Alvo de 3ª denúncia no STF, Cunha fala em defesa veemente

 

02/07/2016
Daiene Cardoso
Gustavo Aguiar

 

No dia da divulgação de sua terceira denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou ontem desconhecer o conteúdo da delação do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto e disse que vai “desmentir com veemência os supostos fatos divulgados”. Ele ainda desafia que sejam provados.

A colaboração premiada de Cleto está entre os motivos que levaram a mais uma acusação formal na mais alta Corte do País contra o peemedebista.

“O delator, ao que parece, é réu confesso de práticas irregulares às quais cabe a ele responder por elas”, afirmou Cunha, em nota. O deputado disse também que não tem operador nem gestor financeiro e que não autorizou ninguém a tratar de negócios em seu nome.

“Lamento que todas as denúncias formuladas sejam baseadas em palavras de delator, com histórias fantasiosas”, afirmou o deputado afastado. “Desconheço a delação, desminto os fatos divulgados, não recebi qualquer vantagem indevida, desafio a provar”, disse. De acordo com Cunha, se foi cometida qualquer irregularidade por Cleto que ele “responda por ela”.

A nova denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra Cunha, na Operação Lava Jato, envolve também o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDBRN), Cleto e outros dois aliados, o corretor Lúcio Bolonha Funaro e seu assessor Alexandre Margotto.

Segundo investigadores da força-tarefa, todos eles integraram o esquema de desvios de recursos do fundo de investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), gerido pela banco público federal.

O esquema no qual havia a partilha das propinas cobradas das empresas que recorriam a aportes milionários do fundo foi delatado pelo ex-vice-presidente da Caixa.

A pista sobre a denúncia, mantida até ontem em sigilo no Supremo, foi incluída na fundamentação do ministro Teori Zavascki para autorizar a Operação Sépsis, deflagrada ontem, e determinar a prisão de Funaro, em São Paulo, apontado como porta-voz de Cunha na negociação de propinas no esquema.

“(Funaro) Foi recentemente denunciado nesta Corte, com o deputado federal Eduardo Cunha e outros, pela suposta prática de crimes, em razão do envolvimento na implementação e no funcionamento do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro relacionado à Caixa Econômica Federal”, escreveu o ministro em sua decisão.

Indicação. Cleto afirmou, na delação premiada na Lava Jato, que foi indicado por Funaro a Cunha para ocupar o cargo de vice-presidente na Caixa, na gestão da presidente afastada Dilma Rousseff. Em troca, o exexecutivo deveria garantir qualquer solicitação feita pelo deputado afastado no fundo de investimento, oferecendo até mesmo informações privilegiadas que poderiam comprometer o valor das ações negociadas na Bolsa de Valores.

De acordo com o ex-vice-presidente, o peemedebista cobrava informações semanais sobre o assunto. Os encontros aconteciam no apartamento funcional do deputado federal e depois na residência oficial da presidência da Câmara, de 2011 a 2015.

A terceira denúncia chegou ao STF em 10 de junho. Não há nas decisões de Teori sobre a operação de ontem nenhum detalhe sobre a exata atuação de Alves no caso. Sabe-se apenas que ele foi oficialmente acusado pela PGR porque o Ministério Público suíço identificou uma conta com 800 mil francos suíços que lhes pertenceria.

Defesa. Henrique Eduardo Alves nega que tenha contas fora do País. A defesa de Lúcio Bolonha Funaro informou que estuda medidas contra as acusações. A defesa de Alexandre Margotto não foi localizada até as 22 horas.

 

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Réu, Carlinhos Cachoeira vai cumprir prisão domiciliar

 

02/07/2016
Fábio Grellet
Roberta Pennafort
 

Um dia depois de ser preso sob suspeita de integrar esquema de lavagem de R$ 370 milhões em verbas públicas federais, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, conseguiu ontem um habeas corpus que transformou sua prisão preventiva em domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica. Cachoeira foi alvo da Operação Saqueador, deflagrada anteontem.

A decisão do desembargador Antonio Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2), alcançou mais quatro alvos da Saqueador.

Adir Assad e Marcelo Abbud, apontados como donos de empresas fantasmas que lavavam o dinheiro, e Cláudio Abreu, ex-diretor da empreiteira Delta. O quinto beneficiado é o ex-presidente da Delta Fernando Cavendish, que também teve a prisão decretada, mas está foragido.

Réus. Na quinta-feira, a Justiça Federal aceitou a denúncia da Procuradoria da República no Rio contra os cinco e mais outras 18 pessoas acusadas de integrar o esquema. Agora, todos são réus. Os investigadores apuraram a atividade da empreiteira Delta e constataram que, entre 2007 e 2012, a empresa teve 96% do seu faturamento oriundo de contratos públicos, chegando ao montante de quase R$ 11 bilhões. Desse total, mais de R$ 370 milhões foram lavados, por meio de pagamento ilícito a 18 empresas de fachada, conforme as investigações.

Segundo a assessoria de Cavendish, ele “está providenciando o retorno ao Rio”. Quando se apresentar, ficará em sua casa, um apartamento de luxo na zona sul do Rio, do qual não poderá sair. Cachoeira e os outros três presos seriam encaminhados para suas residências na noite de ontem. O advogado de Abbud e Assad, Miguel Pereira Neto, disse que a prisão deles não se justificava, porque era baseada em suposições. As defesas de Cachoeira e Cláudio Abreu não foram localizadas.

 

O Estado de São Paulo, n. 44818, 02/07/2016. Política, p. A8