O globo, n. 30265, 17/06/2016. País, p. 5

FAB DIZ QUE NÃO TEM REGISTROS DE ENTRADA NA BASE AÉREA EM 2012

Padilha afirma que não há prova de encontro entre Temer e delator
Por: Fernanda Krakovics/ Vinicius Sassine/ Silvia Amorim
 
 
FERNANDA KRAKOVICS, VINÍCIUS SASSINE
E SILVIA AMORIM
opais@oglobo.com.br
 
-RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO- Depois de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, afirmar, em delação premiada, que o presidente interino Michel Temer lhe pediu dinheiro para a campanha eleitoral de Gabriel Chalita durante um encontro na Base Aérea de Brasília, em 2012, “provavelmente” no mês de setembro, a Força Aérea Brasileira (FAB) afirmou ontem que já não tem mais os registros de entrada e saída da Base relativos ao ano citado.

Segundo Machado, Temer pediu recursos de propina para a campanha de Chalita à prefeitura de São Paulo em reunião de 15 a 20 minutos em uma sala na Base Aérea de Brasília. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, o ex-presidente da Transpetro disse que repassou R$ 1,5 milhão por meio de doação oficial da construtora Queiroz Galvão, que tinha contratos com a subsidiária da Petrobras. O dinheiro teria sido destinado ao diretório nacional do PMDB. Machado classificou o montante como propina.

“Com relação aos questionamentos, informamos que a Base Aérea de Brasília não dispõe dos registros relativos ao ano de 2012”, afirmou a FAB, em resposta encaminhada pela assessoria de imprensa.

Segundo a Aeronáutica, só há registros dos últimos dois anos. Ainda de acordo com a FAB, essas anotações são manuais e, mesmo que existissem as de 2012, elas poderiam não informar os nomes dos visitantes à Base Aérea. São permitidos acessos dos carros oficiais e de autoridades sem necessariamente identificá-las na entrada. Muitas vezes, apenas o responsável — o motorista, por exemplo — é identificado.

Ontem, durante evento em São Paulo, antes que a FAB informasse que não dispõe dos registros sobre os encontros na Base Aérea, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, defendeu que Temer não seja investigado pela citação feita por Machado em delação. Para Padilha, não há provas mínimas para que seja aberta uma apuração.

— A citação é de um encontro que não existe. Eu convivo com o presidente Michel há 22 anos e sei que, se ele diz que não existe, é porque não existe. Teria que vir junto uma prova mínima de que tal encontro existiu (para haver investigação).

De acordo com a delação do ex-presidente da Transpetro, Temer nem chegou a perguntar qual seria a empresa doadora para a campanha de Chalita. Segundo Machado, o então vice-presidente da República foi avisado depois do suposto encontro na Base Aérea a respeito da origem dos recursos. Machado contabilizou como dinheiro ilícito o montante doado pela empreiteira Queiroz Galvão.

— Dentro do mundo político, todo mundo sabe da origem, mas eu nunca falei. Posso imaginar que eles sabiam de onde vinham. As empresas que contribuem são as mesmas. Elas não têm nenhum interesse partidário. Dão em função de contratos e vantagens que estão esperando receber — disse Sérgio Machado no depoimento aos procuradores da Lava-Jato.

 

TRANSFERÊNCIA VIA PMDB

Os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a Queiroz Galvão fez uma transferência eletrônica de R$ 1,5 milhão à Direção Nacional do PMDB em 28 de setembro de 2012. No mesmo dia, o diretório transferiu R$ 1 milhão — também por via eletrônica — para a campanha de Chalita, segundo os registros do TSE. Foi o último repasse do diretório para Chalita naquela campanha. Ao todo, as transferências do PMDB nacional somaram R$ 9,8 milhões.

 

“A citação é de um encontro que não existe. Eu convivo com o presidente Michel há 22 anos e sei que, se ele diz que não existe, é porque não existe. Teria que vir junto uma prova mínima de que tal encontro existiu”

Eliseu Padilha

Ministro da Casa Civil