Título: BC vai cortar juros de novo
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 15/10/2011, Economia, p. 16
Preocupado com o cenário global e o freio na economia interna, Banco Central pode diminuir a taxa em até 1 ponto na quarta-feira.
Analistas acreditam que a Selic pode cair para 8,75% em 2012
Encarregado pela presidente Dilma Rousseff de garantir o crescimento do país em 2011 e 2012, o Banco Central vai testar, ao extremo, o limite entre política monetária e inflação. Mesmo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caminhando para superar o teto da meta, de 6,5%, este ano e com a perspectiva ainda alta para o próximo, o BC optou pela ousadia: deu sinais claros de que vai continuar a cortar os juros básicos (Selic). Quem já acompanhou as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) de dentro garante que, quando a instituição inicia um ciclo de redução, só o encerra quando leva a taxa abaixo do nível em que ela estava quando a subida começou. Assim, a expectativa é de que a Selic termine 2012 em 9% ou em 8,75%, com o encargo chegando ao sonhado um dígito.
Às vésperas da reunião do Copom deste mês, que ocorre terça e quarta-feira, a maior parte dos economistas segue firme na aposta de que o BC irá cortar a Selic em 0,50 ponto percentual. Porém, alguns analistas discordam do consenso. É o caso de Zeina Latif, economista do Royal Bank of Scotland (RBS). Ela acredita que a deterioração do cenário internacional e os fortes sinais de contração da economia brasileira vão fazer o BC dobrar a cartada, reduzindo a Selic em um ponto percentual. “O risco vindo da Europa piorou e caminha para um cenário de retração. O desenho lá estimula vários calotes”, avalia.
Apostas Também para o Itaú Unibanco, esse quadro ruim estimula um corte mais intenso do que a maior parte do mercado espera. Entretanto, a projeção do banco é diferente da sustentada pelo RBS. “Esperamos aceleração dos cortes para 0,75 ponto percentual e que a Selic chegue a 9% em 2012”, afirmou Ilan Goldfajn, economista-chefe da instituição financeira. Segundo ele, esse ajuste pesado se justifica por uma atividade em passos muito lentos. “Sobram evidências de que a economia brasileira está em desaceleração. Se ela parece mais fraca, cai a confiança, adiam-se investimentos e modera-se o crescimento da renda. Assim, a desaceleração de hoje pesa sobre o crescimento dos próximos trimestres”, argumenta.
Esse estímulo monetário adicional, para alguns analistas, seria suficiente para evitar uma perda mais forte no Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas no país). Nos cálculos do Itaú Unibanco, garantiria um crescimento de 3,7% neste ano, valor ligeiramente superior à previsão do BC, de 3,5%, e próxima do que estima o ministro da Fazenda, Guido Mantega (4%). Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, esses números são otimistas demais. No cenário desenhado por ela, a autoridade monetária vai cortar os juros em 0,50 ponto percentual em outubro, mantendo o ritmo até dezembro de 2012, quando a taxa básica chegaria a 10%. Ainda assim, ela assegura que a expansão do PIB não passará de 3%.
Teste Luís Otávio de Sousa Leal, economista-chefe do Arab Banking Corporation (ABC Brasil) crê que a Selic cairá para 9%. “O BC está dando mais peso para o crescimento e tentando não comprometer a inflação. Ele está testando espaço para a queda de juros. Como, antes da crise, a taxa estava em 8,75%, vai tentar levar a Selic para um valor próximo disso”, imagina. “Apesar dos erros de comunicação da instituição e de algumas divergências, o BC efetivamente se antecipou melhor aos efeitos da crise quando surpreendeu e cortou a Selic em 0,50 ponto percentual.”
Na avaliação de Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, a Selic deve cair para algo próximo de 10%. Abaixo disso, ele alerta, seria perigoso, pois a inflação em 2012 vai estar bastante pressionada e pode fechar próxima de 6%, também acima do centro da meta (4,5%). “Muita coisa vai depender do preço das commodities (produtos básicos com cotação internacional, como itens agrícolas e minérios). Se ele cair, a inflação vai ficar alta, mas sob controle”, diz. Entre as instituições que estão apostando em Selic de 9% estão: Itaú Unibanco, Austin Rating, ABC Brasil, Prosper Corretora e Banco Fator.
Serviços atrapalham Na avaliação do Banco Santander, a persistência da inflação acima do teto da meta (6,5%) nos últimos meses se deve principalmente ao encarecimento dos serviços. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula 7,31% nos 12 meses encerrados em setembro, o maior nível nesse tipo de comparação desde os 8,05% registrados em maio de 2005. No ano, o indicador oficial está em 4,97%, já acima do centro da meta (4,5%), abandonada pelo Banco Central. O presidente do BC, Alexandre Tombini, continua a afirmar que o IPCA vai convergir para a meta em 2012, apesar dos sinais de piora apontados pelos analistas.