temer, que tem 19 dias, tem 11 milhões e meio de desempregados. Percebem?", criticou.

Temer observou que recebeu um governo com mais de 11 milhões de desempregados, inflação que inspira vigilância e um déficit calculado em R$ 170 bilhões. Para sair desse cenário, disse que montou uma equipe econômica "que é aplaudida em todos os setores da sociedade" e voltou a pedir união nacional e tempo. "Nós sabemos que todas essas medidas não resolverão da noite para o dia os nossos imensos problemas, mas é preciso imediatamente recuperar a confiança do povo brasileiro no seu futuro".

 

Valor econômico, v. 17, n. 4017, 02/06/2016. Especial, p. A14