Cunha é avisado que aliados apoiarão cassação em plenário

21/06/2016

-BRASÍLIA- Com a base de aliados se esfarelando, cresceu nos últimos dias a pressão para que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), renuncie à presidência da Casa e facilite a transição do cargo no momento de votação do ajuste fiscal. Segundo relatos de deputados que foram à sua casa, o apelo pela renúncia foi renovado, mas Cunha acha que ainda não é a hora e não deve anunciar essa decisão hoje, na entrevista coletiva marcada para 11 horas. Segundo aliados, Cunha deve abordar o conteúdo do recurso que fará ao Conselho de Ética.

Desde o fim da semana passada Cunha chamou aliados mais próximos para discutir sua situação, antes do pronunciamento. Questionados sobre os encontros, os líderes Rogério Rosso (PSD-DF) e Jovair Arantes (PTB-GO) desconversaram e negaram ter participado de reuniões no domingo ou até o início da noite de ontem. Mas, segundo interlocutores, ocorreram reuniões fora da residência para discutir saídas para o aliado.

SEM VOTOS PARA SE SALVAR

A deterioração da situação de Cunha é evidente. Um dos oito deputados que foram até o fim em defesa dele na votação em que foi derrotado no Conselho de Ética, Laerte Bessa (PR-DF) espera que ele anuncie hoje a renúncia à presidência da Câmara e já o avisou que votará pela cassação. O deputado avalia que o presidente afastado não terá votos para salvar seu mandato em plenário.

Na conversa que teve com Bessa e outros aliados na quinta-feira, Cunha, segundo relatos, parou de reagir à pressão pela renúncia à presidência, mas disse que achava não ser ainda a hora de fazê-la. Como Bessa, outros aliados de Cunha já o teriam avisado que não terão como votar contra o parecer que pede sua cassação no plenário.

— O Cunha já admite a hipótese de renunciar mas acha que ainda não está na hora. Ele nos disse que estava aguardando o momento certo. Ele perdeu. Paciência, agora tem que enfrentar. Acho muito difícil que ele não anuncie a renúncia nesta terça-feira. Nós o defendemos no Conselho de Ética até o fim, só que as acusações aumentaram muito e sua situação ficou irreversível. Por isso estamos pedindo que ele renuncie à presidência, em favor do Brasil — disse Bessa ao GLOBO.

Bessa disse a Cunha que ele não terá chance no plenário. Contou que fez uma pesquisa informal e constatou que Cunha não terá os votos necessários para impedir a cassação, já que muitos deputados são candidatos a prefeito e têm problemas nos seus redutos eleitorais. Os exemplos da perda de apoio do peemedebista vêm de seus parceiros mais próximos. Aliado de primeira hora de Cunha, Washington Reis (PMDBRJ), que é candidato a prefeito de Caxias, escapou pela tangente ao ser perguntado como votaria em plenário:

— Política é uma coisa muito dinâmica — respondeu Reis.

O deputado Carlos Marun (PMDBMS) esteve ontem novamente com Cunha e reiterou o apelo pela renúncia.

— A renúncia poderia distensionar o ambiente na Casa. Como eu, há mais parlamentares que acreditam na tese de que quem tem que julgar é o Supremo. Ele ouviu e não respondeu. Teve uma vez que eu sugeri isso e ele reagiu de forma enérgica. Desta vez está ouvindo — disse Marun.

Ao GLOBO, por meio de torpedo, Cunha voltou a negar que irá renunciar à presidência da Câmara, mas disse respeitar a opinião dos que defendem isso.

 

O globo, n. 30269, 21/06/2016. País, p. 5