Gravação reforça acusação de que tucano atuou contra CPI

André de Souza

24/06/2016

 

 

‘É coisa deplorável fazer papel de polícia’, disse Guerra, já falecido

 

-BRASÍLIA- Uma gravação obtida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) mostra que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, já falecido, participou de reunião em 21 de outubro de 2009, em que supostamente foi acertado pagamento de propina para que a CPI da Petrobras não aprofundasse as investigações do esquema de cartel e desvio de recursos na estatal. Segundo delatores, o senador, que integrava a comissão, recebeu R$ 10 milhões para executar a tarefa. Guerra negava.

As gravações, que fazem parte do inquérito em que o Ministério Público denunciou o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) por envolvimento no esquema, reforçam a acusação.

— Nossa gente vai fazer uma discussão genérica, não vamos polemizar as coisas — disse Guerra na reunião, da qual participaram Eduardo da Fonte; o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa; o lobista Fernando Baiano; e os executivos Érton Medeiros (representante da Galvão Engenharia) e Ildefonso Colares Filho (na época presidente da Queiroz Galvão).

— Tenho horror a CPI, nem a da Dinda assinei. É uma coisa deplorável fazer papel de polícia, parlamentar fazendo papel de polícia — acrescentou.

Na quarta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ofereceu denúncia por corrupção passiva contra Eduardo da Fonte por ter intermediado a propina que teria sido paga a Guerra.

Costa e Fernando Baiano, delatores da Lava-Jato, identificaram o momento da conversa em que foi acertado o pagamento da propina. Ildefonso diz:

— Dando suporte aí ao senador, tá tranquilo.

— Conversa aí entre vocês — responde o senador Guerra.

Em outra parte da conversa, Costa pede ao tucano ajuda no fechamento do relatório da CPI. Uma preocupação era a Lei de Licitações, à qual a estatal não queria se submeter. Guerra responde:

— A primeira coisa é o seguinte: essa chamada CPI tem origem em vários movimentos, em várias origens. Lá atrás eu conversei com algumas pessoas de vocês e dei um rumo nessa história, pro meu lado, né, como era pra ter todo o combate sem ir atrás das pessoas. Primeiro, porque nós não somos da polícia; segundo, porque não gosto disso. Terceiro, porque acho que não construía em nada.

Costa comenta que é normal uma obra sair mais cara do que o orçado:

— Você pensa que vai gastar X, depois da casa pronta vai custar 3 X, a gente sabe que funciona assim, não tem jeito.