O globo, n. 30289, 11/07/2016. País, p. 4

Aliados atendem governo e tentam consenso

Após pedido do Planalto, centrão tenta fechar acordo em torno de Rosso e ataca candidatura de Rodrigo Maia

Por: LETICIA FERNANDES, EDUARDO BRESCIANI CRISTIANE JUNGBLUT

 

BRASÍLIA- Em um esforço para enxugar o número de candidatos da base do governo à sucessão de Eduardo Cunha, líderes dos partidos do centrão e do PMDB se reúnem hoje para tentar oficializar o nome do deputado Rogério Rosso (PSD-DF) para concorrer à Presidência da Câmara. A estratégia atende a pedido do Palácio do Planalto, que trabalha nos bastidores para evitar rachas na base. Até ontem, 15 deputados haviam anunciado a candidatura, a maioria de legendas que apoiam o governo.

Os principais articuladores do grupo dizem que Rosso parte de um piso de 170 votos e que, apesar das divisões internas, um gesto de união em favor dele afunilaria naturalmente a quantidade de candidaturas e o representante do grupo teria lugar garantido num eventual segundo turno da disputa. Como todos os partidos do centrão têm ao menos um candidato, os líderes vão conversar com suas bancadas durante o dia para reduzir esse número e fechar, no fim do dia, o apoio a um nome só.

— Quem tem mais densidade de voto é o Rosso, pelo trabalho brilhante na comissão do impeachment. Ele é ponderado, sem exageros. E parte tranquilamente de uns 170, 180 votos — afirma o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), que era cotado para a disputa também.

— Rosso é o nome mais forte que a gente tem. É um cara que tem credibilidade para conduzir nesse momento difícil — diz o deputado Paulinho da Força (SD-SP).

Rosso passou a semana negando a candidatura e disse que conversaria com sua família, que volta hoje do exterior. Questionado pelo GLOBO ontem sobre o que seria capaz de fazê-lo entrar na disputa, respondeu que “o mínimo de consenso” seria suficiente.

— (Precisa do) mínimo de consenso. O menor racha na base possível, respeitando sempre a legitimidade de qualquer candidatura colocada — afirmou, por mensagem de texto.

O movimento do centrão é também uma reação ao crescimento da candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se viabilizou ao conseguir apoio de parte do PT e outros partidos de esquerda, além de ter interlocução com quadros do centrão e apoios nas legendas da velha oposição — DEM, PSDB e PPS. A aproximação com os petistas, porém, irritou o centrão, que passou a vinculá-lo à esquerda, chamando-o de “candidato do Lula e da Dilma”. Rosso, por sua vez, terá de disputar a eleição carregando a marca de ser aliado de Eduardo Cunha, o que ele nega veementemente. Seus aliados, porém, preferem ver o pleito como uma disputa semelhante à do impeachment.

—É a eleição do Temer contra Dilma. Mesmo que não tenha consenso a gente se junta no segundo turno e derrota o candidato dela — disse Jovair, tratando Maia como concorrente da oposição.

Em resposta às críticas do grupo, Maia diz que conversa com o PT porque “une as pontas” das correntes na Câmara. Ele ressalta, porém, que continua sendo oposição aos petistas e provoca:

— Nunca fui ministro da Dilma e nem do Lula, já o centrão esteve nos dois governos e ajudou a eleger a Dilma, não fui eu. Posso ter o apoio da esquerda, mas sempre fui oposição ao PT e continuo sendo. Quero coordenar os trabalhos da Casa, onde a maioria será respeitada mas a minoria não será triturada.

O Palácio do Planalto continua a trabalhar nos bastidores para reduzir o número de candidaturas entre os aliados, apesar de o presidente interino Michel Temer adotar o discurso de que o governo não vai se meter na eleição e cometer o mesmo erro do governo Dilma Rousseff.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse ao GLOBO que a única preocupação do governo é evitar uma divisão na base depois do processo de escolha do novo presidente.

