Temer quer reduzir prefeituras do PT

 
29/07/2016
Carla Araújo
Tânia Monteiro

 

Decidido a ficar fora dos palanques nas eleições de outubro para não comprometer a governabilidade, o presidente em exercício Michel Temer tem trabalhado nos bastidores e por meio de interlocutores para realizar um mapeamento das preferências e prioridades de cada partido em relação à disputa eleitoral.

A ideia é tentar evitar que possíveis rivalidades municipais comprometam a base aliada no Congresso.

Após mapear as prioridades dos aliados, o Palácio do Planalto pretende escalar ministros e interlocutores com perfil mais político para fazer uma espécie de coordenação e dar prioridade às candidaturas de acordo com o interesse dos partidos. A meta do Planalto é eleger o maior número possível de prefeitos e vereadores de partidos aliados, reduzindo, assim, a área de atuação do PT e da oposição.

Apesar de ainda ser presidente licenciado do PMDB, aliados dizem que Temer tem adotado um discurso “acima do partido” e deve trabalhar pelas legendas da base. Na avaliação de pessoas próximas ao presidente em exercício, uma eventual vitória eleitoral sobre a oposição poderia ajudar o governo na medida em que deixaria o PT ainda mais fragilizado.

Em suas agendas recentes no Planalto, Temer tem dito que não subirá em palanque no primeiro turno. No segundo turno, no entanto, caso não tenha mais de um candidato da base na disputa, pode considerar a importância de sua participação para derrotar a oposição.

 

Estratégia. Anteontem, em jantar com a cúpula do DEM, o assunto foi levado à mesa pelo líder do partido na Câmara, Pauderney Avelino. Segundo relatou, Temer negou a possibilidade de interferência após ser questionado sobre qual comportamento, . “Ele disse que não vai se meter, foi bem direto na resposta. Ele sabe que vai ter dois ou três aliados na disputa e disse que não quer criar rachas na base.” O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), que esteve no jantar no Jaburu, disse que a prioridade de Temer neste momento é outra. “Ele não vai se meter, seria mexer na estabilidade da base. Ele não fará isso”, afirmou.

Outro deputado que esteve com Temer nesta semana observou que, apesar da intenção do presidente em exercício de construir consensos para evitar rachas, os acordos pré-eleitorais não costumam dar certo. Segundo esse parlamentar, as conversas no Congresso são deixadas para trás após a “guerra eleitoral” e sempre há fissuras para serem costuradas.

 

São Paulo. A eleição na capital paulista é o principal foco do Planalto e de Temer. Além de ser o maior colégio eleitoral, o presidente em exercício considera fundamental derrotar o prefeito Fernando Haddad, do PT, partido da presidente afastada Dilma Rousseff.

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), foi um dos que estiveram com Temer anteontem no Planalto. Após a conversa, que oficialmente teve como tema a reforma política, o tucano minimizou o anúncio da chapa do ex-tucano Andrea Matarazzo (PSD) como vice de Marta Suplicy (PMDB) e afirmou que os candidatos do PSDB são aqueles consagrados nas convenções do partido. “Em São Paulo, nosso candidato é o João Doria e a partir de agora os adversários do PSDB não estão dentro do partido”, disse Aécio.

 

Fora

“Ele (Michel Temer) não vai se meter (nas eleições de outubro), seria mexer na estabilidade da base. Ele não fará isso. ”

José Agripino Maia (DEM-RN)

SENADOR E PRESIDENTE DO PARTIDO APÓS JANTAR NO JABURU

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Para Marina, caixa 2 ainda ‘fragiliza’ governo

 

29/07/2016
Pedro Venceslau
André Ítalo

 

Ao participar da convenção que lançou ontem o vereador Ricardo Young como candidato à Prefeitura de São Paulo pela Rede, a ex-ministra Marina Silva voltou a defender a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a realização de novas eleições.

A corte acolheu uma ação do PSDB que acusa a dupla de abuso do poder econômico e político na eleição de 2014. O julgamento não tem data para ocorrer.

“Da mesma forma que o PT tem várias de suas lideranças investigadas na Lava Jato, o PMDB também tem. As informações que estão vindo à tona demonstrando que houve dinheiro de caixa 2 na campanha que elegeu a chapa Dilma-Temer continuam colocando a necessidade de que o TSE faça o julgamento. Como se pode sustentar uma chapa que foi eleita com recursos de uma base criminosa? Essa questão continua fragilizando o governo”, disse.

Apesar de manter a defesa da realização de novas eleições, Marina elogiou a equipe econômica do presidente em exercício Michel Temer. “Antes tínhamos um carro com combustível adulterado e o motorista dirigindo em alta velocidade para o abismo. Agora temos um carro igualmente com combustível adulterado, mas com uma equipe de motoristas competentes ziguezagueando na crise.” Sobre a política de alianças da Rede nas eleições municipais, a ex-ministra pontuou que o critério não é “puramente partidário” e minimizou a parceria com o PSC, partido dos deputados Jair Bolsonaro (RJ) e Marco Feliciano (SP), em Guarulhos, na Grande São Paulo. A parceria foi criticada por militantes da juventude da legenda.

“A Rede tem uma resolução de que nós não participaremos de qualquer política de alianças com figuras que são contra a democracia ou propagandeiem formas preconceituosas”, disse Marina. A Rede lançará candidatos a prefeito em 12 capitais e a vice em seis. Em Curitiba, por exemplo, a legenda apoiará o peemedebista Maurício Requião, filho do senador Roberto Requião (PMDB-PR). Em Porto Alegre, a legenda deve apoiar Luciana Genro, do PSOL.

