Título: Alívio, alegria e críticas
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 21/10/2011, Mundo, p. 16

A música árabe tomou conta da Embaixada da Líbia em Brasília na manhã ontem, assim que surgiram as primeiras informações sobre a captura de Muamar Kadafi. Por meio da emissora Al Jazeera, a comunidade líbia que vive na capital acompanhava, minuto a minuto, as novidades. Quando a imagem do ditador morto apareceu, membros do corpo diplomático e funcionários foram festejar no jardim da representação, no Lago Sul. "É uma alegria incontrolável. Estamos participando do nascimento de uma nova Líbia, sem terrorismo", disse Adel Swisy, adido financeiro da embaixada. A festa reuniu cerca de 30 pessoas, que cantaram, soltaram rojões e queimaram fotografias de Kadafi.

Os representantes do Conselho Nacional de Transição (CNT) no Brasil já haviam tomado a embaixada no fim de agosto, quando os então rebeldes líbios chegaram a Tripoli. Dos seis diplomatas, apenas um apoiava o regime de Kadafi, junto ao ex-embaixador Salem Zubeide. Ambos voltaram ao país árabe. O CNT, então, nomeou um encarregado, Hussein Tantush, que está cumprindo as funções de embaixador até que o governo diplomático seja estabelecido. "Nossa representação já estava limpa de Kadafi. Hasteamos a nova bandeira há mais de 30 dias", contou Tantush.

Minas Ele e os outros líbios reclamaram da falta de reconhecimento das autoridades brasileiras ao movimento rebelde. Ontem, no entanto, a alegria falou mais forte. "Nós ficamos chateados com o Brasil, por não acreditar na nossa revolução. Mas, agora, isso já passou. Temos muitos acordos com o governo e queremos manter essa parceria", afirma Tantush. Uma das sugestões do encarregado é que especialistas daqui ajudem o CNT a desarmar as minas colocadas em território líbio por Kadafi, uma vez que boa parte delas é de fabricação brasileira.

Ele acredita que seu povo vai saber conduzir a democracia e evitar a violência. "Ocorreram casos isolados de abusos. Muitas pessoas perderam seus entes queridos na guerra e, por isso, tinham muita raiva do regime", justificou. Tantush e sua família fazem parte da pequena comunidade líbia em Brasília (estimada em cerca de 20 pessoas). Outro líbio que também vive na capital é o comerciante Ali Elghani Abdurrhman, um dos muitos primos de Kadafi. Contatado pela reportagem, Adburrhman disse que preferia não falar sobre a morte do ditador. Em uma entrevista em fevereiro, o comerciante chegou a comentar que o parente só deixaria o poder morto.