Cavendish e Cachoeira deixam prisão mesmo sem tornozeleira

Juliana Castro e Renan França

12/07/2016

 

 

Empreiteiro vai de Bangu 8 para Leblon, onde será monitorado pela PF

O empreiteiro Fernando Cavendish, exdono da construtora Delta, e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que tinham sido presos na Operação Saqueador, da Polícia Federal, deixaram ontem de madrugada o presídio de Bangu 8, na Zona Oeste do Rio, mesmo sem as tornozeleiras eletrônicas exigidas inicialmente pela Justiça. Acusados de envolvimento num esquema que desviou R$ 370 milhões de obras públicas, eles, agora em regime de prisão domiciliar, serão monitorados por agentes da Polícia Federal.

Cavendish foi para seu apartamento no Leblon, de onde tem vista para o mar. Cachoeira foi para um hotel na orla de Copacabana, embora more em Goiás. Também foram soltos os empresários Adir Assad e Marcelo Abbud, acusados de usar empresas fantasmas para lavar dinheiro público, e o ex-diretor da empreiteira Cláudio Abreu.

 

LIMINAR DO STJ

Na última sexta-feira, o ministro Nefi Cordeiro, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou a liberação dos réus para cumprir prisão domiciliar, com a condição do uso das tornozeleiras. Como o equipamento está em falta no Rio, por falta de pagamento à empresa fornecedora, a desembargadora Nizete Carvalho, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, concordou com a liberação desde que haja monitoramento de agentes da PF.

A desembargadora determinou que todos permaneçam no Rio até o julgamento dos habeas corpus pela 1ª Turma Especializada do TRF-2, amanhã. O que o ministro do STJ julgou sexta-feira foi um pedido de liminar para a soltura dos réus. Essa solicitação tem que ser analisada pela turma no TRF-2 responsável pelo caso, no julgamento de mérito, ou seja, quando haverá uma decisão definitiva, em segunda instância, sobre as prisões na Operação Saqueador.

Se o Ministério Público Federal ou as defesas recorrerem em caso de derrota, o habeas corpus será analisado no STJ.

O MPF e a PF deflagraram a Operação Saqueador em 30 de junho. Cavendish estava no exterior e foi preso no dia 2, quando chegou ao Aeroporto Internacional do Rio. Todos os presos foram levados para Bangu 8 por terem curso superior, e tiveram os cabelos cortados.

Uma decisão para a prisão domiciliar dos acusados já tinha sido tomada pelo desembargador Ivan Athié, do TRF-2, mas todos permaneceram presos por falta de tornozeleiras no Rio. Depois, Athié, que já foi defendido pelo mesmo advogado de Cavendish, declarou-se suspeito para atuar no caso. Com isso, a prisão dos réus foi mantida até a concessão da liminar do ministro Cordeiro.

Cavendish, Cachoeira e mais 21 pessoas já são réus por envolvimento num esquema de desvio de R$ 370 milhões de verbas públicas federais. O dinheiro foi usado para pagar propina a agentes políticos, segundo o MPF.

 

 

O globo, n. 30290, 12/07/2016. País, p. 7.