Valor econômico, v. 17, n. 4057, 28/07/2016. Política, p. A7

TSE envia dados da campanha de Dilma ao STF

Por: Carolina Oms e Cristiane Agostine
Por Carolina Oms e Cristiane Agostine | De Brasília e São Paulo
 

 

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) indícios de irregularidades contra mais uma empresa que prestou serviços para a campanha à reeleição da presidente afastada Dilma Rousseff em 2014. Os dados tratam da DCO Informática, empresa que foi contratada para enviar mensagens para celulares durante a campanha, que recebeu quatro repasses do comitê da petista que totalizam R$ 4,8 milhões. A suspeita é de lavagem de dinheiro.

As apurações apontaram que a DCO não tem identificação na fachada, possui apenas um computador e três funcionários que não são registrados. Segundo a Secretaria Municipal de Finanças de Uberlândia (MG), a empresa foi contratada para enviar mensagens da campanha por um aplicativo de conversa instantânea, cobrando entre R$ 0,06 e R$ 0,16 por texto, tendo subcontratado outra empresa.

As contas da campanha foram aprovadas com ressalvas, mas em fevereiro Gilmar pediu apuração de pagamentos da campanha eleitoral de Dilma feitos a sete empresas que prestaram serviços nas eleições de 2014.

Atendendo pedido do PSDB, Gilmar determinou o envio das notas fiscais de prestação de serviço ao Ministério Público estadual e federal, Receitas Federal e estadual, Polícia Federal e Conselho de Administração de Operações Financeiras (Coaf) "para providências cabíveis". Se estes órgãos avaliarem que as irregularidades são graves, podem abrir novas investigações.

O PSDB apontou indícios de "irregularidade e ilegalidade na contração e pagamento efetuado a empresas que não possuem capacidade operacional para prestar os serviços avançados pela campanha do PT, bem como evidências de que as empresas aparentemente de fachada foram contratadas por valores exorbitantes e desproporcionais".

As investigações, no entanto, esperam uma definição do Supremo se o caso deve seguir na primeira instância ou no próprio tribunal porque trata de campanha presidencial. O relator do caso é o ministro Edson Fachin.

A campanha de Dilma afirma que não houve irregularidades e que as contas da campanha presidencial foram aprovadas por unanimidade pelo TSE.

Ontem, a presidente afastada procurou se desvincular da denúncia de uso de caixa dois por sua campanha em 2010, feita pelos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, presos no âmbito da Operação Lava-Jato.

Dilma afirmou que sua campanha não cometeu irregularidades e disse que se houve pagamento de caixa dois, a responsabilidade é do PT. Em entrevista à rádio Educadora de Uberlândia, a presidente afastada disse que não tem a "menor responsabilidade" sobre as condições de pagamento da dívida de sua campanha de 2010.

"Se ele [Santana] recebeu os US$ 4,5 milhões que diz que recebeu, não foi da organização da minha campanha", afirmou Dilma na entrevista. "Ele [Santana] disse que recebeu isso em 2013. Ora, a campanha foi encerrada em 2010 e a partir do momento que foi encerrada, tudo que ficou pendente de pagamento da campanha passa a ser responsabilidade do partido. A minha campanha não tem a menor responsabilidade sobre em que condições pagou-se a dívida remanescente da campanha de 2010, porque foi paga três anos depois", disse a presidente afastada.

Dilma afirmou ainda que não cabia a ela responder sobre a denúncia de caixa dois. "Como disse o próprio João Santana, é com quem ele tratou a questão, [que] foi com a tesouraria do PT", disse.

Na entrevista, ao ser questionada sobre a Olimpíada, disse que a culpa dos problemas na Vila dos Atletas é da Prefeitura do Rio, comandada por Eduardo Paes (PMDB), e não de sua gestão. A petista disse que o que "mais queria" era participar da abertura dos jogos olímpicos, mas afirmou que não irá "como espectadora" de um ato do qual foi "protagonista".

Na entrevista, Dilma negou ter se reunido recentemente com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) para tratar do impeachment. "De onde sai essa história de 'querer acabar com essa agonia'? Da tentativa de parte da mídia de fazer com que eu esteja numa situação de cansaço. Estou plenamente disposta a lutar. É uma fantasia", afirmou.

A presidente afastada questionou as ações de Michel Temer e disse que todos os fundamentos da economia seguidos pelo interino foram dados por sua gestão. "Ninguém recupera nada em dois meses. Havia tentativa de criar mau humor na economia."