Conselho de Temer

Míriam Leitão

06/07/2016

 

 

Relator inclui exigência na proposta de lei orçamentária

Aumentos de tributos que dependem da aprovação do Congresso Nacional só poderão entrar como receitas no Orçamento de 2017 se receberem o sinal verde do Legislativo. A regra foi proposta pelo relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017, senador Wellington Fagundes (PR-MT). Em relatório apresentado ontem, o parlamentar altera o artigo 100 da LDO e propõe que estimativas de receita constantes do projeto da LDO de 2017 e da lei orçamentária “somente considerarão a legislação tributária e de contribuições que estiver em vigor até a data de envio do projeto e de sua aprovação pelo Congresso”.

A restrição muda o texto original apresentado pelo governo, segundo o qual poderiam ser considerados na LDO e no Orçamento do ano que vem os efeitos de propostas de alteração na legislação tributária que fossem “objeto de proposta de emenda constitucional (PEC), projeto de lei ou medida provisória (MP) em tramitação no Congresso”. O texto original foi encaminhado pela equipe da presidente afastada, Dilma Rousseff, mas havia sido mantido pelos técnicos do governo de Michel Temer.

— Condicionamos que, para estar no Orçamento, qualquer receita terá que ser aprovada pelo Congresso — afirmou o relator.

Ao apresentar a nova proposta de LDO para 2017, que prevê um rombo de R$ 139 bilhões nas contas públicas, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu que, se necessário, o governo vai aumentar impostos para cumprir a meta fiscal. No entanto, segundo os técnicos da área econômica, a tendência é optar por tributos que não dependem da aprovação do Congresso, como a Cide e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que podem ser elevados por decreto. O detalhamento dessas medidas, contudo, só vai ocorrer após a conclusão do processo de impeachment de Dilma.

— O governo já manifestou que não pretende encaminhar nada para o Congresso antes do impeachment — disse Fagundes.

Mesmo confiando mais no reforço de tributos que não dependem do Congresso, a equipe econômica manteve nos anexos da LDO uma expectativa de arrecadação com a CPMF, cuja recriação consta de uma PEC que já tramita no Legislativo. A estimativa de arrecadação chega a R$ 33,2 bilhões.

— A volta da CPMF é algo proposto pelo Palácio do Planalto. O governo já colocou e eu não falo por ele. A CPMF é uma forma de arrecadação eficaz. Agora, se o Congresso vai aprovar, é outra história — acrescentou o relator.

O senador também informou que o governo estuda alguma flexibilização na Lei da Repatriação, o que pode ajudar na arrecadação de 2017. O prazo para que os contribuintes paguem Imposto de Renda (IR) sobre recursos enviados ao exterior sem aviso à Receita Federal termina em outubro. No entanto, segundo o relator, esse prazo poderia ser estendido. Ele explicou que o total esperado para ingresso nos cofres públicos com a repatriação chega a R$ 100 bilhões, mas, até agora, só entraram R$ 8 bilhões:

— A Receita pode encontrar mecanismos. Se existe expectativa de R$ 100 bilhões e só entraram R$ 8 bilhões, o governo poderia flexibilizar prazo.

No relatório, o relator ainda coloca algumas travas para assegurar que os recursos do Orçamento de 2017 sejam direcionados a investimentos com maior viabilidade. Ele quer priorizar a liberação de verbas para obras com mais de 50% de execução. Além disso, projetos com dotação acima de R$ 10 milhões incluídos na LDO precisam ser acompanhados de estudos de viabilidade técnica e econômica.

Fagundes recomenda a aprovação da meta de fiscal de déficit de R$ 139 bilhões. “Apesar da preocupação que a magnitude do déficit naturalmente nos traz, entendemos que se trata de estimativas que buscaram o realismo nas contas públicas. Assim, acolhemos a proposta feita pelo Poder Executivo”, diz o texto. Segundo o relator, a ideia é votar a LDO na Comissão Mista de Orçamento já amanhã. A votação em plenário seria em agosto.

 

 

O globo, n. 30284, 06/07/2016. País, p. 3.