'Hoje foi comigo; amanhã, com vocês', afirma Cunha

Daiene Cardoso e Bernardo Caram

13/07/2016

 

 

Em uma de suas últimas apostas para escapar do processo de cassação, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) apresentou ontem pessoalmente sua defesa à Comissão de Constituição e Justiça e disse que os colegas podem enfrentar futuramente a mesma situação em que ele se encontra. “Há investigados nesta sala”, afirmou. “Hoje sou eu. É o efeito Orloff. Vocês, amanhã.” A referência do peemedebista ao “efeito Orloff”, usada para alertar os colegas sobre o risco de decidirem contra seu recurso na comissão, vem de uma campanha da marca de vodca na década de 1980. “Eu sou você amanhã”, dizia a peça publicitária.

“Hoje foi comigo; amanhã será com vocês”, frisou Cunha.

O deputado afastado aproveitou a presença na Câmara para mandar um recado aos colegas que também são alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que eles não podem abrir um precedente caso os procedimentos regimentais não sejam respeitados O peemedebista e seu defensor, o advogado Marcelo Nobre, falaram por mais de duas horas e meia, conseguindo assim adiar para hoje pela manhã a votação do recurso contra o processo de cassação aprovado no Conselho de Ética. Os aliados de Cunha ainda tentaram transferir a discussão na CCJ para 10 dias, mas o requerimento foi derrotado por 40 votos contra, 11 a favor e uma abstenção.

O placar sinalizou que o cenário não é favorável a Cunha. Ao final, foi o início das votações em plenário que interrompeu a sessão. Mesmo que a CCJ rejeite o recurso do deputado hoje, a votação da cassação em plenário ficará só para agosto, após o recesso parlamentar.

O peemedebista reclama de ser tratado como um condenado – ele é réu em duas ações penais no STF. “Com certeza absoluta, isso pode ser com qualquer um amanhã.” Cunha defendeu os 16 pontos nos quais indica supostas ilegalidades em seu processo disciplinar. Ameaçou judicializar o processo, disse que o presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), errou na condução propositalmente, demonstrou inconformismo com o aditamento da representação e insistiu que o relator, Marcos Rogério (DEM-RO), deveria ser declarado impedido.

A defesa alegou que Rogério, que é membro da CCJ, nem sequer deveria votar o recurso. O parlamentar anunciou no final que não participaria da votação. Tanto Cunha quanto seu advogado pregaram que a condução do processo por quebra de decoro parlamentar não está acontecendo de forma isenta. “Nenhum dos 117 deputados (investigados) sobreviverão nesta Casa e deverão todos ser cassados”, disse Cunha.

Isolado. O deputado afastado chegou sozinho à sessão e assim permaneceu por um longo período, até o momento em que poucos aliados se aproximaram para lhe dar atenção. Ao término, o peemedebista anunciou que vai recorrer ao STF se o parecer de Ronaldo Fonseca (PROS-DF) não acolher os pontos mais relevantes do recurso.

Se poucos aliados fizeram questão de cumprimentá-lo, coube a um garoto de 6 anos chamado Gabriel manifestar carinho ao peemedebista. Na saída de Cunha, o garoto pediu para tirar uma foto com o político de quem se disse fã.

‘Vale-tudo’

“Com certeza absoluta, isso pode ser com qualquer um amanhã (...) Nenhum dos 117 deputados (investigados) sobreviverão nesta Casa e deverão todos ser cassados (...) Vale-tudo quando a gente quer exercer vingança política”

Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

DEPUTADO FEDERAL AFASTADO.