Crédito imobiliário com recursos da poupança cai 49,5%

Aline Bronzati e Circe Bonatelli

27/07/2016

 

 

Resultado do primeiro semestre faz setor rever projeção para o ano, que deve voltar para os níveis de 2010.

De janeiro a junho, os financiamentos imobiliários com recursos da poupança (SBPE) despencaram 49,5%, para R$ 22,6 bilhões, na comparação com o mesmo intervalo do ano passado, segundo dados divulgados ontem pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Diante desse desempenho, a entidade teve de rever para baixo suas projeções para o ano. A expectativa da Abecip é de que o crédito via poupança para o segmento alcance R$ 50 bilhões (queda de 34% ante 2015), e não mais R$ 60 bilhões, como era previsto inicialmente. Cairá, assim, aos patamares de 2010, quando o setor concedeu R$ 56 bilhões em crédito.

“Não imaginávamos que o primeiro semestre seria tão duro como foi. Tivemos pressão de custo e da crise política e econômica muito maior que a expectativa inicial”, explicou Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Abecip e diretor executivo de Negócios Imobiliários do Santander. O setor imobiliário chegou, na visão do especialista, ao “fundo do poço e deve ressurgir no próximo ano”.

No setor de construção, que também compartilha de um tom mais otimista, a expectativa é de que os lançamentos e as vendas de imóveis atinjam estabilidade e, na melhor das hipóteses, apresentem leve crescimento no segundo semestre.

As condições macroeconômicas mais duras, como reflexo das crises política e econômica no País, e a falta de confiança do consumidor para se endividar no longo prazo fizeram com que o crédito imobiliário tivesse desempenho aquém do esperado na primeira metade do ano, empurrando a retomada do mercado para 2017.

Distratos. Em meio à questão do crédito, pesa uma elevada quantidade de distratos que tem pressionado o setor. Está hoje em mais de 17% das unidades vendidas na planta há dois anos, conforme incorporadoras. Cristiane Magalhães, diretora de crédito imobiliário e consórcios do Itaú Unibanco, chama a atenção para a necessidade de regulamentar os direitos e deveres de todas as partes envolvidas na venda de um imóvel. “A crise foi um teste para que o setor passe a regular melhor o processo de venda”, atenta ela.

Apesar do problema dos distratos ainda não ter sido equacionado, tanto quem financia como quem vende está ancorado na melhora da confiança dos consumidores e na expectativa da queda da inflação e dos juros, que tende a trazer dinheiro mais barato para o segmento.

“A confiança dos consumidores hoje é maior do que a de um mês atrás. Se as coisas continuarem andando bem, conseguiremos certa estabilidade nas operações e até o início de uma curva de subida”, diz Celso Petrucci, economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo.

Gargalo

17% das unidades vendidas há dois anos sofreram distrato; esses processos aumentaram muito por conta da escassez de crédito, resultado da conjuntura econômica e política atual.