Petrobrás vende, por U$$ 2,5 bilhões, primeiro campo na região do pré-sal

Antonio Pita, Vinicius Neder e Fernanda Guimarães 

30/07/2016

 

 

Óleo. Norueguesa Statoil ficará com bloco onde está localizada a área de Carcará, uma das principais descobertas dos últimos anos; acordo marca mudança na gestão da empresa em relação aos governos petistas, que não abriam mão do controle estatal no pré-saL.

Em sua estratégia de sobrevivência, a Petrobrás anunciou ontem a venda de um de seus ativos de petróleo mais promissores: o bloco onde está localizado a área de Carcará, na Bacia de Santos, uma das principais descobertas da última década. A norueguesa Statoil vai pagar US$ 2,5 bilhões pela fatia da Petrobrás no ativo. É a primeira vez que a estatal brasileira se desfaz de um campo no pré-sal, símbolo da política nacional-desenvolvimentista dos governos do PT.

Com dívida de cerca de US$ 125 bilhões, a Petrobrás anunciou um ambicioso plano de venda de ativos para melhorar o seu caixa. Até o final do ano, a meta é levantar US$ 14 bilhões, mas o mercado via com reticência essa projeção. Com a venda do campo no pré-sal, a empresa dá mostras de que, para atingir a meta, se for preciso, está disposta a vender não apenas ativos considerados menos importantes dentro de sua operação, como termoelétricas ou gasodutos, mas também ativos que fazem parte do coração da empresa.

“Nossa estratégia prioriza uma forte geração de caixa no curto prazo. A descoberta demanda elevados investimentos para um retorno que vai acontecer apenas na próxima década”, disse a diretora de Exploração e Produção, Solange Guedes. Carcará tem produção prevista para depois de 2020 e a prioridade da companhia são áreas já em produção ou com investimentos em curso.

“Vamos trabalhar incansavelmente para alcançar a meta”, disse o diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro, que classificou o negócio como “a maior operação já realizada no setor no País”. Até então, as vendas já concluídas ou em fase final se concentravam em áreas acessórias para a petroleira, como gasodutos, participações no exterior e campos maduros. Desde 2014, a estatal já vendeu US$ 4,8 bilhões em ativos.

Nos últimos dias, a Petrobrás fez uma série de anúncios para indicar ao mercado um novo ritmo nas vendas. Iniciou conversas exclusivas para vender petroquímicas em Pernambuco e apresentou um novo modelo de venda da BR Distribuidora, com controle compartilhado. Fontes indicam que, no portfólio, há ainda outras áreas do pré-sal, em busca de sócios. Os investidores entenderam o recado. As ações da estatal registraram ontem ganhos de 5,02% (ordinárias) e 3,76% (preferenciais).

“Essa é a única saída e a Petrobrás não pode ter tabus quando tem de gerir uma dívida tão alta”, diz Edmar Almeida, professor da UFRJ. Ele destacou que a companhia tem áreas com até 40 bilhões de barris e que a venda não atrapalhará sua capacidade de produção. Mas a venda de áreas do présal não é unânime. “O problema é a redução de tamanho da Petrobrás sem maiores cuidados por conta de uma dívida que tem outras soluções financeiras”, avalia o professor Luiz Pinguelli, da Coppe. Segundo ele, a decisão reflete a “cabeça do Pedro Parente” e uma política de privatização.