PT diverge sobre uso de tese do ‘golpe’ nas eleições

 

28/07/2016
Vira Rosa

 

A estratégia de “nacionalizar” a campanha municipal já divide o PT. Às vésperas da votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, dirigentes do partido e candidatos mostram divergências sobre a eficácia de repetir a narrativa do “golpe” nas disputas pelas prefeituras. Além disso, com a expectativa de um cenário adverso para o PT, candidatos avaliam a conveniência de ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palanque e muitos preferem que Dilma fique distante.

Ao contrário da eleição de 2012, por exemplo, Lula não terá papel preponderante na campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que concorrerá ao segundo mandato com alto índice de rejeição. Embora não seja réu, o ex-presidente é alvo da Lava Jato e perdeu grande parte do capital político.

Dilma disse ontem, em entrevista, estar disposta a participar das eleições municipais, “se for convidada”, apoiando candidatos “da grande base progressista”.

Nos bastidores, porém, a equipe de Haddad prefere que ela não apareça em São Paulo.

A ideia é vestir no prefeito o figurino do homem preparado para fazer “mais e melhor”. Auxiliares de Haddad estão convencidos de que as crises envolvendo o PT, Lula e o governo Dilma ofuscaram o trabalho dele.

Haddad é um dos que mais se opõem à ideia de “nacionalizar” a campanha, defendida por candidatos no Nordeste.

“Mas qual o motivo para não mostrar a Dilma?”, perguntou o secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza. “Não temos como fugir dessa nacionalização, embora o que esteja em jogo sejam as propostas para melhorar a vida das pessoas.”

 

Comunicação. A ordem da cúpula petista é aproveitar a propaganda no rádio e na TV – que começa em 26 de agosto, quando a votação do afastamento definitivo de Dilma deve ter início no Senado – para também jogar luz sobre experiências bem-sucedidas nos quase 14 anos do PT no Palácio do Planalto.

Haddad, no entanto, acha que pecou na divulgação de suas ações e precisa mostrar o que fez, descolando-se dos malfeitos do PT. “É um erro grave a estratégia de ‘nacionalizar’ a disputa. Nesse caso, o eleitor sempre vota em função dos temas da cidade”, argumentou o cientista político Aldo Fornazieri, diretor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e colaborador do programa de governo petista, em 2012. “Além disso, quem tem de se defender de denúncias é o PT, e não o candidato.” Na prática, a eleição em São Paulo, considerada a “joia da coroa”, é vista como a antessala da briga presidencial de 2018. Os maiores adversários de Haddad, hoje, são Celso Russomanno (PRB), Marta Suplicy (PMDB) e João Doria (PSDB).

 

Nordeste. Na outra ponta, o Nordeste, antigo reduto do PT, ainda exibe o maior índice de apoio a Dilma e Lula, o que faz muita diferença na definição do discurso de campanha. Na região, candidatos do PT querem associar o possível impeachment ao corte de programas sociais, apresentando-se como os nomes capazes de reverter a perda dos benefícios nas cidades.

A maior aposta do PT no Nordeste é a candidatura de João Paulo à prefeitura do Recife. Quatro anos após a debacle que se abateu sobre o partido na capital pernambucana – quando o então governador Eduardo Campos, morto em 2014, emplacou seu afilhado Geraldo Júlio (PSB) na prefeitura –, João Paulo aparece bem posicionado nas pesquisas.

“Se o PT souber capitalizar essa ideia do golpe nas eleições municipais, poderemos vencer a batalha, principalmente no Nordeste”, afirmou o deputado federal José Guimarães (CE), ex-líder do governo Dilma e um dos vice-presidentes do PT. “A ‘nacionalização’ ajuda muito no Nordeste e no Rio, mas em São Paulo admito que o terreno é mais hostil”, emendou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

 

O PARTIDO NA DISPUTA

● Aliança PT-PMDB

Embora não haja veto à dobradinha com o PMDB de Temer, até agora a única capital onde os antigos aliados estarão juntos será Aracaju. Lá, porém, o candidato a prefeito será do PCdoB.

