Demora no impeachment prejudica o País, diz presidente

Isabela Bonfim e Reuters

30/07/2016

 

 

Temer afirma que a aprovação da saída definitiva de Dilma depende de avaliação política de senadores

A aprovação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff depende de uma avaliação política, e não jurídica, e quanto mais demorar a decisão a ser tomada pelo Senado, pior para o País. A avaliação é do presidente em exercício Michel Temer, que concedeu entrevista ontem a agências internacionais no Palácio do Planalto.

Segundo ele, o governo não pode e não deve interferir no cronograma do processo. “Essa questão do impeachment no Senado não depende da nossa atuação. Depende da avaliação política – não uma avaliação jurídica – que o Senado está fazendo. Nós não temos e não poderíamos ter influência nesse processo”, afirmou.

Para ele, porém, a demora no processo dificulta a retomada econômica do País. “Quanto mais demora a avaliação do impedimento, mais prejudicial para o País. Quando antes solucionar, mais benéfico.”

Temer disse ainda que para defender sua permanência teria que fazer autoelogio de seu governo, mas que a discrição não aconselharia – apesar de ressaltar várias vezes durante a entrevista de cerca de uma hora, a boa relação que tem com o Congresso, algo que faltava à presidente afastada.

“O que fizemos em 70 dias foi um avanço muito grande. Você não pode avançar num sistema democrático se não tiver uma conexão muito grande entre o Executivo e o Legislativo”, afirmou.

Sobre a preocupação com o prazo de votação do impeachment pelo Senado, prevista para o fim de agosto, afirmou que terá dificuldades de representar o Brasil no encontro do G20, na China, nos dias 4 e 5 de setembro, se o impedimento definitivo da presidente afastada não for votado até lá.

“A situação de interinidade não dá a mesma potência para o Estado brasileiro”, afirmou. O processo de impeachment volta à pauta do Senado na semana que vem, quando o relator Antonio Anastasia (PSDBMG) deve apresentar seu parecer à comissão especial. Pelo calendário do colegiado, a análise no plenário do Senado deve ter início entre os dias 22 e 26.

Corrupção. Questionado sobre as acusações de corrupção que incluem repasses ao seu partido, o PMDB, Temer afirmou desconhecer irregularidades. “Nunca houve uma coisa que eu pudesse dizer ‘isso veio por fora’. Não é o tradicional ‘eu não sabia’. Não é exatamente isso. É que as doações que vinham entravam oficialmente no partido e saiam oficialmente. Eu não tinha a menor notícia de qualquer gesto de corrupção.”

Temer ressaltou ser preciso provar que as doações legais tinham origem em dinheiro de propinas. “Isso precisa provar, que foi realmente a propina que levou a doações oficiais”, disse. A chapa Dilma-Temer é alvo de ações no Tribunal Superior Eleitoral que podem levara à cassação dos mandatos.

Cardozo. Enquanto nos bastidores os próprios senadores do PT confessam a dificuldade de reverter votos no impeachment, a defesa de Dilma tenta mostrar resistência e otimismo em relação ao processo. Em entrevista ao Estado, o ex-advogado- geral da União, José Eduardo Cardozo, afirmou que a presidente permanece lutando contra o afastamento.

“O sentimento da presidente é de luta. Ela lutou sua vida toda pela democracia no Brasil e não é agora que ela vai jogar a toalha”, afirmou Cardozo.

O advogado também apontou uma movimentação no meio jurídico contrária ao processo de impeachment, além da indignação da população em geral com a situação. “Tenho visto manifestações não só no Brasil, mas no mundo no sentido de mostrar que esse processo de impeachment é de uma fragilidade política e jurídica total. Mesmo pessoas que não defendem o governo, que não gostam do governo, mas que defendem a democracia, sabem que esse processo não está bem posto", disse.

PLACAR DO IMPEACHMENT NO SENADO

39 A FAVOR

19 NÃO QUISERAM RESPONDER

5 INDECISOS

18 CONTRA