— A única preocupação do governo é que não se tenha nenhuma rachadura na base. Por isso, o melhor é que eles sentem e decidam o que vão fazer — contou Padilha.

Nos bastidores, há uma irritação de alguns ministros com a movimentação de Rodrigo Maia de buscar apoios do PT. Para contornar o mal-estar, Maia conversou com o próprio Temer, que teria dito que o deputado está certo em conversar com todos os lados. Mas ministros acreditam que o movimento do PT é uma forma de tentar dividir a base de Temer.

— Tudo que o Lula quer é dividir a base do Temer — criticou um interlocutor do Planalto.

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Novo presidente da Câmara será eleito na quarta-feira

Antecipação de pleito ainda deixa a terça-feira livre para votação sobre futuro de Cunha

Por: EDUARDO BRESCIANI E LETICIA FERNANDES

 

-BRASÍLIA- A eleição para escolher o novo presidente da Câmara será antecipada para quarta-feira, 19h. A data foi fechada ontem, num acordo construído entre líderes partidários, sobretudo do centrão, e alguns dos candidatos à sucessão.

O presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), tinha decidido que a sessão para eleger o novo presidente aconteceria na quinta, às 16h. Os líderes do centrão, porém, tentavam antecipar o pleito para terça-feira.

A construção da data intermediária teve como ponto-chave uma reunião na casa do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), na tarde de ontem. De lá, líderes da base aliada consultaram os candidatos e o consenso foi construído.

Deputados que participaram da reunião pediram sigilo, porque a ideia era que o próprio Maranhão anunciasse nesta segunda-feira a nova data. Rodrigo Maia (DEM-RJ), porém, confirmou ao GLOBO a mudança. Ele tinha ajudado o presidente interino a marcar a eleição para quinta.

Maranhão desconversou sobre o acerto, mas reconheceu que, agora, consultará os líderes.

— Vamos nos reunir amanhã com os líderes e ouvir as propostas — disse ao GLOBO o presidente interino da Câmara.

Rosso diz que depende do colégio de líderes para oficializar a data, mas o centrão tem a maioria de 257 votos necessários para a mudança, se a decisão for submetida a essa instância.

A data intermediária desconstrói o discurso dos dois grupos rivais porque reduz o risco de jogar a decisão para agosto e permite que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) discuta na terça o recurso de Eduardo Cunha (PMDBRJ) contra o parecer pela cassação de seu mandato aprovado pelo Conselho de Ética.

Depois de renunciar na semana passada, Cunha tentou uma nova manobra para retardar ainda mais a conclusão do seu caso. Ele pediu que a CCJ devolva o processo para o Conselho porque foi julgado como presidente da Câmara e não como mero deputado. Osmar Serraglio (PMDBPR), presidente da Comissão, porém, não fez a devolução imediata, repassando o caso ao relator, Ronaldo Fonseca (PROS-DF). Na sexta passada, Fonseca rejeitou o novo argumento de Cunha e manteve em seu parecer a interpretação de que o caso deveria voltar apenas para a votação final.

Na semana passada, partidos de aliados de Cunha trocaram deputados da CCJ para tentar mudar votos a favor do peemedebista. Ainda assim, a expectativa é que a comissão rejeite integralmente o recurso e o caso de Cunha chegue ao plenário. A decisão final, porém, deve ocorrer apenas em agosto, pois a Câmara entrará de recesso branco a partir da próxima semana.

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Opinião

 

INICIATIVA

À MARGEM da crise política há um país em movimento. Após um ano de introdução da Lei Brasileira de Inclusão, que assegura um sistema educacional inclusivo para jovens e adultos com deficiência, o Senado programa votar nesta semana emenda estabelecendo para o sistema educacional público e privado algumas iniciativas específicas, em parceria com órgãos de saúde, assistência social e direitos humanos.

TRATA-SE DE uma correção da legislação original. Os senadores perceberam falta de clareza sobre o tema na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e, agora, tentam resolver. O fim de toda e qualquer espécie de segregação é, sempre, uma boa notícia.

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