WTorre ganhou R$ 18 mi para desistir de licitação, afirma delator

Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Julia Affonso e Antonio Pita

05/07/2016

 

 

Segundo investigação, empresa ofereceu menor preço do certame, mas consórcio pagou valor para vencer concorrência.

O empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, afirmou em delação que a empresa WTorre recebeu R$ 18 milhões para desistir da obra de ampliação do Centro de Pesquisa da Petrobrás (Cenpes), no Rio, em 2007. O acerto, segundo Pernambuco, foi feito pelo presidente da OAS, José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, com um dos donos da WTorre, Walter Torre. O conteúdo da delação está anexado aos autos da Operação Abismo – 31.ª fase da Lava Jato, deflagrada ontem.

Walter Torre foi alvo de mandado de condução coercitiva, mas, segundo informou o Grupo WTorre, ele está de férias, fora do Brasil, e não foi conduzido à sede da Polícia Federal.

“O acerto final foi realizado pelo executivo Léo Pinheiro, da OAS, junto a Walter Torre, que aceitou a oferta de R$ 18 milhões em um encontro pessoal realizado num domingo”, registram os pedidos de prisão e busca e apreensão da Abismo.

Segundo os investigadores, a WTorre apresentou a menor proposta de preço do certame, cerca de R$ 40 milhões inferior ao da proposta do Consórcio Novo Cenpes, formado por OAS, Carioca, Construcap, Construbase e Schahin. Os procuradores dizem que as empresas foram “surpreendidas pelo oferecimento de melhor proposta por concorrente que não havia participado das tratativas”.

“Em virtude disso, as empresas integrantes do Consórcio Novo Cenpes resolveram oferecer aos dirigentes da WTorre uma vantagem econômica para que ela abrisse mão do certame”, afirma a Procuradoria ao juiz federal Sérgio Moro.

Suíça. O sócio da Carioca Engenharia entregou dados da conta Cliver, no banco Delta, na Suíça, por meio da qual disse ter repassado propina ao operador Mário Góes, destinada a executivos da Petrobrás ligados ao PT. “Há suficientes indícios do pagamento de valores indevidos à empresa WTorre ou a seus dirigentes a fim de possibilitar a prática dos crimes de cartel e fraude à licitação.” Apesar de ter ficado de fora da obra do Cenpes, a WTorre foi escolhida para outro empreendimento da Petrobrás.

Em 2006, a estatal decidiu construir uma nova sede no Rio. A empreiteira já tinha um projeto em desenvolvimento no centro da cidade, com 115 mil metros de área construída e orçamento de R$ 1,2 bilhão. O prédio foi inaugurado em 2013. O aluguel do espaço custa à estatal cerca de R$ 100 milhões por ano – com contrato até 2029.

Defesa. Além de negar participação na obra de expansão do Cenpes e que não recebeu recurso ilícito para desistir de licitação, o Grupo WTorre afirmou que “forneceu a documentação referente ao orçamento desta licitação que ainda se encontrava na empresa e segue à disposição das autoridades”. Procurada, a defesa de Mário Góes não foi localizada. 

Acerto

“O acerto final foi realizado pelo executivo Léo Pinheiro, da OAS, junto a Walter Torre, que aceitou a oferta de R$ 18 milhões em um encontro pessoal realizado num domingo”

PEDIDO DE BUSCA E APREENSÃO DA POLÍCIA FEDERAL BASEADO EM DELAÇÃO DE RICARDO PERNAMBUCO