RIO E BRASÍLIA- Três dias após a Oi entrar em recuperação judicial, as negociações de seus papéis na Bovespa decolaram ontem. A alta foi puxada pela compra de ações da empresa de telefonia pela Itaú Corretora, cujos clientes adquiriram o equivalente a quase R$ 27 milhões em ações ordinárias (ON, com voto) da tele.

Os papéis ON da Oi dispararam de R$ 1,50 para R$ 2,55, um salto de 70%, entre 15h45m e 16h52m. Nesse intervalo, a alta do papel chegou a 99,21%. Depois desse horário, porém, a alta perdeu força, fechando com valorização de 35,94%, a R$ 1,74.

A disparada ocorreu após o fim de um leilão dessa ação, que é convocado sempre que o papel apresenta oscilações bruscas no pregão regular. NO leilão, os investidores fazem seus lances de compra e venda, mas estes não são efetuados, apenas registrados. Só após o leilão, quando a Bolsa identifica harmonia entre as cotações de compra e venda, é que os negócios se concretizam e, portanto, a cotação real do papel se altera.

CVM ACOMPANHA MOVIMENTAÇÕES

O volume de negócios com os papéis ON da Oi ontem foi 91,3% maior do que a média dos últimos 20 pregões. Foram as ordens da Itaú Corretora que puxaram para cima o papel. A casa terminou o pregão com saldo líquido “comprador” de R$ 26,98 milhões em ações ON da Oi. Quem mais vendeu foi a corretora do Morgan Stanley: R$ 21,12 milhões.

— É uma distorção tecnicamente inexplicável— avalia Adeodato Netto, da Eleven Financial Research.

O movimento extremo restringiu-se aos papéis ordinários. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) fecharam com valorização de 13,75%, a R$ 0,91. Por essa razão, Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, acredita que a alta pode estar relacionada a especulações sobre uma possível aquisição da tele. O principal sintoma seria a discrepância entre os comportamentos das ações ON e PN:

— A PN dá direito à preferência no dividendo. Uma empresa endividada não tem a menor condição de distribuir dividendos. Nesses casos, a escolha acaba sendo pelas ON, interessantes para quem quer adquirir o controle da empresa, porque dão direito a voto.

Procurada, a CVM respondeu por meio de nota que “acompanha e analisa as movimentações e informações envolvendo as companhias abertas e o mercado bursátil, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”. Procurada, a Itaú Corretora não respondeu.

O conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Igor Vilas Boas disse que a operadora tem caixa para manter suas operações normalmente pelos “próximos meses”:

— Temos convicção de que há disponibilidade para manutenção da normalidade das operações da empresa nos próximos meses. Não há risco iminente de suspensão da operação.

Vilas Boas, no entanto, não descartou a possibilidade de a Anatel intervir na Oi, principalmente nas localidades onde a empresa é a única na telefonia fixa ou rede de dados.