Renan, Sarney e Jucá recebiam propina em mesadas, diz delator

 

16/06/2016

Carolina Brígido

André de Souza

 
 
-BRASÍLIA- O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado contou, em delação premiada, que pagava mesada ao presidente do Senado, Renan Calheiros, e a outros integrantes da cúpula do PMDB. Segundo o delator, o esquema beneficiou, além de Renan, os senadores Edison Lobão (MA), Romero Jucá (RR) e Jader Barbalho (PA); e o ex-senador José Sarney.

O mensalão de Machado era entregue, na maior parte, em dinheiro vivo. O delator disse que Renan recebia R$ 300 mil por mês, tendo ficado com a parcela maior: R$ 32 milhões ao longo de uma década. Dos R$ 32 milhões, R$ 24 milhões foram em espécie, segundo ele.

O delator disse que o primeiro repasse para Renan ocorreu em 2004 ou 2005. A partir de 2008, segundo Machado, os pagamentos ganharam regularidade, com Renan recebendo “cerca de R$ 300 mil por mês durante dez ou onze meses por ano”. O valor da mesada aumentava em ano eleitoral.

Segundo o delator, as propinas começaram a ser pagas entre 2004 e 2008, a pedido dos políticos. A justificativa era a mesma: precisavam de ajuda para reforçar suas bases eleitorais. As mesadas foram todas interrompidas em 2014, depois da deflagração da Lava-Jato.

De acordo com Machado, políticos do PMDB ajudaram a alçá-lo à presidência da Transpetro. Assim, as mesadas eram uma espécie de recompensa. Machado também contou que administrava a arrecadação de propinas na forma de um “fundo virtual”. Todo mês, ele negociava com as empresas que mantinham contato com a subsidiária da Petrobras os valores de propina que seriam entregues aos peemedebistas.

Lobão pediu R$ 500 mil por mês, mas teve que se contentar com R$ 300 mil, de acordo com Machado. Em sete anos, recebeu cerca de R$ 24 milhões. Jucá levou do esquema R$ 21 milhões ao longo de uma década. A mesada dele era de R$ 200 mil, segundo Machado. O delator não disse de quanto era a mesada paga a Sarney. Mas contou que, durante nove anos, o ex-presidente levou R$ 18,5 milhões em propina. Jader foi quem menos recebeu dinheiro do esquema, segundo Machado: R$ 4,25 milhões, além de US$ 100 mil. Jader foi beneficiado durante uma década pelos repasses do delator.

Em nota, Renan negou as acusações e rechaçou ter sido o responsável pela indicação de Machado para a Transpetro. Em discurso no Senado, Renan abriu guerra contra o Ministério Público. Avisou que estava analisando pedido de afastamento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e, exaltado, disse que o MP perdeu “os limites do ridículo e do bom senso” com os pedidos de prisão contra ele, Jucá e Sarney. Em tom de desabafo, Renan chamou de “esdrúxula” a decisão de Janot de pedir sua detenção com base nas gravações de Machado. O Supremo negou os pedidos.

Renan insinuou que o Ministério Público está agindo por vingança, pois a força-tarefa das investigações é formada por três procuradores que tiveram seus nomes rejeitados para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

— Que o Ministério Público cumpra o seu limite constitucional, porque pareceu, na esdrúxula decisão da semana passada, que eles já haviam perdido os limites constitucionais e, com aqueles pedidos, perderam o limite do bom senso e o limite do ridículo — disse Renan Calheiros. (Colaborou Cristiane Jungblut)

 

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Delator afirma que Dornelles pediu dinheiro para PP em 2010

 
16/06/2016

 

BRASÍLIA- O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse, em delação premiada, que intermediou o pagamento de R$ 250 mil da empreiteira Queiroz Galvão para o Partido Progressista (PP) a pedido do governador interino do Rio, Francisco Dornelles. Para esconder a origem ilegal dos recursos, segundo Machado, o dinheiro foi repassado na forma de doação eleitoral para o PP, durante as eleições de 2010.

De acordo com a delação, “quando era presidente do PP, Francisco Dornelles esteve na Transpetro e solicitou apoio ao partido durante as eleições de 2010. Depois de estudar o caso, Machado chamou Dornelles na Transpetro para dizer ‘de onde viria a doação’. Logo depois a transação foi concretizada”.

Em nota, Dornelles disse que todas as doações que recebeu foram registradas nos tribunais eleitorais:

“O vice-governador Francisco Dornelles não disputou eleições em 2008, 2010 e 2012. Todas as doações relativas a eleições que disputou foram informadas e aprovadas pelos tribunais competentes”, diz o texto.

 

O globo, n. 30.264, 16/06/2016. País, p. 4