Valor econômico, v. 17, n. 4056, 27/07/2016. Política, p. A8

CUT volta a negociar com o governo passado o processo de impeachment

Por: Camilla Veras Mota
Por Camilla Veras Mota | De São Paulo
 

 

Até então fora das negociações entre o movimento trabalhista e o Executivo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) deve voltar à mesa de discussão com o governo quando o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff for concluído no Senado, no próximo mês. "Depois que passar no Senado, nós vamos negociar - com Temer ou com Dilma", disse ontem o presidente da entidade, Vagner Freitas.

Ao lado de dirigentes das outras cinco centrais sindicais reconhecidas pelo governo em um evento em São Paulo, ele afirmou que as entidades serão contrárias a qualquer reforma previdenciária ou trabalhista que implique retirada de direitos.

"No nosso ponto de vista, o governo não tem tomado medidas concretas para enfrentar essa crise, como baixar a taxa de juros ou, como alguns de nós têm sugerido, câmaras setoriais que poderiam estar funcionando, por exemplo, para resolver o problema do setor automotivo", declarou o presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), que definiu o encontro com um momento para o movimento trabalhista "reconstruir" sua unidade.

Parte da base aliada da gestão Temer, o deputado federal pelo Solidariedade reclamou que as centrais sindicais têm se informado sobre a reforma trabalhista por meio da imprensa e que o governo ainda não lhes apresentou qualquer proposta sobre o assunto.

Além dos dirigentes da CUT e da Força, estiveram presentes Canindé Pegado, secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Álvaro Egea, secretário-geral da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), e Nivaldo Santana, vice-presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB).

Todos se colocaram contrários a qualquer flexibilização da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), especialmente na questão do "acordado sobre o legislado" - entidades empresariais defendem que, em determinadas situações, o que for negociado em acordos e convenções coletivas teria força para sobrepujar a legislação -, e a uma reforma da Previdência que altere a idade mínima para aposentadoria, a desvinculação dos benefícios do salário mínimo, a equiparação das regras para homens e mulheres e para os trabalhadores da zona rural e das cidades.

Na ocasião, as entidades marcaram para 16 de agosto o que chamaram de "Dia Nacional de Mobilização e Luta pelo Emprego e pela Garantia de Direitos". A pauta da manifestação, a ser realizada em todo o país, inclui pedidos de redução das taxas de juros, a diminuição da jornada de trabalho para 40 horas semanais e uma série de itens que constavam no documento "Compromisso pelo Desenvolvimento", entregue ao governo em dezembro de 2015 - retomada do investimento público e privado em infraestrutura, destravamento do setor da construção, incentivos às políticas de fortalecimento do mercado interno para incrementar a produção, o emprego e o consumo.

Freitas, da CUT, acrescentou que uma greve geral não foi descartada pelas centrais, caso sejam confrontadas com medidas que enxergam como retiradas de direitos. "Ela está na pauta do dia, mas não tem motivação política", ressaltou, destacando também entre suas preocupações as declarações que vêm sendo dadas pelos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do Trabalho, Ronaldo Nogueira, de que a CLT seria um "atraso".