Valor econômico, v. 17, n. 4056, 27/07/2016. Brasil, p. A2

PF indicia ex-ministro Paulo Bernardo

Por: Fernando Taquari
Por Fernando Taquari | De São Paulo
 

O ex-ministro Paulo Bernardo foi indiciado pela Polícia Federal (PF) por organização criminosa e corrupção passiva. O relatório com o pedido de indiciamento, que teve como base as investigações da Operação Custo Brasil, foi finalizado na sexta-feira e encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF)

Os procuradores vão analisar agora o inquérito para decidir se arquivam a investigação ou denunciam à Justiça Federal o petista, suspeito de receber propina de R$ 7,1 milhões da Consist, empresa de software que supostamente teria sido beneficiada durante sua gestão no Ministério do Planejamento.

No inquérito, a PF também indiciou os ex-tesoureiros do PT Paulo Ferreira (tráfico de influência e lavagem de dinheiro) e João Vaccari Neto (tráfico de influência, organização criminosa e lavagem de dinheiro), além de outras 19 pessoas envolvidas na Custo Brasil, que apura o pagamento de propina a agentes públicos e funcionários ligados ao Ministério do Planejamento em contratos de prestação de serviços de informática entre 2010 e 2015.

Paulo Bernardo foi preso no dia 23 de junho, quando a operação deflagrada, por determinação do juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6ª Vara Criminal Federal, em São Paulo. O petista permaneceu preso na Superintendência da PF, na capital paulista, por seis dias, até ser solto por ordem do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Contratada em 2010 para administrar contratos de consignados com a Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC) e com o Sindicato das Entidades de Previdência Privada (SINAPP), a empresa de software passou a destinar parte de seu faturamento ao PT e a pessoas indicadas pelo partido.

O esquema veio à tona com o desdobramento da Operação Pixuleco 2, deflagrada em agosto de 2015, que revelou irregularidades nos contratos de empréstimos consignados a servidores. Os detalhes do caso Consist foram revelados pelo advogado Alexandre Romano, que foi um dos alvos da operação.

Em delação premiada, Romano contou que repasses do esquema serviram para abastecer em 2010 o caixa da campanha ao Senado de Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Paulo Bernardo, e para pagar despesas pessoais do ex-ministro. Os repasses, de acordo com o delator, foram efetuados pelo advogado Guilherme Gonçalves, que preso nega qualquer relação com o caso.

Bernardo prestou depoimento na PF na semana passada. Na ocasião, também negou qualquer possibilidade de ter recebido dinheiro de propina. Sua defesa disse ontem que não teve acesso ao relatório da PF.

Mesmo assim, divulgou nota para reiterar que o ex-ministro "não participou ou teve qualquer ingerência na celebração ou manutenção do acordo de cooperação técnica celebrado autonomamente entre a Secretaria de Recursos Humanos do MPOG e as associações de Bancos e Previdência (ABBC e Sinapp)".

"Também reitera que não recebeu qualquer quantia da Consist, direta ou indiretamente", disse a advogada Verônica Sterman.