Valor econômico, v. 17, n. 4052, 21/07/2016. Finanças, p. C3

COPOM MANTÉM SELIC E AFASTA CORTE DE JUROS NO CURTO PRAZO

Por: Eduardo Campos, Silvia Rosa e Lucinda Pinto

Por Eduardo Campos, Silvia Rosa e Lucinda Pinto | De Brasília e São Paulo

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) confirmou as expectativas do mercado e manteve a taxa Selic em 14,25% ao ano na primeira reunião da nova diretoria comandada pelo presidente Ilan Goldfajn. Mas surpreendeu positivamente os analistas ao apresentar um comunicado mais amplo, carregado de informações que antes eram conhecidas apenas na ata. No texto - divulgado pouco depois das 18 horas -, o BC reconhece uma melhora nas expectativas de inflação, mas alerta que o balanço de riscos não permite ainda um corte de juros no curto prazo - leitura que pode tornar o mercado mais cauteloso em suas apostas para o rumo da política monetária.

No balanço de riscos, o BC aponta que os ajustes na economia podem ser implementados de forma mais célere, permitindo ganhos de confiança e reduzindo as expectativas de inflação. E que o nível de ociosidade na economia pode produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do Copom.

Do lado das incertezas, o comitê aponta que a inflação acima do esperado no curto prazo, em boa medida decorrente de preços de alimentos, pode se mostrar persistente. Que permanecem incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia. E que um período prolongado com inflação alta e com expectativas acima da meta pode reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação.

Para o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, o saldo dessa análise sugere que o mais provável é que o ciclo de alívio monetário ocorra somente a partir de novembro. "Mas, dada a evolução positiva de algumas variáveis, como o câmbio, o corte pode vir antes, em outubro." Ele observa que, em agosto, os alimentos vão ceder e isso fará o IPCA cair mais rapidamente. Mas é preciso esperar a resposta das projeções futuras. "É um BC que dá mais atenção para as expectativas que caíram, mas ainda estão em 5,3%", explica. No Relatório de Inflação, essa estimativa estava em 5,5%.

Embora a decisão do comitê tenha vindo em linha com o esperado pelo mercado, o comunicado deve provocar um ajuste nas apostas no mercado futuro de juros. "O mercado, que trabalha com probabilidades, considerava a chance de um corte já na próxima reunião. Isso vai diminuir muito, porque esse comunicado será visto como mais conservador'", afirma o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves Melo, para quem o BC reforçou a ideia de que um alívio monetário deve ser esperado para novembro.

Essa correção das apostas, na visão do sócio e gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella, deve se traduzir em uma alta das taxas de juros futuros de curto prazo, que carregavam ainda alguma chance de redução em agosto, e queda das mais longas - que reagem à reafirmação do BC em buscar a meta em 2017, juntamente com o cenário externo mais positivo para busca de ativos de risco e a expectativa de avanço da agenda fiscal após a conclusão do impeachment, previsto para agosto.

Portella também acredita que, com os riscos listados no comunicado, não haverá espaço para o BC cortar a taxa básica de juros na próxima reunião de agosto, com o início do afrouxamento monetário sendo mais provável no mês de outubro.

O economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, mantém a projeção de corte de 0,5 ponto da Selic em novembro se, até lá, o hiato do produto e o ajuste fiscal ajudarem na convergência das expectativas. "Antes disso, acho que é muito difícil o BC cortar dada a distância da inflação da meta", diz.

Para o economista-chefe da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio, José Marcio Camargo, o comunicado indica que as expectativas de inflação se tornaram mais importantes do que antes na definição da política monetária. Isso significa que, com pouca chance de as projeções estarem na meta no próximo encontro do comitê, marcado para agosto, o ciclo de alívio monetário deve ocorrer apenas a partir de outubro.

Para alguns economistas, no entanto, a desaceleração da inflação corrente e continuidade da queda das expectativas de inflação podem abrir espaço para o BC antecipar o corte de juros para agosto. "Antes o cenário alternativo para o início de corte de juros era novembro, com o mercado vendo chance maior de isso acontecer em outubro. Agora acho que o cenário alternativo passa a ser agosto", diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Essa visão é sustentada, segundo ela, pela tendência de queda dos preços livres e das expectativas de inflação, e de uma melhora dos preços dos alimentos.

O economista-chefe do Santander, Maurício Molan, também vê a possibilidade da a inflação dos alimentos começar a ceder, sobretudo em função da valorização recente do câmbio, o que pode abrir espaço para o BC cortar a taxa básica Selic em 0,50 ponto em agosto.

A mudança no padrão do comunicado divulgado pelo Banco Central após o encontro, que se aproxima mais da prática de outros bancos centrais, inclusive do Fed, agradou analistas. "O comunicado sucinto adotado antes não é o padrão dos bancos centrais sérios", diz Weeks, da Garde. "Era comum o comunicado sinalizar uma coisa e a ata corrigir essa leitura", observa. Para Molan, a mudança no conteúdo do comunicado do Copom, muito mais detalhado do que costumava ser, é positiva e ajuda a reduzir as incertezas no mercado. "As informações mais importantes já são delineadas no comunicado, e isso é bom para a credibilidade e para a comunicação do BC", diz.

Essa foi a oitava manutenção consecutiva da taxa, período mais longo de estabilidade desde a introdução do regime de metas em 1999. O atual ciclo de aperto começou em abril de 2013, com o juro básico saindo de 7,25% ao ano. A taxa está em 14,25% desde setembro de 2015.