Valor econômico, v. 17, n. 4053, 22/07/2016. Especial, p. A5

PF PRENDE DEZ POR SUSPEITA DE TERRORISMO

Por: Carolina Oms

Por Carolina Oms | De Brasília

 

A Polícia Federal prendeu dez pessoas em dez Estados acusadas de participação em "atos preparatórios" para ações terroristas durante os Jogos Olímpicos. Foi a primeira prisão com base na lei antiterror. Embora considere o grupo "amador", o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, prometeu ontem uma "reação rápida, dura e certeira" contra o planejamento de atos terroristas.

"Não vamos esperar um milímetro de ato preparatório para agir, por mais insignificante que seja, vai ter operação rápida e dura. Mas entendo que isso não aumentou o risco, a nossa classificação de risco continua a mesma, a probabilidade é mínima de que haja ataque terrorista no Rio. A possibilidade desse tipo de ataque não é só no Brasil, é no mundo todo", afirmou o ministro.

Deflagrada ontem, a chamada Operação Hashtag expediu 12 mandados de prisão temporária por 30 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 30. É o período necessário para a conclusão dos Jogos Olímpicos do Rio. Outros dois suspeitos, segundo o Ministério da Justiça, estão rastreados, mas ainda não foram presos. Também foram realizadas duas conduções coercitivas e 19 buscas e apreensões.

Segundo o ministro, a ação se fez necessária depois que os investigadores descobriram que o grupo começou a tomar atitudes mais concretas, como a tentativa de compra de um fuzil AK-47 por meio de um site de armas clandestinas do Paraguai, o que acabou não se concretizando. "Uma célula organizada não tentaria comprar uma arma pela internet", ironizou o ministro.

Os envolvidos participavam de grupo virtual denominado "Defensores da Sharia" e planejavam adquirir armamentos para cometer crimes no Brasil e até mesmo no exterior, afirmou o Ministério da Justiça. Sharia é a lei islâmica. "Estamos monitorando vários indivíduos, e a partir do momento em que passam para atos preparatórios, é necessária uma atuação mais drástica", afirmou o ministro.

Os monitorados não eram, no entanto, uma célula terrorista organizada. Atuavam individualmente. Segundo o ministro, em suas conversas, que ocorreram principalmente via trocada de mensagens pelos aplicativos Whatsapp e Telegram, o grupo afirmou que o Brasil não fazia parte da coalizão contra o Estado Islâmico mas que, em virtude da Olimpíada, passaria a fazer parte do "alvo".

Os monitorados são todos os brasileiros. Segundo o ministro, o único contato dos membros com o Estado Islâmico foi um "batismo", via internet. A prática consiste em um juramento por meio de um site que oferece uma gravação do texto que deve ser repetido. Não houve conexão direta entre os membros e o Estado Islâmico.

A ação ocorreu nos Estados de Amazonas, Ceará, Paraíba, Goiás, Rio, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. A operação da PF foi planejada e realizada em cooperação com serviços de inteligência de outros países.

A lei antiterror, sancionada no governo da presidente afastada Dilma Rousseff, permite a prisão com base em planos. Para crimes comuns, por exemplo, a compra de uma arma com a intenção de matar não seria suficiente. Para a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Esther Solano Gallego, essa medida é extremamente polêmica e exige cautela, pois "criminaliza o ato antes que ele aconteça".

As forças de segurança vinham monitorando cem pessoas no país que manifestavam simpatia ao Estado Islâmico. Os dez presos constavam nessa lista de rastreados e compunham os 10% que mais chamaram a atenção.

O advogado criminalista Daniel Bialski, sócio do Bialski Advogados Associados, avalia que o governo mostrou força e autonomia ao agir preventivamente. "Diferente da criminalidade habitual, as pessoas que se dispõem a praticar atos de terrorismo têm que ser tratadas com atenção muito maior, como se vivessemos em uma guerra", afirmou.

Uma ONG com atuação na área humanitária e educacional também é investigada por participação no caso.

Os investigadores farão perícia em todos os objetos apreendidos, como celulares e computadores. "Foram trocadas várias mensagens que mostram a degradação dessas pessoas, comemorando o atentado em Orlando e em Nice", disse o ministro.

Questionado sobre como os investigadores tiveram acesso às trocas de mensagem via aplicativos, Moraes afirmou que as "investigações têm outros meios", mas disse que não poderia dar detalhes sem comprometer as investigações.

Embora a tensão e preocupação tenham aumentado com a ação da PF, o ministro Alexandre Moraes destacou que os suspeitos presos não detalharam alvos para a execução de atentados terroristas ou citaram bombas, por exemplo. "Reitero, por isso a questão da segurança pública é muito mais importante e gera mais preocupação. Nenhum órgão de segurança poderia ignorar esses fatos preparatórios. E não seria de bom senso aguardar para ver", disse o ministro.