Machado: R$ 1 milhão em espécie para Aécio
16/06/2016
Carolina Brígido
Jailton De Carvalho
De acordo com Machado, o trio arrecadou R$ 7 milhões, sendo R$ 4 milhões obtidos da campanha nacional de Fernando Henrique Cardoso a presidente. O restante foi proveniente de empresas. De acordo com o delator, parte do dinheiro veio do exterior. A divisão do bolo daria “entre 100 mil e 300 mil a cada candidato”. Cerca de 50 deputados receberam a ajuda de custo para as campanhas. O maior beneficiado, segundo Machado, foi Aécio.
PACOTE DE DINHEIRO DE R$ 350 MIL
“A maior parcela dos cerca de R$ 7 milhões arrecadados à época foi destinada ao então deputado Aécio Neves, que recebeu R$ 1 milhão em dinheiro”, disse Machado. Machado também disse que Aécio “recebia esses valores através de um amigo de Brasília que o ajudava nessa logística”.
Entre as empresas que contribuíram para o fundo do PSDB está a Camargo Corrêa, uma das investigadas na LavaJato. Machado contou que, em 1998, recebeu “um pacote de dinheiro de R$ 350 mil para o PSDB” das mãos do presidente da empreiteira, Luiz Nascimento. “A Camargo ajudava fortemente e sempre foi um grande doador nas campanhas tucanas”.
Machado também disse que ouviu do ex-ministro Sérgio Motta, do governo Fernando Henrique, que Dimas Toledo, ex-presidente de Furnas, era nomeado e apadrinhado por Aécio, e que “todos do PSDB sabiam que Furnas prestava grande apoio ao deputado Aécio via o diretor Dimas Toledo”. O delator também disse que Dimas “contribuiu com parte dos recursos para eleição da bancada da Câmara”. E que “parte do dinheiro para a eleição de Aécio para a presidência da Câmara veio de Furnas”.
Machado acrescentou na delação que o fundo paralelo do PSDB deu resultados, porque elegeu 99 deputados, dando ao partido a segunda maior bancada da Câmara na legislatura seguinte. O maior partido era o PFL, com 105 deputados.
Em outro depoimento, Machado explicou conversa gravada com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) em março deste ano, na qual chamou Aécio de “vulnerabilíssimo”. Segundo o delator, ele quis dizer que “Aécio Neves também incorria na prática de receber propinas tanto na forma de doações oficiais, quanto por dinheiro em espécie”.
Em outro depoimento que integra a delação, o ex-presidente da Transpetro afirmou ainda que pagou propina de R$ 1,5 milhão ao ex-presidente nacional do PSDB Sérgio Guerra, já falecido, e ao deputado Heráclito Fortes (PSBPI) para aprovar, na Comissão de Infraestrutura do Senado, limite de endividamento da estatal. Ele disse que pagou R$ 1 milhão em espécie para Guerra. Para Heráclito, ele sustenta que pagou R$ 500 mil disfarçados de doação eleitoral. Ex-senador do PSDB, Machado foi presidente da Transpetro de 2003 a 2015.
O senador Aécio Neves chamou de “falsas e covardes” as declarações de Sérgio Machado nas delações agora liberadas na íntegra. Em nota, Aécio diz que o ex-tucano Sérgio Machado “não hesita em mentir e caluniar no afã de apagar seus crimes e conquistar benefícios de uma delação premiada”.
Aécio disse ainda que, em 1998, sua candidatura à presidência da Câmara sequer era cogitada. Segundo Machado, ele, Aécio e o então presidente do PSDB, Teotônio Vilela Filho, acertaram arrecadar recursos para ajudar cerca de 50 candidatos a deputados a se eleger, reforçando apoio a uma eleição de Aécio para o comando da Câmara. O delator disse que teriam sido coletados cerca de R$ 7 milhões.
“A maior parcela dos cerca de R$ 7 milhões arrecadados à época foi destinada ao então deputado Aécio Neves, que recebeu R$ 1 milhão em dinheiro”
Sérgio Machado
Ex-presidente da Transpetro
O globo, n. 30.264, 16/06/2016. País, p. 5