O globo, n. 30291, 13/07/2016. País, p. 3

PMDB embola disputa

Por: Isabel Braga

 

BRASÍLIA — Na véspera da eleição para a presidência da Câmara, o surgimento do candidato oficial do PMDB aumentou a incerteza do resultado. A avaliação inicial é que a candidatura de Marcelo Castro (PI), escolhido na terça-feira pela bancada do partido, pode levar boa parte dos votos da nova oposição, especialmente do PT e do PCdoB, afetando a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Castro foi ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff e votou contra o impeachment da presidente afastada.

O movimento do PMDB, no entanto, levou os partidos da antiga oposição — PSDB-DEM-PPS e PSB — a agir: Júlio Delgado (PSB-MG) retirou sua candidatura. A tendência do PSDB agora é apoiar Rodrigo Maia, unindo essa parcela da base aliada de Temer contra a candidatura mais forte do centrão, a de Rogério Rosso (PSD-DF).

A eleição está marcada para a tarde desta quarta-feira, com o início da sessão previsto para as 16h. O número elevado de concorrentes deve fazer com que a definição só ocorra na madrugada de amanhã. Até a noite de terça, 14 deputados haviam registrado suas candidaturas.

O último foi o decano da Câmara, Miro Teixeira (Rede-RJ), com 11 mandatos. Ele próprio disse se tratar de uma “anti-candidatura”. O eleito comandará a Câmara num mandato-tampão de pouco mais de seis meses, até fevereiro do próximo ano.

— Obviamente, a candidatura do PMDB deu uma mexida no tabuleiro da eleição, mas trabalhamos a unidade do nosso grupo, a união informal dos partidos da antiga oposição. E vamos aguardar o segundo turno para conversas com o PMDB — afirmou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).

Rodrigo Maia manteve as críticas a Rosso, mas também alfinetou o lançamento da candidatura peemedebista:

— Uma candidatura não cai do céu. Não sei (qual a estratégia). O PMDB é um partido experiente. Ainda tento entender o que aconteceu. Estamos conversando, mas a aliança (do DEM) com o PSDB é natural, é mais fácil. O que precisa explicar é mais difícil. Esse campo (os quatro partidos da antiga oposição) juntos, com paciência e inteligência, é o único organizado para ganhar a eleição — afirmou Maia.

 

PT AINDA NÃO DECLAROU APOIO A UM CANDIDATO

Juntos, PSDB, DEM, PPS e PSB têm 119 deputados. Os defensores da candidatura de Maia creem que ele poderá agregar votos em outras bancadas, chegando a 150, garantindo assim a ida ao segundo turno.

Há, porém, quem aposte que Maia não leve todos os votos desses partidos. No PSDB, por exemplo, há simpatia por outro candidato do centrão: Esperidião Amin (PP-SC). Os tucanos criticaram a candidatura de Marcelo Castro, por achar que ela representará uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A nova oposição, liderada pelo PT, ainda não oficializou seu apoio a uma das candidaturas, mas muitos deputados petistas, do PCdoB e até do PDT elogiaram a entrada de Marcelo Castro no páreo. Líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que o perfil do candidato que esses partidos apoiarão está definido: ter votado contra o impeachment, ser anti-Cunha, garantir a volta à normalidade e respeitar a democracia na Casa.

— Marcelo Castro tem um lastro de ter enfrentado Cunha em todos os momentos na Casa. Planalto e Cunha eram contra Marcelo Castro na disputa. Castro sai com uma candidatura contra Cunha e o centrão. Por isso, todas as bancadas rediscutirão os apoios — disse Jandira.

Entre os partidos da esquerda, há os que analisam com certa desconfiança a guinada dos peemedebistas, ao lançarem oficialmente um candidato. Até ontem, a decisão do PMDB era não ter candidatura própria. Na visão de alguns deputados da esquerda, essa pode ser uma manobra do centrão e do PMDB, com possível apoio do Planalto, para tirar Rodrigo Maia da disputa no segundo turno — e assim viabilizar a vitória de Rosso, do grupo ligado a Cunha.

No centrão, além da candidatura de Rosso, o nome de Fernando Giacobo (PR-PR) aparece com força. Ele conta com o apoio do presidente de fato do partido, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, que negocia apoio com petistas. Mas Giacobo também pode ter sido prejudicado pela entrada de Castro na disputa.

Na terça-feira, Marcelo Castro negou ser o candidato anti-Cunha e que tenha recebido o apoio do ex-presidente Lula. O ex-ministro da Saúde disse que é candidato a favor da Câmara, afirmou torcer para ter o voto de petistas e da esquerda e classificou sua candidatura como “um alívio” para o governo Temer. Para Castro, o correto é o governo não interferir na disputa.

— Serei o candidato do Parlamento. Um Parlamento nem submisso, nem arrogante — disse Marcelo Castro.

 

 

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Deputado diz ter visto vídeo que incrimina Rosso

Por: Evandro Éboli

 

BRASÍLIA — O deputado Alberto Fraga (DEM-DF) afirmou nesta terça-feira que existe um vídeo no qual o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), um dos candidatos favoritos na disputa para a presidência da Câmara, aparece recebendo dinheiro do esquema de corrupção montado no governo do Distrito Federal, conhecido como “mensalão do DEM”. Fraga, que é adversário político de Rosso no Distrito Federal, disse que assistiu ao vídeo, mas preferiu não dar detalhes.

O parlamentar do DEM afirmou que basta ver o depoimento do técnico em informática Francinei Arruda Bezerra, quem editava os vídeos da corrupção registrados pelo delator Durval Barbosa, para confirmar a ação de Rosso.

— Está na audiência dele (do Francinei, dada à Justiça). Ele diz claramente para o juiz que tem um vídeo. O Francinei diz que tinha 34 vídeos e num desses vídeos um tem o Rosso. O juiz pergunta o que tem em comum nos vídeos. E ele responde: todo mundo recebendo (dinheiro) — disse Fraga ao GLOBO.

Fraga afirmou que viu o vídeo, mas não quis entrar em detalhes:

— Eu vi os vídeos, mas não quero entrar nessa questão. O Rogério (Rosso) é meu amigo. Não quero comentar — completou Fraga.

 

ROSSO DIZ QUE ACUSAÇÃO É “BAIXARIA”

Rosso negou a existência do vídeo e também que o fato tenha ocorrido. E disse que Durval negou em nota a existência dessas imagens que o envolvem.

— Fico muito triste que existe esse tipo de mentira, de baixo nível. Fico triste que, infelizmente, estão levando esse pleito nesse nível de baixaria. Envolvendo, inclusive, a minha esposa, que é uma pessoa maravilhosa. É muito lastimável, muito triste tudo isso. O próprio colaborador da Justiça (Durval Barbosa) negou em nota. É uma baixaria do mais alto grau, por causa da presidência da uma Câmara dos Deputados. É um baixo nível — disse Rosso.

A mulher de Rosso, Karina, apareceria num dos vídeos, o que ele nega. Os vídeos gravados por Durval flagraram o ex-governador José Roberto Arruda (na época no DEM) e outros políticos do DF recebendo dinheiro ilegal. Arruda chegou a ser preso.