O globo, n. 30265, 17/06/2016. País, p. 7

MINISTRO SUGERE QUE LAVA-JATO DEVE RUMAR PARA ‘DEFINIÇÃO FINAL’

Por: Silvia Amorim
 
SILVIA AMORIM
silvia.amorim@sp.oglobo.com.br
 

-SÃO PAULO- Num discurso para empresários em São Paulo ontem, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, defendeu que a Lava-Jato tenha a sensibilidade de saber a hora de “caminhar para uma definição final”. Ele falou em “efeitos deletérios” da Operação Mãos Limpas na Itália ao explicar a declaração. Na Itália, após uma onda de condenações, os políticos reagiram e aprovaram leis que enfraqueceram o Judiciário, favorecendo o retorno da corrupção.

— Tenho certeza de que os principais agentes da Lava-Jato terão a sensibilidade para saber o momento em que eles deverão aprofundar ao extremo e também de eles caminharem rumo a uma definição final. Isso tem que ser sinalizado, porque vimos na Itália, onde não houve essa sinalização, e tiveram, depois do grande benefício que veio, efeitos deletérios que nós não podemos correr o risco aqui — afirmou Padilha.

A declaração foi feita quando o ministro respondia à pergunta de um empresário sobre os impactos das investigações para o governo e o PMDB, um dia após ter sido divulgada a delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado, em que o presidente interino, Michel Temer, foi mencionado, assim como outros peemedebistas.

No início de sua resposta, Padilha elogiou o trabalhos do Ministério Público, da Justiça e da Polícia Federal:

— A Lava-Jato presta um grande serviço ao Brasil. O Brasil será outro, aliás, já está sofrendo esse processo de transformação no que diz respeito ao exercício do poder político.

Após o encontro, em entrevista, quando perguntado se a afirmação significava uma defesa do fim da Lava-Jato, Padilha negou e repetiu que o governo apoia o trabalho da força-tarefa.

— O que eu disse é que tenho certeza de que as autoridades da Lava-Jato saberão o momento em que deverão pegar, aprofundar e apontar tudo que deve apontar e pensar em concluir. Eu vi e li o que aconteceu com a Operação Mãos Limpas na Itália. Todos eles conhecem tanto quanto eu. Temos que fazer com que tenhamos o melhor resultado possível.

A operação Mãos Limpas, ocorrida entre 1992 e 1994 na Itália, revelou um esquema de corrupção que levou ao fim político dos dois principais partidos na época. A “limpeza” criou um vácuo sucessório e um descrédito social sem precedentes naquele país. O resultado foi a ascensão do empresário Silvio Berlusconi, que se tornou primeiro-ministro e, no poder, reverteu muitos dos avanços anticorrupção conquistados, criando leis que enfraqueceram o Judiciário.

Somente a delação de Machado arrastou para o rol de suspeitos de se beneficiarem de desvio de dinheiro público mais de 20 políticos de oito partidos — sem incluir os que são alvo de inquéritos ou já são réus.

Por conta desse desgaste, Padilha disse ontem não acreditar que o candidato favorito para a sucessão presidencial de 2018 seja um nome conhecido hoje na política.

— Penso que a eleição de 2018 será para alguém que ainda não está no cenário político, alguém que não é uma figura conhecida.

O ministro não precisou enfrentar um protesto pela saída do presidente interino. Três mulheres com camisetas com as frases “Fora, Temer” e “Volta, Dilma” foram impedidas de entrar no salão onde ele estava.