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Campanha será ‘franciscana’, afirma Aécio

 

29/07/2016
Leonardo Augusto

 

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou ontem, em Belo Horizonte, que o Fundo Partidário não será suficiente para as despesas das legendas nas campanhas para as eleições deste ano e que, com isso, os gastos terão de ser “franciscanos”.

Aécio participou da convenção municipal do PSDB que anunciou o deputado estadual João Leite como candidato à prefeitura da capital mineira.

Conforme o senador, a disputa eleitoral, com novas regras que impedem, por exemplo, doações de empresas, terá de ser na “sola do sapato”. “Vai ser uma grande novidade em todo o Brasil. Temos conversado muito em Brasília. É preciso que todos os candidatos saibam que essa eleição será absolutamente diferente.” Para Aécio, “será uma campanha franciscana em que a sola do sapato terá um valor muito mais relevante que em outras vezes”. “Vamos aprender com essa campanha. O Fundo Partidário será um apoio aos candidatos, mas não será suficiente. Os candidatos vão ter que buscar contribuições pessoais, dentro do que determina a lei”, disse.

O tucano amenizou o fracasso nas negociações com o prefeito Marcio Lacerda (PSB), que lançou Paulo Brant (PSB) na disputa.

Aécio e Lacerda estiveram juntos nas duas últimas eleições municipais. “(Lacerda) optou por outro caminho e nós respeitamos”, afirmou.

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Ministério da Saúde demite 73 de cargos comissionados

 

29/07/2016
Ricardo Brito
Tânia Monteiro
Clarissa Thomé
Fabiana Cambricoli

 

Dois dias após o Ministério da Cultura exonerar 81 comissionados de secretarias e instituições, ontem foi a vez de o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), demitir 73 ocupantes de cargos em comissão de áreas estratégicas da pasta.

O expurgo segue orientação do Palácio do Planalto, que tem feito um mapa dos cargos de livre nomeação a fim de “desaparelhar” a máquina da gestão petista, mesmo sem o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff. Outras pastas deverão ser alvo de cortes.

A lista de demissões publicada no Diário Oficial da União envolve, conforme levantamento do Estado, 23 coordenadores gerais de áreas de programas e departamentos do ministério e do próprio gabinete de Barros.

O ministro exonerou coordenadores- gerais de Ações Estratégicas em DST, Aids e Hepatites Virais e de Auditoria do Departamento Nacional de Auditoria do SUS. Este último órgão, responsável por auditar e fiscalizar os serviços do SUS, tem sido alvo de uma “limpa” desde que Barros assumiu.

Após Cultura e Saúde, o próximo alvo de cortes no governo será o Ministério da Educação, reduto do PT desde Lula.

Ao Estado, Barros afirmou que os cortes atendem à demanda de redução de cargos comissionados.

Defendeu a necessidade de desfazer o “aparelhamento” do Estado e afirmou, sem dar prazos, que os demitidos poderão ser readmitidos após uma reavaliação. “Servidores de carreira são muito qualificados e assumirão esse trabalho (no lugar dos demitidos), afirmou o ministro.

 

‘Paralisia’. Ex-ministro da Saúde de Lula, o líder do PT no Senado Humberto Costa (PE) disse estar preocupado com eventual paralisia das ações da pasta, em especial na área de auditoria.

“Essa área é mais preocupante ainda, porque desmonta um setor que tem um papel importante na fiscalização dos recursos.” Para Marília Louvison, diretora da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, as exonerações em massa podem colocar em risco a continuidade de políticas da pasta. “Já estamos em um momento de subfinanciamento do SUS, com algumas falas do ministro indicando que ele pretende redimensionar o sistema público e privilegiar planos de saúde.”

 

Nomeações. No mesmo dia das demissões na Saúde, o presidente em exercício, Michel Temer, nomeou indicados de deputados do Centrão para cargos no governo. Foi a segunda leva de nomeações para o segundo e terceiro escalões feita nesta semana, como um aceno para parlamentares do grupo.

Entre os nomeados está Juarez Silveira, que assumirá diretoria no Incra. Ele é ligado ao deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SDSP)./ RICARDO BRITO, TÂNIA MONTEIRO, CLARISSA THOMÉ e FABIANA CAMBRICOLI

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Defesa de Dilma entrega alegações finais ao Senado

 

29/07/2016
Isabela Bonfim

 

A defesa da presidente afastada Dilma Rousseff entregou ontem as alegações finais do processo de impeachment. Em um documento de 536 páginas, a palavra “golpe” é repetida 89 vezes. Apesar do caráter técnico com que discute o mérito do processo, a defesa reforça a questão política e afirma que Dilma sofre um processo antidemocrático. “É possível um impeachment presidencial ser um golpe de Estado? Sim, é possível, responderão as páginas deste processo. Demonstrarão para os cidadãos de hoje e para a história, independentemente do seu resultado, que é possível sim.

Basta que pessoas que temem as urnas se unam com pessoas que perderam nas urnas”, diz o texto.

Uma parte do documento é dedicada à tese do desvio de poder, que defende que o processo está em curso por interesses pessoais de atores políticos. A defesa menciona a atuação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com a entrega das alegações finais, começa a contar o prazo para que o relator do processo, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), entregue seu parecer. / ISABELA BONFIM

 

O Estado de São Paulo, n. 44845, 29/07/2016. Política, p. A8