635 é o número de prefeitos que o PT elegeu em 2012, sendo 187 no Nordeste

 

 

● Nordeste

O único prefeito de capital que o PT tinha no Nordeste era Luciano Cartaxo, que administra João Pessoa (PB). Cartaxo deixou o partido no ano passado. Ele citou, entre os motivos que o levaram a trocar o PT pelo PSD, a crise nacional e “escândalos políticos” envolvendo a sigla

3 capitais, atualmente, são administradas pelo PT (São Paulo, Goiânia e Rio Branco)

 

● Capitais

Nas eleições deste ano, o PT deve lançar candidatos próprios às prefeituras de pelo menos 20 das 26 capitais do País. No Rio de Janeiro, em Salvador, em Aracaju, em São Luís, em Cuiabá e em Teresina, por exemplo, o partido pretende apoiar candidatos de outras legendas – entre elas PCdoB, PDT e PTB.

530 é o total de prefeitos do PT atualmente, após debandada

 

● Recife

Na região Nordeste, a maior aposta do PT nas eleições deste ano está na candidatura de João Paulo, que vai disputar a prefeitura da capital pernambucana. Ele já foi prefeito do Recife em dois períodos – de 2001 a 2004 e de 2005 a 2008. Foi o primeiro prefeito a ser reeleito na cidade. Em 2014, disputou uma vaga ao Senado e perdeu.

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Discordâncias atrasam Carta aos Brasileiros

 

28/07/2016
Vera Rosa

 

A presidente afastada Dilma Rousseff ainda não divulgou a prometida Carta aos Brasileiros porque seus apoiadores divergem sobre o tom da mensagem.

A avaliação é de que, se houver chance de derrotar o impeachment, Dilma acenará para a manutenção da equipe econômica de Michel Temer. Caso o afastamento seja considerado “favas contadas”, porém, o documento trará apenas diretrizes à esquerda.

A segunda alternativa é, hoje, a mais provável. Até mesmo no PT os comentários são de que “só um milagre” fará Dilma reassumir a Presidência. No julgamento final, previsto para o fim de agosto, ela precisará de ao menos 28 votos para voltar ao Planalto. Em 12 de maio, 22 dos 81 senadores foram contra a admissibilidade do impeachment.

Até agora, no entanto, o grupo que apoia Dilma não conseguiu virar votos e muitos no Senado dizem que ela corre o risco de perder alguns. Um dos assediados é o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que era do PT e foi ministro da Educação (2003-2004), demitido por telefone pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Cristovam votou a favor do impeachment, mas tem dado sinais contraditórios sobre o que pretende fazer no julgamento definitivo. Ele é um dos que defendem a permanência de Henrique Meirelles na Fazenda. O ministro de Temer foi recentemente elogiado por Dilma.

A Carta aos Brasileiros – ou à Nação – foi planejada há dois meses para ser uma espécie de “programa da volta” de Dilma.

Divergências sobre seu conteúdo, porém, atrasaram a divulgação e até hoje não se sabe se Dilma vai respaldar a proposta de plebiscito para antecipar as eleições presidenciais. “Ninguém da Executiva do PT conhece essa carta, que deveria ser discutida conosco”, disse o secretário de Formação Política do partido, Carlos Henrique Árabe.

Divisão. Nos bastidores, o PT também vive o conflito entre os que querem começar a construir o “pós-Dilma” sem virar totalmente as costas para o Planalto e os que pregam oposição radical a Temer. “Esse jogo de aceitação do golpe é o que pode dividir o PT”, disse Árabe. “Duvido que a parte do PT que deseja se conciliar com Temer deixe isso claro. Tentará esconder, apesar de ter votado em Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara.” / V.R.

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Erundina quer governar com PT

 

28/07/2016

 

A deputada federal e candidata à Prefeitura pelo PSOL, Luiza Erundina, fez ontem uma série de críticas ao PT – partido que ajudou a fundar e pelo qual governou a capital paulista, entre 1989 e 1992 –, mas disse que terá petistas em seu governo, caso seja eleita.

“Quero ter petistas comigo, pois muitos continuam votando (em mim) e são amigos meus”, afirmou a candidata em sabatina realizada pelo UOL, Folha de S.Paulo e SBT. Ela disse que, se eleita, fará uma auditoria nas contas da Prefeitura e revisará concessões no transporte público.

Erundina concede entrevista à Rádio Estadão e à TV Estadão hoje, a partir das 13 horas, com transmissão ao vivo pelo estadao. com.br e pelo Facebook.

 

O Estado de São Paulo, n. 44844, 28/07/2016. Política, p. A4