Parente acena com venda de ativos

 

02/06/2016

Rafael Bitencourt

Eduardo Campos

Bruno Peres

 

 

O novo presidente da Petrobras, Pedro Parente, reconheceu que dificilmente poderá contar com o apoio financeiro do governo federal diante da atual situação das contas públicas, o que praticamente descarta a possibilidade de aporte de recursos do acionista controlador. Ele chegou a mencionar a fala do presidente interino Michel Temer, que discursou na cerimônia, em que foi feita referência ao déficit da ordem de R$ 170 bilhões registrado no orçamento deste ano.

Parente: Tesouro não terá como ajudar em um aporte financeiro da Petrobras, em função da crise financeira

"Como é que a empresa poderia contar com o Tesouro numa situação dessa?", indagou Parente durante a entrevista. Ele mesmo cuidou de dar a resposta. "Temos que resolver a situação com nossos próprios meios e isso passa sim pela venda de ativos", respondeu o novo presidente da Petrobras admitindo a manutenção de uma das estratégias assumidas pela gestão anterior, do ex-presidente Aldemir Bendine.

O ato da posse de Parente foi assinado pelo presidente do conselho de administração da Petrobras, Nelson Carvalho. O único a discursar no evento, Temer disse que a chegada do novo presidente da estatal faz ressurgir a expectativa de que a companhia volte a ser um orgulho nacional.

Na mesma linha, Parente disse que trabalhará com "muita determinação" para que a companhia possa "voltar a ter o papel e a relevância que sempre teve". O novo presidente também foi questionado sobre qual será a estratégia para pôr fim à influência política na empresa, apontada como a origem dos maiores problemas enfrentados atualmente - seja em relação à corrupção revelada pela operação Lava-jato, Polícia Federal, ou aos prejuízos de projetos mal geridos. Ele foi taxativo na resposta. "A influência política já acabou".

Sobre o alto endividamento da Petrobras, Parente ressaltou que a companhia já tem um plano em andamento conduzido sob o comando do diretor da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores, Ivan Monteiro.

"Ele vem trabalhando com muito sucesso. Fizemos recentemente uma emissão de títulos que teve uma demanda muito acima da oferta", afirmou Parente. Para ele, a Petrobras terá condição de ajudar o país a recuperar sua economia. Ele chegou a comentar a divulgação do resultado negativo da economia brasileira anunciado ontem, que encolheu 0,3% no primeiro trimestre deste ano, frente três as meses anteriores.

Parente garantiu que a companhia, quando começar a se recuperar, terá condições de dar uma maior contribuição ao país. "A Petrobras foi e voltará a ser um motor de desenvolvimento. A empresa contribuirá para reverter esse PIB negativo", ressaltou.

Ao comentar sobre a política de preços do combustível que será adotada, o novo presidente da Petrobras afirmou que as decisões serão de "natureza empresarial". Segundo ele, essa foi uma questão acertada com o presidente Temer antes de sua ida para o comando da estatal.

Para Parente, a definição dos preços da gasolina e do diesel no mercado interno deve está alinhada com a lógica de "gestão profissional" da companhia. Ele disse que não responderia se já está nos planos da nova diretoria aumentar os preços dos combustíveis no país no curto prazo.

Outro tema inevitável para a nova gestão da Petrobras é a forte queda nos preços internacionais do barril do petróleo que põe em dúvida a viabilidade da exploração de reservas do pré-sal. Parente se limitou a fazer um comentário: "Certas coisas não controlamos, o preço do petróleo é uma delas".

 

Valor econômico, v. 17, n. 4017, 02/06/2016. Especial, p. A14