Valor econômico, v. 17, n. 4051, 20/07/2016. Política, p. A6

PT VOLTA ÀS ORIGENS NAS ELEIÇÕES DESTE ANO

Por: Fernando Taquari

Por Fernando Taquari | De São Paulo

 

Diante de sua pior crise em 36 anos de história, o PT tenta aproveitar as eleições deste ano para marcar posição e preparar uma volta às origens. O partido retoma a estratégia de alianças prioritárias com a esquerda nos grandes municípios e o lançamento do maior número possível de candidaturas próprias, o que era usual até chegar ao poder. Nas capitais, a sigla vai encabeçar a chapa em 20 cidades. Trata-se do maior número desde 2004, quando os petistas tiveram 23 candidatos.

A ideia do partido é usar a sucessão municipal como uma oportunidade para renovar quadros. Dos 20 nomes que concorrerão nas capitais, 11 disputarão cargo executivo pela primeira vez. É o caso do deputado estadual Tadeu Veneri, pré-candidato petista em Curitiba (PR). Em seu quarto mandato na Assembleia Legislativa, o parlamentar estreia em uma eleição majoritária com a missão de defender a honra do partido na terra da Lava-Jato.

"O PT precisa aproveitar o momento para fazer uma renovação dos quadros e reencontrar-se com suas teses", diz Veneri, que critica a postura dos correligionários no passado de se aliar ao PMDB e outras legendas com pouca identificação com o partido. "Isso é ruim para todos. Não ajuda o eleitor a notar as distinções partidárias", acrescenta o deputado, que antes de assumir uma cadeira na Assembleia, em 2002, foi vereador por dois mandatos.

Em avaliações internas, a cúpula petista teme uma derrota acachapante em 2016 por conta dos escândalos de corrupção que envolvem o partido e o desgaste oriundo do governo Dilma Rousseff. Dirigentes entendem que a única saída é ir para o enfrentamento. "Estamos em um processo de renovação. São nomes novos para eleições majoritárias, mas a maioria tem experiência política, são deputados ou vereadores", afirma Florisvaldo de Souza, secretário de organização do PT.

Com o aumento de candidaturas petistas nas capitais em comparação com eleições anteriores, a legenda terá uma plataforma para fazer a defesa do legado dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff em uma estratégia que tem o objetivo de fortalecer o PT para a corrida presidencial de 2018. Outra razão para o crescimento de candidatos petistas se deve ao isolamento da sigla depois do impeachment.

O afastamento de Dilma livrou o partido de obrigações com legendas que eram aliadas na esfera federal em eleições anteriores, como PMDB, PSB e PR. A fim de manter a coalizão no Congresso, o próprio Lula chegou a pedir aos correligionários que abrissem mão da cabeça de chapa em favor de aliados, como Eduardo Paes (PMDB) no Rio, em 2012, e Iris Rezende (PMDB) em Goiânia, em 2008. Neste ano, o PT cedeu nas capitais apenas para PCdoB, PDT e PTB.

Filiado ao PT desde 1988, Veneri acredita que a reorganização da sigla será positiva à medida que as coligações vão deixar de ser feitas "de forma pragmática e vão passar a ser articuladas de maneira programática". O pré-candidato petista, no entanto, reconhece a dificuldade da eleição em Curitiba em meio às investigações da Lava-Jato. Segundo ele, a operação contamina o debate político. "As pessoas aqui estão mais sensíveis. A Lava-Jato é quase como um seriado da Netflix. Cada semana se espera um episódio novo", afirma Veneri, que aparece na quinta colocação em pesquisa do Ibope realizada em julho.

O PT também concorrerá em capitais em que não tem tanta tradição. Em seu segundo mandato consecutivo como deputado estadual, José Ricardo Wendling será apenas o terceiro candidato petista a prefeito de Manaus (AM) desde 1988. "Há um anseio de mudança na cidade. Minha candidatura é fruto de um consenso da militância", afirma o parlamentar, que depois de três eleições como suplente, para vereador e deputado estadual entre 1996 e 2002, conseguiu chegar à Câmara Municipal em 2004, reelegendo-se em 2008.

Além de novatos, o PT também aposta em velhos conhecidos. Além dos dois candidatos à reeleição - Fernando Haddad em São Paulo e Marcus Alexandre em Rio Branco (AC) - a lista nas capitais inclui quatro ex-prefeitos. Não por acaso, dois deles, João Paulo no Recife (PE) e Raul Pont em Porto Alegre (RS), aparecem como os únicos postulantes petistas bem cotados nas pesquisas.

De acordo com levantamento do Instituto Ipespe, feito em junho, João Paulo está em situação de empate técnico com o prefeito recifense, Geraldo Julio (PSB). Já Pont, em pesquisa realizada pelo Instituto Methodus, em julho, está em segundo lugar. Em outras cidades, os petistas pouco ameaçam a liderança dos concorrentes.

Na capital paulista, Haddad está na quarta colocação, conforme o Datafolha. Pré-candidata em Goiânia (GO), a deputada estadual Adriana Accorsi aparece em terceiro, segundo o Instituto Serpes, de junho. O recall da corrida municipal de 2012 tampouco foi suficiente para alavancar a candidatura do deputado estadual Fernando Mineiro em Natal (RN). "Somos especialistas em derrotar os institutos de pesquisa. Faremos isso novamente em 2016", diz Florisvaldo.

Em algumas capitais, como Fortaleza (CE), o partido ainda enfrenta um cenário de disputa interna. A deputado federal Luizianne Lins, que governou a capital cearense entre 2005 e 2012, entra na corrida municipal com o PT dividido. "Vou sair candidata sem o apoio do grupo do governador [Camilo Santana]. Achei que já tinha cumprido essa missão com mudanças profundas que promovi na cidade. Mas houve uma pressão da base do PT para que eu fosse candidata", conta. Santana vai apoiar informalmente o prefeito Roberto Cláudio (PDT).