Marqueteiros dizem que foram pagos por caixa 2 de Dilma

Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fausto Macedo

22/07/2016

 

 

Ao juiz Sérgio Moro, casal admite que mentiu sobre origem de dinheiro e alega que US$ 4,5 mi se referem à campanha de 2010.

O publicitário João Santana e sua mulher e sócia, a empresária Mônica Moura, alegaram ontem que US$4,5 milhões recebidos em uma conta na Suíça foram pagos por meio de caixa 2 da campanha de Dilma Rousseff em 2010. O casal foi interrogado em Curitiba pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato.

Santana foi o marqueteiro das campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma entre 2006 e 2014. Ele e sua mulher estão presos desde fevereiro e respondem a ação penal acusados de receber propina do esquema de desvios de dinheiro da Petrobrás. No depoimento a Moro, Mônica disse estar disposta a colaborar com a Justiça, mas só o fará após assinar acordo de delação premiada.

O casal admitiu ter mentido em um primeiro depoimento, em fevereiro deste ano, ao apontar que o dinheiro viera de serviços prestados a campanhas eleitorais no exterior.

Conforme disseram ontem a Moro, o valor referente à campanha de Dilma de 2010 foi repassado apenas três anos depois, para uma conta ligada à offshore Shellbill Finance, que não era declarada por eles às autoridades brasileiras. Segundo Mônica, o depósito foi feito por meio do doleiro Zwi Skornicki, uma indicação do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, também preso na Lava Jato.

Skornicki é apontado pela Lava Jato como operador de propinas da Petrobrás. Ele fechou acordo de delação premiada no processo e também prestou depoimento ontem.

Na audiência, Mônica afirmou não saber se o dinheiro estava relacionado ao pagamento de propina. “Nunca soubemos de mensalão, de propinas na Petrobrás.

Somos publicitários, nunca recebi propina, sempre recebi pelo meu trabalho. Não sou agente público, não sou política, não sou empreiteira. Sempre trabalhei para partidos políticos fazendo campanha”, disse Mônica. A versão foi confirmada pelo seu marido, que depôs separadamente.

Questionado sobre a razão de o pagamento referente à campanha de 2010 ocorrer apenas em 2013 e de forma parcelada, Santana afirmou que atrasos são recorrentes na área de marketing eleitoral. “Não tivemos sorte, nem nenhum outro marqueteiro de receber por antecipação”, disse o marqueteiro. Segundo ele, há uma “cultura generalizada de caixa 2”, pois, acrescenta, as relações dos empresários com partidos e governos sempre ocorreram “buscando caminhos extralegais”, não só no Brasil, mas no mundo todo.

Defesas. Procurada, a presidente afastada não quis se manifestar. Em nota, o PT disse que todas as operações foram feitas dentro da legalidade. O advogado Luiz Flávio Borges D’urso, que defende Vaccari, afirmou que as acusações são de quem “está negociando delação.

E prova não será obtida porque isso não reflete a verdade”, declarou.

Doadores

“Os preços (das campanhas) são altos e eles (empresários) não querem estabelecer uma relação explícita entre os doadores de campanha.”

João Santana

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